Warren Buffett é o terceiro homem mais rico do mundo| Foto: David Williams/Bloomberg

O megainvestidor Warren Buffett, da Berkshire Hathaway, é um ícone das finanças. Começou nesse mundo quando tinha 11 anos. Hoje, aos 88, é o terceiro homem mais rico do mundo. A Forbes, uma das principais revistas americanas de negócios, estima sua fortuna em US$ 83,2 bilhões. No portfólio de seu grupo estão marcas conhecidas mundialmente como as baterias Duracell e o catchup Heinz. 

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 O “toque de Midas” de Buffett é reconhecido mundialmente. Entre 1965 e 2018, o valor de mercado de suas empresas cresceu 2.472.627%. No mesmo período, o S&P 500, um dos principais indicadores da Bolsa de Valores de Nova York, se valorizou 15.019% 

 Mas não é todo dia que os negócios dão certo para ele. Na semana passada, uma das gigantes do seu portfólio, a Kraft Heinz anunciou uma perda de US$ 15,4 bilhões no quarto trimestre. As ações da quinta maior empresa mundial do segmento de alimentos e bebidas despencaram 31% em Nova York, desde a quinta. Em São Paulo, onde as ações da empresa são negociadas na B3, os papéis caíram 28,8%. 

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 O que aconteceu de errado para o megainvestidor? Uma série de fatores explicam o tombo da Kraft Heinz: no curto prazo há os fracos resultados apresentados nos últimos trimestres, uma investigação na SEC - a CVM americana e o desaquecimento da maior economia mundial. Mas, estruturalmente, há uma mudança nos padrões de consumo que dificultam a vida das gigantes alimentícias, além da dificuldade da Kraft Heinz de fazer uma grande aquisição que ajude a expandir as margens de lucro. 

 Buffett não vai se dar por vencido. Em entrevista à rede de TV americana CNBC, disse que a Berkshire Hathaway não venderá nada dos 26,7% de participação na Kraft Heinz. “Não desistimos. Não é nosso estilo. Não tenho absolutamente nenhuma intenção de vender. 

 Ele teve um papel decisivo na criação do grupo. A Berkshire Hathaway se associou em 2013 com a firma de private equity 3G Capital, liderada pelo brasileiro Jorge Paulo Lemann, para comprar, em 2013, o icônico fabricante americano de catchups. Dois anos depois se fundiu com a Kraft. 

 A falta de uma grande aquisição 

Dois anos após a fusão, a Kraft Heinz tentou, sem sucesso, comprar a Unilever por US$ 143 bilhões em um acordo que lhe permitiria continuar a reduzir custos e melhorar as margens de lucro. A Kraft Heinz vem lutado para ampliar as vendas com um portfólio de marcas antigas. Agora, uma redução maciça em ativos, incluindo as marcas icônicas Oscar Mayer e Kraft, e perda de lucros impulsionado por custos maiores, levanta a questão sobre o sucesso da estratégia de corte de despesas, uma estratégia que tem suas raízes na 3G 

A 3G, com o apoio da Berkshire Hathaway Inc., de Buffett, é reconhecida por sua capacidade de reduzir margem de gastos, e levou a Heinz a cortar custos. O plano da Kraft funcionou bem por quase dois anos. A companhia combinada cortou US $ 1,7 bilhão em despesas, superando a meta que lançou quando o acordo foi anunciado. 

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"A mentalidade de redução de custos está se voltando contra eles", disse Ken Shea, analista da Bloomberg Intelligence. "Eles precisam colocar a casa em ordem". 

Catchup Heinz é um ícone entre os americanos 

 Mas depois que a Kraft Heinz cortou a gordura, a diretoria precisava de outro acordo para começar novamente a melhorar as margens de lucro. Dois anos atrás, a empresa fez a oferta mais bem sucedida pela Unilever, e quando as notícias da proposta vazaram, as ações da Kraft Heinz fecharam em alta histórica. No entanto, desde que a Unilever rejeitou a proposta, a empresa apoiada por Buffett tem estado em constante declínio. 

 Ao longo dos anos, a especulação sobre possíveis alvos de aquisição concentrou-se no segmento alimentício em empresas como Mondelez International, General Mills., Campbell Soup Co. e Kellogg. Mas também tem havido rumores de que poderia entrar em outros ramos para diversificar seu portfólio e crescer nos mercados em desenvolvimento com a aquisição de uma empresa de produtos de consumo. 

 Mas com suas ações em recorde negativo, e com muitas dúvidas pairando sobre a estratégia de futuro da companhia, a aquisição pode ficar ainda mais difícil. "Kraft Heinz precisa ser um consolidador e não tem sido capaz de sê-lo", disse Scott Mushkin, analista sênior da Wolfe Research, em entrevista à Bloomberg Television. "Você está em uma indústria que tem ventos contrários estruturais muito significativos e uma das coisas que você pode fazer para compensar é reunir algumas dessas empresas."  

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Mudanças nos padrões dos consumidores 

 Quando a Kraft Heinz foi criada, analistas imaginaram que o crescimento viria com um conjunto de marcas antigas. Mas, com mudanças nos gostos dos consumidores e nos hábitos de compra, as vendas nas maiores empresas de alimentos dos EUA foram reduzindo. Os compradores estão inclinados para opções mais naturais e orgânicos, em vez de produtos processados e carregados de açúcar. 

 Apesar de ter alguns produtos que são ícones para os americanos, como gelatina e queijo processado, a nostalgia não é suficiente para garantir as vendas na era da comida fresca. “Os clientes são cada vez mais exigentes em saber o que há em sua comida”, diz Chris Kempczinski, presidente do McDonald’s nos Estados Unidos. 

 Os consumidores estão dando prioridade a alimentos frescos e naturais e tem aumentado o interesse em saber como eles são feitos. Um relatório da Nielsen apontou que as novas categorias de produtos são responsáveis por mais da metade do crescimento das vendas nas lojas que vendem alimentos. Do outro lado, o volume de vendas de alimentos embalados caiu 1,7%. “As pessoas tem medo a conservantes”, diz Matt Gould, editor da Dairy & Food. 

 Nos últimos anos tem havido um aumento na popularidade dos queijos naturais e uma queda nos processados. Segundo a Euromonitor International, as vendas de queijo processado caíram 1,6% no ano passado, uma retração pelo quarto ano seguido. Ao mesmo tempo, as seções que vendem queijo vem aumentando nas lojas, já que os americanos vem desenvolvendo um gosto apurado por este produto, destacou Gould. 

 “Não confiamos que a companhia possa construir ou manter o valor da marca necessário para competir de maneira sustentável e convincente”, disse Michael Lavery, analista da Piper Jaffray, à Yahoo Finance. 

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 Com informações da Bloomberg e do Washington Post

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]