Além da previsão de déficit primário de 1,6% do Produto Interno Bruto ao fim de 2016, o governo de Michel Temer (PMDB) ainda precisa adicionar a esta conta pelo menos R$ 320 bilhões decorrentes de rombos em fundos públicos, prejuízos de empresas estatais, subsídios a empréstimos para empresas e gastos decorrentes de perdas na Justiça.
Nova fonte de receita criada por Dilma deixa Temer em saia justa
Até mesmo fontes de receita criadas por Dilma Rousseff que poderiam aliviar o caixa durante a gestão de Michel Temer trazem mais problemas que soluções. Enviada ao Congresso no mesmo projeto que corrige em 5% a tabela do Imposto de Renda, a aplicação do IR sobre heranças e doações é apontada como ilegal por advogados tributaristas.
“O governo, no desespero de arrecadar mais, quer cobrar imposto de renda sobre o que é transferência patrimonial. Isso é um absurdo”, diz o advogado Nereu Domingues. Para ele, a norma é absolutamente inconstitucional. “O doador ou o falecido já pagou IR quando da produção da renda para a aquisição desses bens.”
Desse modo, como a tributação foi apresentada pelo governo como uma medida compensatória para que a tabela do IR pudesse ser corrigida, Temer deve enfrentar a situação de viabilizar a cobrança ou desistir da correção da tabela.
A conta mais cara deixada pelo governo Dilma Rousseff (PT) são os empréstimos do BNDES subsidiados pela União. Dados divulgados pela Secretaria do Tesouro Nacional mostram que, de 2016 até 2060, R$ 200 bilhões deverão sair dos cofres da União para pagar os subsídios que permitiram ao banco fazer empréstimos abaixo dos juros de mercado ao setor privado. Segundo o Relatório de Subsídio do Tesouro Nacional ao BNDES, essas operações foram feitas com a finalidade de reduzir o impacto da crise financeira internacional de 2008 sobre a economia brasileira e para apoiar investimentos de longo prazo.
Esses empréstimos, que eram parte do Programa de Sustentação de Investimentos (PSI), foram criticados por não terem surtido efeito e questionados por parlamentares. Esse questionamento deu origem à CPI do BNDES, que foi instaurada para investigar operações de crédito firmadas com empreiteiras investigadas na Operação Lava Jato e “amparadas em critérios pouco claros e pactuadas em condições opacas”. Em fevereiro, a CPI concluiu seus trabalhos sem apresentar indiciamentos.
Energia
O setor elétrico é outra fonte de preocupações e dívidas. Para Roberto D’Araujo, diretor do Instituto Ilumina, o setor é hoje uma fábrica de buracos. Um deles são as indenizações de R$ 20 bilhões às empresas de geração e transmissão de energia que estão previstas na Medida Provisória 579, que estabeleceu novas regras à renovação das concessões. Os valores começarão a ser pagos pelos consumidores em 2017 e podem vir diluídos na conta de energia pelo período de até oito anos. Outro rombo que vai pesar no bolso do consumidor são R$ 6 bilhões relativos à Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) – fundo setorial que banca subsídios do setor. Alegando irregularidades nos custos do fundo, consumidores intensivos de energia têm conseguido liminares contra o pagamento. Completando a o buraco que pode chegar a R$ 40 bi no setor, há a MP 706/2015. Se ela for aprovada da forma como foi apresentada ao Congresso, pode custar R$ 14,2 bi a mais na conta de luz até 2020, a serem repassados por meio de um tarifaço em 2017.
Estados
Embora necessária, a renegociação da dívida dos estados é outra medida que frustrará receitas da União. Segundo o projeto de lei que viabiliza novas condições para o pagamento dos débitos, em um cenário conservador, em que todos os estados optem por receber a totalidade dos benefícios permitidos, o governo federal deixaria de receber R$ 45,4 bilhões entre 2016 e 2018. “É um ponto complicado porque afeta a receita financeira da União e isso impacta o resultado nominal. Reduzindo a receita de juros, a conta fica ainda pior e obriga o Tesouro a emitir mais títulos”, avalia Fábio Klein, da consultoria Tendências. Klein lembra ainda da discussão sobre a incidência de juros simples ou compostos sobre as dívidas dos estados. O cálculo da Fazenda é que o entendimento pela incidência de juros simples poderia levar a um rombo de R$ 313 bilhões à União.
Estatais
Outro aspecto a ser considerado é a possível necessidade de capitalização das empresas estatais. Na Petrobras e na Eletrobras, os prejuízos passaram de R$ 24,5 bilhões, em 2014, para R$ 49,3 bilhões em 2015. Nesse cenário, muitos especialistas têm defendido o socorro do Tesouro às empresas. O ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga em entrevista ao programa “Roda Viva”, da TV Cultura, disse que o governo resiste em fazer o aporte para não afetar ainda mais a dívida pública. Na avaliação de Fraga, esse aporte daria condições para a Petrobras trabalhar com mais fôlego. O economista não precisou valores, mas indicou que a empresa precisaria entre R$ 50 bilhões e R$ 100 bilhões. Na Eletrobras, Roberto D’Araujo, do Ilumina, avalia que o socorro pode ser necessário caso o governo não altere a MP 579.
Seguro-desemprego
Responsável pelo pagamento do seguro-desemprego, o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) também está combalido. Estimativas anexadas ao projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2017 preveem que, para que o fundo consiga cumprir com suas obrigações, a União deverá fazer aportes de R$ 35 bilhões entre 2017 e 2019.
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