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CONJUNTURA

Consumo da classe C perde fôlego

Endividadas e com acesso mais restrito a crédito, famílias evitam a compra de bens duráveis | Ivonaldo Alexandre/ Gazeta do Povo
Endividadas e com acesso mais restrito a crédito, famílias evitam a compra de bens duráveis (Foto: Ivonaldo Alexandre/ Gazeta do Povo)

O vento parece ter mudado para a classe C. Mais endividadas, as famílias que surfaram na onda no consumo já sentem dificuldade para manter os padrões adquiridos nos últimos anos. A inflação mais alta corroeu a renda e, sem muito alarde, alguns bancos e redes de varejo vêm segurando o ritmo de concessões para esse público, preocupados com o avanço da inadimplência.

INFOGRÁFICO: Percentual de famílias endividadas com renda abaixo de dez salários mínimos aumentou

Um estudo da Confe­deração Nacional do Co­mércio (CNC) mostra que, em julho, 66,4% das famílias com renda abaixo de dez salários mínimos estavam endividadas. No mesmo período do ano passado, esse porcentual estava em 58,6%. Das famílias com menor renda, 25% tinham contas em atraso.

A rede de varejo Romera, com 193 lojas, encolheu os prazos de pagamento. Depois de esticá-los em maio e junho para até 15 vezes, a empresa reduziu esse tempo para entre oito e dez meses. O volume de aprovações de cadastros de clientes também caiu. De cada dez, apenas quatro estão sendo liberados – contra uma média de seis. "É uma medida de precaução porque não sabemos como será o comportamento dos juros nos próximos meses. Além disso, as pessoas estão mais endividadas", diz Julio Lara, diretor-executivo da rede.

Movida ao crédito farto, a classe média teve o "gostinho" de experimentar novos hábitos de consumo, como voar de avião, comprar pacotes de viagem e até mesmo ir mais vezes ao salão de beleza e a restaurantes. Mas sentiu o tranco com a alta dos preços e, mais recentemente, com bancos e financeiras mais cautelosos em abrir a torneira do dinheiro. Uma pesquisa da SPC Brasil feita em junho revela que 54% das famílias da classe C já tiveram o acesso ao crédito negado para fazer compras, contra 39% das classes A e B e 47% da média brasileira.

O setor de motocicletas foi um dos que mais sentiu o reflexo desse movimento. Com os bancos mais seletivos na concessão de crédito, principalmente por causa da inadimplência, o setor registrou uma queda de 10,6% nos emplacamentos de janeiro a julho. A baixa foi causada principalmente pelos modelos de até 500 cilindradas, que representam 85% do mercado e são voltados principalmente para as classes C e D.

"As famílias mais endividadas estão deixando de consumir para pagar os compromissos financeiros", diz Bruno Fernandes, economista da CNC. Mas, para ele, não se trata de uma perda dos ganhos adquiridos nos últimos anos. Fernandes vê uma situação temporária, provocada principalmente pelo acúmulo de prestações de compras anteriores, que pressionam o orçamento, e dos efeitos da inflação sobre a renda. A tendência, diz, é de melhora no último trimestre do ano, com a redução dos índices de inadimplência e o pagamento do décimo terceiro salário.

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