O sistema brasileiro de cooperativas de crédito passa por uma consolidação que está permitindo ao setor crescer mais do que os bancos tradicionais. O processo está sendo impulsionado por uma combinação de melhora na regulamentação da atividade e de ganhos de escala que permitem às cooperativas conquistar mais associados com serviços bastante competitivos.
INFOGRÁFICO: entenda como funciona o sistema cooperativo
O momento do cooperativismo de crédito é tão bom que o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, lançou um desafio aos gestores do sistema: alcançar 10 milhões de cooperados. Hoje são 7,5 milhões. O BC tem demonstrado interesse em apoiar a expansão do setor de olho em duas qualidades que o diferenciam dos bancos tradicionais: capilaridade e vínculo com os associados.
Para chegar a mais pessoas e continuar crescendo acima do resto do sistema financeiro, o setor cooperativo já vinha se consolidando nos últimos anos. O número total de cooperativas caiu de pouco mais de 1,3 mil para 1,1 mil entre 2011 e o primeiro semestre deste ano, em parte porque várias associações se fundiram para ter mais escala e reduzir custos.
No período, as centrais e confederações, que congregam cooperativas para a prestação de serviços financeiros mais complexos, também ganharam musculatura. O total de operações de crédito e de depósitos nesse segmento mais do que dobrou entre 2010 e 2014 e as instituições conquistaram participação no mercado financeiro. Em 2014, segundo o BC, elas chegaram a 3,1% dos depósitos e 2,9% das operações de crédito, contra 1,7% e 2,4%, respectivamente, em 2010.
Um exemplo desse movimento é a recente filiação da Unicred Central Norte/Nordeste ao Sistema Sicredi. Com presença em nove estados e 28 cooperativas filiadas, a Unicred decidiu fazer parte de uma confederação que agora terá presença em 20 estados. A outra grande confederação, o Sistema Sicoob, já está em todos os estados, exceto o Ceará, e representa 490 cooperativas (19 a menos do que um ano antes, resultado do processo de fusões).
“A tendência é de o processo continuar. Ainda deve haver algumas fusões”, diz Manfred Dasenbrock, presidente do Sicredi Participações e do Sicredi Central PR/SP/RJ. Somente no primeiro semestre deste ano, o balanço do sistema apresenta quatro incorporações entre cooperativas. “A busca por escala e por atender a regulamentação do Banco Central são as razões para isso”, resume o executivo.
Regulação
Em pouco mais de dez anos, o cooperativismo de crédito passou por uma revolução regulatória. Em 2003, o BC permitiu a criação de instituições de livre admissão, o que ampliou as atividades do setor para além de grupos profissionais. Dois anos mais tarde, o BC criou um departamento para supervisionar o sistema, elevando a pressão para que centrais e confederações melhorassem seus sistemas de controle.
Há dois anos, o sistema passou a contar com o Fundo Garantidor de Crédito Cooperativo (FGCoop), que funciona nos mesmos moldes do fundo que garante os depósitos nos bancos comerciais. “Foi um passo crucial porque elimina as dúvidas sobre a segurança dos depósitos”, destaca o diretor operacional do Sicoob Confederação, Francisco Reposse Júnior.
Para completar a evolução da regulação, o Conselho Monetário Nacional publicou em agosto uma resolução que altera a classificação das cooperativas. “A resolução exige capital mínimo para algumas atividades, plano de negócios e melhorias de governança”, explica Valéria Bressan, professora do Departamento de Ciências Contábeis da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). “Há uma preocupação clara do BC em incentivar o crescimento sustentável do setor para não comprometer sua função social.”