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Finanças

Contas internas causam desconforto

O desempenho na área externa não livra o governo Lula de críticas. As ações públicas não recebem crédito pelo superávit no balanço de pagamentos nem pela menor exposição da dívida ao câmbio. "O crescimento global, com a entrada de Índia e China no comércio, deu essa chance ao Brasil. Mas a política interna continua uma desgraça", afirma o ex-ministro da Fazenda Ernane Galvêas.

A "desgraça" é uma fórmula complexa. A dívida interna encosta em R$ 1 trilhão alimentada pela maior taxa de juros do mundo. Para evitar que ela estourasse de vez, a União aumentou impostos desde o início do Plano Real, em 1994, e cortou investimentos. São medidas que inibem a aplicação de recursos pelo setor produtivo e reduzem a capacidade de crescimento do país no longo prazo. A discussão sobre como resolver a equação, com redução da dívida, para que haja crescimento sem inflação é o núcleo de qualquer conversa econômica no momento.

Dar uma direção correta aos débitos, com melhor gestão dos gastos públicos, é um dos caminhos. Um aperitivo foi sentido no começo deste ano, quando o risco-país brasileiro caiu ao menor nível da história, refletindo a melhora nos indicadores da dívida externa. Se evoluir um pouco mais, o Brasil pode receber das agências de risco a avaliação chamada de "investment grade", uma nota que avaliza a segurança de se investir em um lugar. "A dívida interna é o fator mais importante no momento para se trabalhar, do ponto de vista da classificação brasileira", afirma Rafael Guedes, diretor executivo da Fitch no Brasil.

O atestado de segurança dado pelas agências baratearia o custo de captação de dinheiro e reduziria o risco de ataques especulativos. Segundo Guedes, a Fitch observa que o Tesouro tem pouca flexibilidade na gestão da dívida. O prazo é curto, com 43% dos papéis vencendo nos próximos 12 meses. Para rolar o débito, o governo aceita emitir mais títulos curtos e com juros semelhantes aos de longo prazo. "Até quem empresta por um dia exige receber 100% da taxa básica. O normal seria um pagamento menor no curto prazo para estimular o alongamento da dívida", comenta o diretor da Fitch.

Conta alta

O Banco Central tem comprado dólares à vista para reforçar as reservas e está zerando a dívida interna corrigida pelo dólar para evitar oscilações em momentos de tensão no mercado de câmbio. Apesar de vista com bons olhos por analistas, o plano tem uma contradição: levou a um aumento na emissão de títulos ligados à taxa básica de juros (Selic). É uma fatura cara para um país endividado. "O governo quis marcar posição de que não deve a estrangeiros, mas não mostra que essa vantagem tem duas faces. Hoje a dívida externa é mais barata que a interna", afirma o especialista em contas públicas Raul Velloso.

Para responder à crítica de que a troca da dívida é cara, o BC tem divulgado a tese do seguro: o país teria comprado uma espécie de apólice que o protege no caso de uma virada no câmbio. De acordo com os dirigentes do banco, não há como prever o comportamento do mercado caso não houvesse a diminuição na exposição ao dólar. Na opinião do economista Paulo Sandroni, da FGV, o ganho de credibilidade no exterior deve compensar o custo da operação. "O Brasil caminha para atrair capital de qualidade, com prazos melhores e taxas menores. É o que vem junto com a queda do risco-país", afirma.

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