A um dia de expirar o prazo para quitar sua dívida com um grupo de credores, a Argentina encarregou, mais uma vez, uma comissão de nível técnico para buscar uma saída para o calote. A comitiva enviada aos EUA, com técnicos de finanças e assuntos legais do Ministério da Economia, participa de reunião hoje com o mediador da negociação com os fundos que contestam o país na Justiça americana, Daniel Pollack.
O prazo para a Argentina resolver o impasse com os litigantes e, assim, desbloquear o pagamento a todos os seus credores, acaba amanhã. Decisão recente do juiz Thomas Griesa, da Suprema Corte americana, determinou que o país não pode fazer esse pagamento sem depositar integralmente US$ 1,3 bilhão que deve aos "abutres", credores que não aceitaram a renegociação.
O governo Cristina Kirchner pediu a suspensão da sentença, argumentando que ela estimularia novos processos de outros credores se isso acontecer, afirma, o valor a ser cobrado poderia chegar a US$ 15 bilhões. O juiz Griesa negou o recurso duas vezes, e em audiência na última terça-feira ordenou que as duas partes negociem "24 horas por dia".
Jay Newman, representante da empresa que controla o fundo à frente do litígio, NML, afirmou que o credor aceitaria receber parte do pagamento em "títulos e outros instrumentos financeiros", o que deixaria as reservas externas argentinas intactas. Mas, para prorrogar a negociação, o fundo exige de Buenos Aires "passos concretos".
O chefe de gabinete da Presidência argentina, Jorge Capitanich, afirmou que a comitiva deve listar condições "justas e equitativas para 100% dos donos de títulos."
Efeito
Diante da atual fragilidade externa, o governo da Argentina deverá ser obrigado a fazer uma superávit mais expressivo, o que tende a impactar a compra de produtos brasileiros. No primeiro semestre, as exportações da Argentina superaram as importações em US$ 3,684 bilhões, uma queda de 28% na comparação com o mesmo período do ano passado. "Qualquer que seja a situação acertada nos próximos dias, a Argentina vai ter que segurar mais as importações", diz José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).
O nó da Argentina e a necessidade de segurar as importações se dá porque as receitas de exportação deverão ser menores. Assim como o Brasil, a Argentina é uma grande exportadora de produtos básicos, como soja e milho, que estão com preços em queda no cenário internacional. A única alternativa, então, seria reduzir a compra dos produtos de outros países.