A Copa do Mundo potencializou a perda de dinamismo que caracteriza a indústria desde o último trimestre do ano passado. Em junho, a produção industrial recuou 6,9% em comparação a igual mês de 2013, o pior resultado desde setembro de 2009. A redução de números de dias trabalhados e a concessão de férias coletivas pesaram no resultado, principalmente das montadoras.
Em relação a maio, a produção recuou 1,4%, informou ontem (1) o IBGE. A queda foi menos intensa do que o esperado em média por analistas (-2,4%), mas contribuiu para recuo de 2% na produção no segundo trimestre, reforçando a perspectiva de retração no Produto Interno Bruto (PIB, soma da renda gerada no País) de abril a junho. O ritmo fraco deve ter reflexos também nos investimentos.
Copa
O recuo da produção em junho foi o quarto seguido tanto na comparação mensal quanto anual, mas a realização da Copa foi o que tornou a perda mais aguda e espalhada. Em maio, o recuo foi de 0,8%. "A magnitude da queda tem relação direta com menor número de dias trabalhados, férias coletivas e cortes de turnos de trabalho, que ficaram como uma marca de junho", disse André Macedo, gerente da Coordenação da Indústria do IBGE.
TVs
A fabricação de televisores, que até abril impulsionou a indústria, caiu 29,6% em junho. Já os bens de consumo duráveis e os bens de capital tiveram as perdas mais expressivas e são as categorias que mais pressionam a indústria.
O destaque ficou com os veículos, cuja produção recuou 12,1% em relação a maio. Na comparação com junho de 2013, a queda foi de 36,3%, a maior desde dezembro de 2008 (-51%). "As estatísticas de estoque do setor estão completamente fora de seu padrão habitual", detalhou Macedo.
Fornecedores da indústria de veículos também foram afetados, como autopeças, produtos químicos, borrachas e plásticos, máquinas, aparelhos e materiais elétricos e metalurgia.
Além disso, a formação de estoques está por trás das perdas na fabricação de produtos têxteis, máquinas e aparelhos elétricos, máquinas e equipamentos e calçados, citou Macedo.
"A abertura dos dados da produção de junho ante maio mostrou uma queda disseminada em vários setores, o que dá uma dimensão de paralisia generalizada da economia", avaliou a economista Alessandra Ribeiro, da consultoria Tendências.
Petróleo
Por outro lado, alguns segmentos conseguiram fugir à tendência e ampliaram a produção, entre eles coque e derivados de petróleo. Nos alimentos, a alta foi puxada pela antecipação da safra e do processamento de açúcar.
A despeito do efeito da Copa em junho, a desaceleração na indústria não é pontual. Desde outubro de 2013, o recuo acumulado é de 6,5%. "A menor evolução da demanda doméstica, o cenário externo adverso, a restrição no crédito por encarecimento ou endividamento das famílias marcam 2014", diz Macedo, do IBGE. Em julho, é possível que os dias úteis a menos afetem novamente o desempenho da indústria, já que a Copa terminou no dia 13.
Para o economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima, a produção deverá apresentar ligeira melhora em agosto, a depender da redução dos estoques. "As empresas ainda estão reportando estoques indesejáveis. Isso deve segurar a produção em julho. Talvez em agosto melhore, mas, no geral, o terceiro trimestre deve ser fraco." As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.
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