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Anaise intensificou, nos últimos anos, o hábito de consumir importados | Marcelo Elias/ Gazeta do Povo
Anaise intensificou, nos últimos anos, o hábito de consumir importados| Foto: Marcelo Elias/ Gazeta do Povo

Massas, molhos, azeite de oliva, vinhos, perfumes e cosméticos são importados que não podem faltar na casa da contadora Anaise Bonfanti. Comprando no Brasil ou encomendando a amigos que viajavam ao exterior, ela sempre consumiu produtos estrangeiros, mas passou a usá-los mais nos últimos anos. "Eles ficaram mais acessíveis aqui, tanto no preço quanto na disponibilidade", diz.

A maior quantidade de opções também é percebida por Isaura Dall Stella. "Hoje ficou bem mais fácil encontrar, há uma grande variedade à disposição do consumidor", diz Isaura, que na sexta-feira escolhia um vinho do Porto – presente para uma amiga – no Mercado Municipal de Curitiba.

Consumindo cada vez mais vinhos chilenos e azeites portugueses, mas também roupas, calçados, eletroeletrônicos e automóveis importados, os brasileiros fizeram os bens de consumo atingir em 2010 sua maior participação na pauta de importações desde 1998. Eles já respondem por 17% de tudo o que vem do exterior – fatia que, na série iniciada em 1989, só perde para os porcentuais observados nos quatro primeiros (e eufóricos) anos do Plano Real.

Desindustrialização

O barateamento dos importados faz a festa dos consumidores, mas incomoda muitas empresas. A reclamação principal é que a entrada massiva de mercadorias estrangeiras está tirando espaço – e emprego, e renda – da indústria nacional. Segundo essa tese, o país estaria passando por uma "desindustrialização". "Se não houvesse essa enxurrada de material importado, teríamos crescimento maior, gerando mais emprego. Não posso reclamar do desempenho de minha empresa, mas o nosso setor é, a olhos vistos, um setor em encolhimento", diz João Paulo Zanona, proprietário da Danka Bolsas, de Curitiba, fabricante de mochilas e pastas para notebooks.

Edgar Igaza, diretor do Sindicato da Indústria Metal-Mecânica do Paraná (Sindimetal), diz que, por causa do câmbio favorável à importação, as montadoras brasileiras têm trocado fornecedores nacionais por asiáticos. "O preço do produto da Ásia é extremamente competitivo. E estamos, sim, enfrentando um processo de desnacionalização da indústria de autopeças", diz.

Murilo Matta, gerente de suprimentos da Brose do Brasil, diz que o setor automotivo realmente está importando mais. Mas que tal expansão acompanha o próprio crescimento da produção e do mercado brasileiro de automóveis. "Não há troca de fornecedores, permanecemos comprando das mesmas fontes. Não trabalhamos com visão de curto prazo, e nossa estratégia de longo prazo permanece voltada à nacionalização de componentes", diz Matta. Fabricante de sistemas de portas e de acionamentos de vidros com unidade em São José dos Pinhais, a Brose compra 65% de seus componentes no Brasil e importa o restante.

Professor de Comércio Exterior da Faculdade de Ensino Superior do Paraná (Fesp), Alberto Posseti não vê como problema o aumento da importação. "A exportação não aumentou no mesmo nível das importações, mas também cresceu. Benefícios tributários como o ‘drawback’, que abate tributos de empresas exportadoras que importam parte dos insumos, ampliaram a cultura do comércio internacional. Com isso, as empresas estão comercializando mais com o exterior", justifica. "O Brasil não apenas está mais aberto ao comércio como sabe o que está fazendo."

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