Endividadas e com acesso mais restrito a crédito, famílias evitam a compra de bens duráveis| Foto: Ivonaldo Alexandre/ Gazeta do Povo

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Acúmulo de dívidas faz consumidor cortar supérfluos, diz CDL

A desaceleração do consumo da classe C está segurando a economia, na opinião do gestor presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Curitiba, André Luiz Pellizzaro. Segundo ele, a classe média está priorizando as compras de itens básicos e vem cortando supérfluos, o que ajuda a explicar o resultado mais fraco do consumo – que foi, nos últimos anos, um dos motores do crescimento da atividade econômica. Esse cenário é reflexo do acúmulo de dívidas.

"As famílias parcelam uma compra e dois meses depois vão em outra loja e fazem mais uma aquisição com pagamento parcelado, sem ter terminado a primeira. Assim, com o passar dos meses, há um acúmulo de dívidas", diz Pellizzaro. Com o orçamento comprometido, aumentou o número de famílias que parcela compras em até dez vezes. "No ano passado, 11% das vendas de eletroeletrônicos eram parceladas em dez vezes. Neste ano, esse índice subiu para 50%", diz.

A Confederação Nacional do Comércio (CNC) revisou para baixo a projeção de crescimento das vendas do varejo para 2013. A previsão, em janeiro, era de um aumento de 6,5%, mas atualmente a entidade espera 4,5% de alta, segundo Bruno Fernandes, economista da CNC. Em 2012, as vendas no comércio haviam crescido 8,4%. "Não repetiremos o avanço do ano passado, mas ainda assim será um porcentual acima da média da economia", afirma.

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O vento parece ter mudado para a classe C. Mais endividadas, as famílias que surfaram na onda no consumo já sentem dificuldade para manter os padrões adquiridos nos últimos anos. A inflação mais alta corroeu a renda e, sem muito alarde, alguns bancos e redes de varejo vêm segurando o ritmo de concessões para esse público, preocupados com o avanço da inadimplência.

INFOGRÁFICO: Percentual de famílias endividadas com renda abaixo de dez salários mínimos aumentou

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Um estudo da Confe­deração Nacional do Co­mércio (CNC) mostra que, em julho, 66,4% das famílias com renda abaixo de dez salários mínimos estavam endividadas. No mesmo período do ano passado, esse porcentual estava em 58,6%. Das famílias com menor renda, 25% tinham contas em atraso.

A rede de varejo Romera, com 193 lojas, encolheu os prazos de pagamento. Depois de esticá-los em maio e junho para até 15 vezes, a empresa reduziu esse tempo para entre oito e dez meses. O volume de aprovações de cadastros de clientes também caiu. De cada dez, apenas quatro estão sendo liberados – contra uma média de seis. "É uma medida de precaução porque não sabemos como será o comportamento dos juros nos próximos meses. Além disso, as pessoas estão mais endividadas", diz Julio Lara, diretor-executivo da rede.

Movida ao crédito farto, a classe média teve o "gostinho" de experimentar novos hábitos de consumo, como voar de avião, comprar pacotes de viagem e até mesmo ir mais vezes ao salão de beleza e a restaurantes. Mas sentiu o tranco com a alta dos preços e, mais recentemente, com bancos e financeiras mais cautelosos em abrir a torneira do dinheiro. Uma pesquisa da SPC Brasil feita em junho revela que 54% das famílias da classe C já tiveram o acesso ao crédito negado para fazer compras, contra 39% das classes A e B e 47% da média brasileira.

O setor de motocicletas foi um dos que mais sentiu o reflexo desse movimento. Com os bancos mais seletivos na concessão de crédito, principalmente por causa da inadimplência, o setor registrou uma queda de 10,6% nos emplacamentos de janeiro a julho. A baixa foi causada principalmente pelos modelos de até 500 cilindradas, que representam 85% do mercado e são voltados principalmente para as classes C e D.

"As famílias mais endividadas estão deixando de consumir para pagar os compromissos financeiros", diz Bruno Fernandes, economista da CNC. Mas, para ele, não se trata de uma perda dos ganhos adquiridos nos últimos anos. Fernandes vê uma situação temporária, provocada principalmente pelo acúmulo de prestações de compras anteriores, que pressionam o orçamento, e dos efeitos da inflação sobre a renda. A tendência, diz, é de melhora no último trimestre do ano, com a redução dos índices de inadimplência e o pagamento do décimo terceiro salário.

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