A grande inovação na era digital não tem gigabytes nem se faz com milhões de reais, mas com um dos sentidos básicos do homem. No mundo em rede, é preciso aprender a ouvir, defende o jornalista e apresentador de televisão Marcelo Tas. "Nós, comunicadores, mas também as empresas e as escolas, passamos décadas só falando. Agora temos que aprender a ouvir. E isso é uma oportunidade enorme para trocar informações."
Tas fez na quarta-feira a mais concorrida palestra da 9.ª Feira de Gestão da FAE Centro Universitário, para mais de 1,2 mil pessoas, e participou do painel de comunicação sobre convergência de mídias. Com a sua foto antes do primeiro dia de aula, ilustrou as mudanças pelas quais o mundo tem passado e como elas têm transformado as relações humanas dentro e fora da rede mundial de computadores. "Quando eu ia para a escola, o meu professor era a única fonte de informação. O que ele dizia era verdade e ponto. Hoje, antes de chegar na escola, os alunos já tiveram contato com milhares de fontes", diz. "As redes sociais são um fenômeno que não está só no Twitter. Está nas empresas, nas escolas, nas famílias."
A principal mudança, diz Tas, é que as pessoas não esperam mais pelo conteúdo elas vão até ele, interagem, mudam e compartilham com outras pessoas. "A grande diferença é a interação". O novo indivíduo, diz a diretora de mídia da agência JWT, Anita Bardeli, é um "cocriador". "O consumidor não pode mais ser visto como um simples espectador. Ele precisa ser entendido, tratado e respeitado como um cocriador, alguém engajado na comunicação", defende a diretora. "O mundo sereno da comunicação acabou."
Para a diretora de comunicação da Oi, Flavia da Justa, essa nova realidade tornou a comunicação mais difícil para as marcas. "É muito mais complicado. Mas por isso também é muito mais gostoso e desafiador." Como o consumidor está sempre conectado, diz a diretora, é preciso que a marca também esteja sempre presente no que ela chama de "ecossistema de mídia". Ele convivem os canais próprios de comunicação da empresa (como eventos e websites), as mídias pagas e a comunicação "orgânica", onde se enquadram as mídias sociais. "Não há mais períodos sem comunicação. E, principalmente, você sai do tradicional para a esfera da experiência, da distribuição de conteúdo."
Nas redes
O diretor da Central Globo de Comunicação, Luís Erlanger, também participou do painel mostrando a experiência da emissora com as redes sociais. A Globo tem usado esses canais para promover novelas e minisséries e conversar com um público, diz Erlanger, que não é tradicionalmente telespectador desses programas. "Ninguém está mais interessado na plataforma, e sim no conteúdo, que precisa ser bom", defende.
Erlanger citou como exemplo os vídeos divulgados no YouTube seis meses antes da estreia da novela Caminho das Índias: eles traziam atores em situações ligadas à cultura indiana e foram vistos por mais de 120 mil pessoas em 15 dias. Em outra iniciativa, a Rede Globo recebeu mais de 6,5 mil vídeos caseiros para compor a sua campanha de fim de ano.
O diretor mostrou que a força dessas mídias está em iniciativas dos próprios internautas: a Globo tem mais de 14 mil citações no Twitter, mil comunidades no Orkut, 1080 blogs relacionados e mais de 68 mil vídeos no YouTube.