O rombo das contas externas brasileiras atingiu a marca de 4,17% do Produto Interno Bruto (PIB) no ano passado, a mais elevada desde 2001. O Banco Central espera uma leve melhora para este ano, mas já projeta um mês de janeiro problemático para as contas que incluem, por exemplo, o desempenho da balança comercial, as remessas de lucros e dividendos, os gastos com viagens ao exterior, seguros e aluguel de equipamentos. O BC prevê um déficit de US$ 10,8 bilhões para este mês.
Em 2014, o déficit da conta corrente chegou a US$ 90,95 bilhões, o maior desde o início da série histórica, em 1947. O principal obstáculo para as contas foi o mau desempenho da balança comercial, que encerrou o ano com um saldo negativo de quase US$ 4 bilhões. O Brasil vendeu menos ao exterior. Mais importante ainda, as commodities, chave para as exportações, perderam valor no ano passado.
O volume tão expressivo das chamadas transações correntes surpreendeu o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale. "O déficit em conta corrente surpreendeu, especialmente no último semestre do ano passado", disse. Ninguém imaginava no começo do ano, segundo ele, que chegaria a quase US$ 91 bilhões. "Esse resultado lembra o período da década de 1990, em que tivemos déficit nessa magnitude". Em 1999, o déficit chegou a 4,3% do PIB.
O chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel, avaliou que as condições atuais da economia brasileira são distintas de duas décadas atrás. Os déficits, disse, até podem parecer semelhantes em relação ao PIB, mas o principal passivo do país era a dívida. Hoje, é o Investimento Estrangeiro Direto (IED).
O IED é considerado a melhor forma de financiamento desse déficit, já que são aplicações voltadas para o setor produtivo. No ano passado, houve uma redução do total de recursos desse tipo que chegou ao Brasil US$ 62,49 bilhões. O volume representou 69% do total do rombo e foi inferior aos US$ 63,99 bilhões de 2013 e aos US$ 65,27 bilhões de 2012. "O IED recuou em 2014, mas ainda mostrou fluxo elevado e de forma disseminada por vários setores da economia", disse Tulio Maciel.