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Mobilização

Grupo protesta contra reajuste e prejuízo causado por enchente

Loise Clemente, especial para a Gazeta do Povo

Cerca de 150 pessoas, integrantes do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), se reuniram na tarde de ontem em frente ao Palácio Iguaçu para protestar contra o reajuste médio de 35% na conta de energia elétrica, aprovado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Segundo o coordenador do MAB, Rodrigo Zangakaro, a intenção do grupo é buscar um diálogo com o governo estadual para expor uma pauta de reivindicações.

Durante a manhã, os mesmos manifestantes se reuniram em frente à sede da Copel em Curitiba. O grupo quer que a companhia tome medidas para reparar os danos de quem foi afetado pela enchente no início do mês em Nova Prata do Iguaçu, que teria sido causada pela abertura das comportas da Usina Salto Caxias. Segundo a prefeitura, o prejuízo pode chegar a R$ 15 milhões.

Para ter o levantamento completo dos problemas provocados pela liberação das comportas, a Copel abriu um canal de atendimento com as pessoas que se sentiram prejudicadas. "Os casos estão sendo analisados, para que sejam atendidas apenas as famílias que realmente tiveram problemas com a água da usina", informou a assessoria da empresa.

Audiência

O MAB vai participar hoje de uma audiência na Assembleia Legislativa, às 9 horas. A Copel informou que o superintendente de Meio Ambiente e Assuntos Fundiários, Carlos Eduardo Medeiros, participará da reunião.

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Opinião

Setor elétrico é refém da política

Guido Orgis, editor executivo de Economia

A Aneel parte do princípio de que os atores dentro do setor (geradores, transmissores e distribuidores) precisam manter o equilíbrio econômico para que não haja furos – empresas sem capacidade de pagar seus compromissos podem causar inadimplência em cadeia – e também para que não haja exageros. Por isso o processo anual de reajuste não é uma decisão unilateral das empresas. É possível que a agência concorde em represar novamente parte da correção, mas essa não é uma manobra que deve ser estendida por muito tempo porque pode se tornar uma conta impagável, para a Copel e seus acionistas ou para os consumidores.

Não há no cenário de médio prazo razões para acreditarmos que o preço da energia comprada pela Copel Distribuição vai cair. O país se tornou dependente da energia térmica, que tem preço alto, e as distribuidoras têm de repassar nos próximos anos mais de R$ 20 bilhões já pagos pela energia cara comprada no ano passado e neste para suprir seus clientes.

O setor energético virou refém do sistema político. O governo federal desorganizou o setor em um momento delicado, de risco ao abastecimento, quando deu uma canetada em 2013 para baixar o preço da energia. Depois fez remendos para evitar o repasse do custo maior da energia ao consumidor. Durou pouco. O governo do estado precisa fazer bem as contas para não assumir o mesmo risco.

A Companhia Para­naense de Energia (Copel) vai pedir à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) o diferimento de parte do reajuste médio de 35% na tarifa de energia, um dos maiores índices concedidos às distribuidoras. A companhia já solicitou a suspensão do reajuste e aguarda resposta da agência. Enquanto isso, deve estudar o tamanho do porcentual a ser postergado para o próximo reajuste, em junho de 2015, assim como já ocorreu em 2013. A pedido da Copel, a Aneel não repassou neste ano os 5,1% restantes do ano passado para não pressionar ainda mais o índice – o porcentual represado deve inflar o novo reajuste do ano que vem.

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INFOGRÁFICO: Veja a evolução da tarifa residencial da Copel

Com o pedido de suspensão, o aumento que deveria ser aplicado desde ontem, data do reajuste da concessionária, fica suspenso até que a Aneel avalie a situação. A decisão foi tomada após manifestação do governador Beto Richa nas redes sociais. "Vamos pedir à Aneel a suspensão da aplicação para buscar uma solução junto com a Copel", escreveu Richa em sua conta no Twitter, na manhã de ontem. O governador também se disse surpreendido com a decisão da agência de aprovar o reajuste de 35%.

No final de maio, a Copel encaminhou à Aneel um pedido de reajuste médio de 32,4%, mas a agência autorizou 35% – 33,4% para o segmento de baixa tensão, que inclui consumidores residenciais, e 37,3% para as ligações de alta tensão, que abrangem parte importante da indústria. Ao todo, 4,2 milhões de unidades consumidoras em 393 municípios paranaenses serão afetadas pelo aumento.

O presidente da Copel, Lindolfo Zimmer, foi enfático ao dizer que apenas 1,5% desse índice é de responsabilidade da companhia, que foi uma das mais prejudicadas com a crise do setor elétrico. "A culpa é dos descompassos e desacertos do setor como um todo, incluindo obras que atrasaram, contratos que não foram cumpridos e o agravante da falta de chuvas, que fez com as térmicas ficassem acionadas em caráter permanente. Não escolhemos o fornecedor de energia e não definimos o preço que vamos pagar", afirmou.

Segundo Zimmer, a Copel trabalha para encontrar uma solução equilibrada que não prejudique os consumidores e tampouco a companhia. No ano passado, foram cerca de 20 dias entre o pedido da Copel e a autorização do diferimento pela Aneel.

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Impacto

O aumento de 37,3% para o segmento de alta tensão preocupa a indústria. Segundo cálculo da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep) – feito com base no reajuste médio autorizado pela Aneel, de 35% – o peso da energia nos custos e despesas da indústria paranaense aumentará de 1,54% para 2,08%. Para o vice-presidente da Fiep, Aurélio Sant'ana, é uma tarifa bastante onerosa num cenário em que a indústria já vem sofrendo o problema da baixa competitividade.

Em alguns setores como metalurgia, produtos de madeira e têxteis, a fatia da energia vai representar entre 5% e 6% do custo de produção. "A maioria das empresas não tem margens de lucro desse tamanho. Isso deve fazer inclusive com que as empresas repensem novos investimentos", reforça Sant'ana.

Embate

"Surpresa" do governador vira motivo de discussão na Assembleia

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Chico Marés

Na Assembleia, a "surpresa" do governador Beto Richa (PSDB) com a autorização de aumento nas tarifas da Copel foi encarada com espanto pela oposição. "É absolutamente incompreensível que o governador venha a público dizer que está surpreso com algo que ele mesmo solicitou", afirmou o líder do PT, Tadeu Veneri. Para o deputado, a decisão pelo aumento foi "tecnicamente correta" por parte da companhia, mas ocorreu porque a empresa "especulou no mercado de energia" e ficou com problemas de caixa.

Já o líder do governo na Assembleia, Ademar Traiano (PSDB), disse que "a conta pelo possível aumento de energia deve ser atribuída exclusivamente ao governo federal". O deputado afirmou que o pedido ocorreu por causa de "políticas desastrosas" da União no setor de energia, mas ressaltou que ainda não há uma decisão final sobre aumentar ou não as tarifas.

Traiano minimizou a "surpresa" de Richa. "O governador não tem a obrigação de saber todos os atos de empresas estatais. Essa é uma decisão interna da Copel e da sua diretoria", afirma.

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