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Contra a inflação, consumidor troca marca e faz estoque

Fabiano e Patricia: as saídas para jantar foram cortadas e viagem ao Nordeste, adiada | Antônio More/Gazeta do Povo
Fabiano e Patricia: as saídas para jantar foram cortadas e viagem ao Nordeste, adiada (Foto: Antônio More/Gazeta do Povo)

A inflação alta começa a fazer o consumidor voltar a pesquisar preços, trocar marcas e substituir produtos. Com o orçamento pressionado pelos itens mais caros nas prateleiras, algumas famílias estão retomando velhos hábitos, como o de estocar mercadorias em promoção e cortar atividades de lazer, como saídas para jantar e viagens.

O administrador de empresas Fabiano André Cossetin, de 37 anos, voltou a fazer estoque de produtos. "Quando vejo uma promoção de café, creme dental, xampu, por exemplo, compro a mais porque sei que os preços vão subir", diz ele, que voltou também a fazer pesquisa de preços.

Ele e a esposa, Patricia, são proprietários de uma lanchonete e vêm substituindo marcas mais caras por mais baratas. Nessa lista entraram o sabão em pó e o refrigerante. As saídas para jantar também foram cortadas e a viagem para o Nordeste, adiada. "Cada vez sobra menos dinheiro no fim do mês. Não temos dívidas, mas mesmo assim está difícil com tanto aumento de preços", diz Fabiano.

A jornalista Monica Santanna diz que levou um susto quando viu o preço do biscoito maizena – que ela compra com frequência para fazer a sobremesa preferida do filho – subir de R$ 1,98 para R$ 4,19 em menos de três meses. "Voltei a me preocupar com o aumento dos preços, algo que não ocorria há 20 anos. Estamos pagando cada vez mais e levando cada vez menos", diz ela, que conta ter percebido altas de R$ 1 a R$ 2 por mercadoria nas visitas semanais ao supermercado.

Juros mais altos

O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), medido pelo IBGE e que serve de base para o regime de metas de inflação, está em alta desde 2010. Em Curitiba, no acumulado dos últimos doze meses encerrados em novembro, está em 5,58%. A alta vem sendo puxada, principalmente, pelo setor de serviços e pelos alimentos, o que faz com que a elevação dos juros implantada pelo Banco Central seja menos eficiente para combatê-la, segundo o professor de Economia da Universidade Federal do Paraná (UFPR) João Basilio Pereima Neto.

"Os juros têm impacto no crédito, que afeta a venda de bens de consumo duráveis. Mas o setor de serviços e os alimentos dependem pouco do crédito. O governo tenta esfriar a economia de um lado para ver se tem efeito sobre o todo. Por isso reduzir a inflação agora é algo mais complexo", diz.

Mesmo com a alta dos juros iniciada em abril, as expectativas de mercado em relação à inflação ainda não cederam. "A inflação em 2013 apenas ficou abaixo do limite superior da meta, de 6,5%, porque o governo manteve, em certa medida, uma baixa inflação dos preços administrados. Do contrário, como os preços livres subiram, a inflação superaria o teto", afirma Luciano D’Agostini, economista do grupo de macroeconomia estruturalista do desenvolvimento.

Expectativa de preço alto gera efeito em cadeia

Inflação acima da meta não é novidade para o brasileiro. Nos últimos oito anos, a inflação só ficou próxima do centro da meta, de 4,5%, por duas vezes em 2007 (4,46%) e 2009 (4,31%). O regime de bandas começou a ser adotado no país em 1999 e sofreu adaptações até o modelo atual, que começou a valer em 2005 e estabelece uma tolerância de dois pontos porcentuais para mais e para menos em relação ao centro.

Segundo o professor de economia João Basílio Pereima Neto, da UFPR, o problema é que começa a se consolidar a expectativa de inflação mais alta, o que torna os agentes da economia menos sensíveis às políticas monetárias de combate à alta de preços. "Isso é extremamente prejudicial, porque cria um ambiente em que os preços sobem porque os empresários sabem que a inflação será mais alta, criando um ciclo mais difícil de ser quebrado", diz.

Foi esse gatilho que ajudou a alimentar a hiperinflação nos anos 80, mas os economistas reforçam que o ambiente de hoje é muito diferente e não há risco de perda de controle da inflação.

Um dos problemas, segundo o economista Rodrigo Piazzeto, da consultoria Pactum, é que a economia brasileira ainda é bastante indexada, o que ajuda a fazer com que parte da inflação atual seja reflexo da inflação anterior. "Há um efeito inercial importante na inflação atual", diz.

Além dos serviços, que seguem em alta, e do reajuste dos combustíveis, há um outro risco armado para a inflação em 2014, segundo o professor de Economia João Basilio Pereima Neto, da UFPR. Segundo ele, a deterioração do cenário para o câmbio é preocupante para a inflação.

O aumento do rombo nas transações correntes do país, o provável aumento da taxa de juros nos Estados Unidos e a precária situação fiscal do Brasil podem aumentar a desvalorização do real frente ao dólar. O governo vem atuando no câmbio para segurar as cotações. Na média, os economistas estimam que a cada 10% de desvalorização do real, a inflação sobe 0,5 ponto porcentual.

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