Brasil e França entram em campo ás 16h deste sábado num jogo que vale muito mais que a classificação para a semifinal. Vale também uma espécie de revanche brasileira sobre o time que nos venceu na final da Copa do Mundo de 98. De lá pra cá, a rivalidade entre as duas seleções cresceu bastante e deu um tempero a mais para um grupo especial de torcedores: os brasileiros que vivem na França. Em Paris a palavra de ordem é "revanche", pelo menos por parte dos torcedores que vão se arriscar a comemorar uma possível vitória da amarelinha sobre os Bleus. O lugar mais cotado para acompanhar o jogo, sem o infortúnio de ter um cara vestido de azul olhando irado para você, é na Favela Chic, um bar brasileiro em Paris que lota de tupiniquins quando a Seleção entra em campo. "É um bar bem brasileiro, dá para torcer, a galera empolga mesmo", diz a estudante Ana Flávia Coutinho, 22 anos. Ana foi à Paris fazer mestrado em Finanças e está tendo que conviver com o inimigo nas vésperas do reencontro das duas seleções. Nos jogos da seleção brasileira na Copa, Ana e suas amigas francesas se reuniram para torcer e fazer festa. "Os franceses são alucinados com os brasileiros. Todo mundo aqui comenta de futebol, conhece, Pelé, Ronaldo, Ronaldinho, Kaka. É só passar com a camisa do Brasil na rua que o pessoal mexe", comenta. Ela não vê muitos problemas em acompanhar os jogos estando em Paris, principalmente porque as amigas só querem saber de festa. "Todas as vezes que fui no Favela Chic levei meus amigos franceses. Eles fazem a maior farra, veste camisa, bandeira", diz. No jogo entre Brasil e França, a estudante vai acompanhada dos amigos locais para ver o jogo no Favela Chic, pelo menos lá, os brasileiros serão maioria. Outro lugar que os brasileiros costuma se reunir para ver a seleção jogar é no estádio de Paris, o Estádio Charlety, que passa os jogos num telão. Isso até o Brasil se encontrar com a França. "Vamos nos reunir em algum lugar, mas encurralado no estádio é que não vai ser", disse o Chefe de Cozinha Rodrigo Viriato Araújo, 28 anos, que trocou Fortaleza, Ceará, por Paris para fazer um curso de Confeitaria. "Além do mais, os franceses vão estar em peso lá e vai ser impossível torcer pelo Brasil", concorda Ana.
Ambos concordam que até nas transmissões dos jogos pela televisão há uma certa hostilidade dos narradores esportivos. "Na TV aqui, eles esnobam as vitórias do Brasil, dizem que pegamos só timinhos", conta Rodrigo. "Os comentaristas do jogo de Gana ficaram torcendo contra mesmo", comenta Ana. E conclui: "Os narradores vão destruir o Brasil. É um Galvão Bueno ao contrario".
Rivalidade
O confronto entre Brasil e França aos poucos surge como uma grande rivalidade no futebol mundial. O que entre franceses e brasileiros acaba rendendo alguma catimba. "O pessoal fica zoando. Tem uma musiquinha da Copa 98 que eles cantam muito no trabalho: un, deux, trois zero! Em referência aos 3 a 0 daquela final", diz Ana.
"No trabalho passaram a semana toda pegando no meu pé, colocaram cartazes no meu monitor escrito que a França ia ganhar", disse a estudante de engenharia civil Viviane Adriane Falcão, 22 que faz um intercâmbio da Universidade Federal do Ceará com a Escole Centrale de Lion. Atualmente em Paris, ela responde as provocações com a típica catimba brasileira. "Mas eu também não deixo por baixo, digo que vamos ganhar de quatro a zero, com dois gols de Ronaldo, um do Ronaldinho e outro Robinho".
A melhor parte vai ser a comemoração da possível vitória. Muita gente promete invadir o Champs Elysee, cartão postal parisiense. Outros já estão mais contidos. "A gente tinha combinado antes do jogo da França contra Espanha. Agora que vamos jogar contra a França, talvez não seja boa idéia", disse Ana. "É meio rude comemorar nas ruas se a França perder, mas deve ter festa no Favela Chic mesmo. Em casa é que não fico".
Independentemente do lugar, está certo que na casa dos franceses, quem deve cantar de galo é a torcida brasileira.