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Crédito

É hora de conquistar a cidade grande: cooperativas ocupam espaço deixado por bancos

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Agência do Sicredi na Avenida Kennedy, em Curitiba. Antes o ponto pertencia ao Banco do Brasil. (Foto: Valterci Santos/Divulgação). (Foto: )

O número de agências bancárias no Brasil teve queda de 10% nos últimos cinco anos: saiu de 23.126 em 2014 para 20.850, segundo o Banco Central. Entre as cinco maiores redes, quatro delas tiveram queda em seu atendimento físico. Por outro lado, as cooperativas de crédito saltaram de 4.277 pontos de atendimento para 5.391 no mesmo período, um crescimento de 26% (confira no infográfico).

As instituições financeiras cooperativas oferecem os mesmos serviços financeiros de um banco tradicional. O diferencial está no fato de que os associados são donos do negócio e participam ativamente da gestão, por meio das assembleias. Por serem associados, os correntistas recebem de volta parte do resultado positivo da instituição, o que se convenciona chamar de sobras e que retornam ao cooperado de acordo com a sua movimentação financeira.

Historicamente, as cooperativas de crédito tiveram a sua origem em cidades do interior – não à toa, em muitas cidades pequenas, tratam-se das únicas instituições financeiras. O Sicredi, por exemplo, é a única rede em 202 cidades de todo o Brasil, e o mesmo ocorre com o Sicoob, em 258 municípios. No entanto, parte dessa expansão do cooperativismo de crédito está calcada em capitais, em regiões metropolitanas e em cidades de médio porte.

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O Sicredi vai inaugurar três novas agências no primeiro semestre em Curitiba, com um investimento de R$ 5 milhões. De 2015 para 2018, houve um salto de 8 para 13 pontos de atendimento – com previsão de atingir 17 ao fim de 2019 – na capital paranaense. Coincidentemente, alguns desses novos pontos estão justamente em locais que antes eram ocupados por bancos. Na Grande São Paulo, ocorreu o mesmo fenômeno: foram 20 novas agências inauguradas neste período pela cooperativa.

“Não é uma estratégia de ocupar lugares nos quais tenha existido agência bancária. O mais relevante é formar uma rede física, que é necessária, apesar dos outros canais de relacionamento. Em torno dessa agência, os nossos pilares vão se fortalecendo”, afirma o presidente nacional do Sistema Sicredi e da Central PR/SP/RJ, Manfred Dasenbrock. Entre esses pilares, ele cita a preocupação com o atendimento, com a transparência (com duas prestações de contas anuais) e a participação ativa dos associados na gestão da cooperativa.

“No interior, o cooperativismo é feito de amigo para amigo, em uma relação mais familiar. Nas maiores cidades, nós acabamos nem sequer conhecendo o vizinho que mora no mesmo prédio. É uma relação de confiança diferente, mais difícil de construir. Ela se dá pela proposta e pela forma de atuar”, analisa Francisco Reposse Junior, diretor de Desenvolvimento e Supervisão do Sicoob Confederação, destacando a relevância das agências físicas como uma espécie de garantia para obter novos associados nos centros urbanos.

E as projeções não param por aí. Em 2018, o Sicoob inaugurou 211 novas agências em todo o país. Neste ano, já foram 75. “Há muita estrutura para ser inaugurada. É uma tendência de abrirmos até um certo limite, porque precisamos ocupar um espaço físico e sermos notados”, explica Reposse Junior. Ao todo, a rede do Sicoob somava, ao fim de 2018, 2.910 pontos de atendimento – um aumento de 28% em cinco anos.

O Sicredi conta com 1.684 agências em todo o país, com uma média de crescimento de 10% ao ano dos espaços físicos nos últimos cinco anos e uma projeção de inaugurar 200 novas unidades em 2019. “Nós temos data de inauguração, mas não temos histórico de data de fechamento. Enquanto o sócio tiver interesse em ter um ponto de encontro, a agência permanecerá aberta, apesar da tecnologia disponível para o seu relacionamento”, afirma Dasenbrock.

Atualmente, o cooperativismo de crédito no país soma mais de 10,5 milhões de pessoas – aproximadamente 5% do total da população do país. O crescimento do total de associados nos últimos cinco anos foi de 39% -- eram 7,5 milhões em 2014.

Um novo perfil de agência para um novo perfil de cliente

Há consenso entre as duas instituições financeiras cooperativas de que os serviços do dia a dia são realizados, em sua maioria, por meio dos aplicativos ou sites bancários – o Sicoob informa que 74% de seus atendimentos são resolvidos de forma online. Dessa forma, há entendimento de que os pontos de atendimento físicos mudaram de figura, tornando-se também um espaço para orientações.

“As agências são estruturadas para atender por completo, até mesmo para quem pretende pagar uma conta. Mas queremos fazer mais atendimentos. Por isso, já pensamos em abrir unidades como pontos de aconselhamento – uma agência sem dinheiro – para discutir investimentos e financiamentos”, conta Reposse Junior, do Sicoob. De acordo com ele, os municípios do Rio de Janeiro e de Belo Horizonte já contam com unidades com esse perfil.

Para Dasenbrock, uma das principais diferenças entre os bancos e as cooperativas está na valorização de relacionamento. “As pessoas gostam de ser bem atendidas no meio rural e urbano. Nós formamos colaboradores para que atendam bem e entendam a oferta de serviços e produtos adequada para o público, seja no meio rural ou urbano”, diz.

O Sicoob conta com um projeto de pontos de atendimento sem dinheiro em diversas cidades do Paraná: Mandirituba, Lupionópolis, Sabáudia, Siqueira Campos, Faxinal, Arapoti, Jardim Alegre, Manoel Ribas, Joaquim Távora, Piraí do Sul e Tibagi, no Paraná, além de Caxias do Sul e Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul. O Sicredi também trabalha com um projeto piloto em Cafeara – a cerca de 87 quilômetros de Maringá, no interior do Paraná.

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Violência e meio online: as justificativas dos bancos

O aumento de atendimentos pelo canal online e o crescimento da violência são as principais causas apontadas pelos bancos para a diminuição de sua rede física. “A redução do número de unidades físicas é um movimento de reposicionamento da rede de agências, coerente com as novas necessidades dos clientes e com o aumento da procura por atendimento em outros canais como internet, celular e agências digitais”, informou por meio de nota o Itaú Unibanco.

O Bradesco afirmou que adequa as estruturas de acordo com o potencial de cada microrregião, “visando otimizar sua presença em todos os municípios brasileiros”. De acordo com a nota, o banco oferece “soluções financeiras e serviços, por intermédio dos canais mais adequados e que ofereçam a melhor experiência aos seus clientes, tanto nos canais físicos quanto nos digitais”.

O Banco do Brasil, por outro lado, afirma que parte do fechamento se dá por questões de segurança. “Ações criminosas comprometem o funcionamento de agências do Banco do Brasil em todo o país. Esses ataques têm levado a contingenciamentos em algumas unidades, com a suspensão temporária ou mesmo definitiva do atendimento em alguns municípios”, alegou o banco, por meio de nota oficial.

O BB não informa o número de agências que sofreram ataques ou tiveram suas operações suspensas “por razões de segurança e estratégicas”. Como alternativa, o BB sugere o uso de agências mais próximas, bancos postais, correspondentes bancários e casas lotéricas para saques e consultas de saldos e extratos, além do atendimento online via site e aplicativo.

Assim como os bancos, os problemas de segurança pública também afetam as cooperativas e são um risco assumido nesta expansão. “Quando explode um caixa e uma agência, é prejuízo. Isso resulta em juros mais altos. O dia em que o Brasil resolver isso, teremos dinheiro mais barato”, resume Manfred Dasenbrock, do Sicredi.

“Quando se coloca uma dinamite, o menor estrago é o dinheiro que ele leva. Isso é um problema de fato e um custo relevante para o sistema financeiro brasileiro”, acrescenta Francisco Reposse Junior, do Sicoob. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública e Administração Penitenciária do Paraná, em 2018, foram registradas 26 ocorrências de explosões a caixas eletrônicos no Paraná, uma redução de 49% frente a 2017, quando foram contabilizados 51 casos.

Uma expansão recente

Por muitos anos, a atuação das cooperativas de crédito foi restrita, até a promulgação da Lei Complementar 130/09, que completa uma década nesta semana. Nela, foi estabelecido que as “as competências legais do Conselho Monetário Nacional e do Banco Central do Brasil em relação às instituições financeiras aplicam-se às cooperativas de crédito”. “A partir dessa autorização, nós nos encorajamos e pudemos atuar em cidades grandes. Temos vinculação histórica com o meio rural, mas uma oferta de soluções financeiras para os dois públicos”, avalia Dasenbrock, do Sicredi.

Para Reposse Junior, do Sicoob, o fortalecimento das cooperativas de crédito se deu a partir do interior em razão da proximidade com as cooperativas agrícolas, que estavam, em sua maioria, em cidades com população até 300 mil pessoas. “A partir disso, as cooperativas de crédito começaram a se estruturar com mais serviços para ir além das cidades com mais de 300 mil habitantes”, diz.

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