Após vitória, ações chegaram a cair 5%
O mercado financeiro parece não ter aprovado a vitória da Copel no leilão de transmissão, conquistada graças a deságios que surpreenderam concorrentes e a própria direção da Aneel. As ações preferenciais da companhia chegaram a perder 5,05% de seu valor durante o pregão de ontem da BM&FBovespa, mas fecharam o dia com queda bem mais suave, de 0,57%, cotadas a R$ 43,85. O Ibovespa, termômetro dos negócios da bolsa, recuou menos 0,31%. De acordo com o site Infomoney, o movimento financeiro também chamou atenção: foram cerca de R$ 100 milhões em negócios, bem acima da média diária de R$ 27 milhões dos últimos 21 pregões.
Quando o deságio é muito alto, o mercado geralmente desconfia que a companhia pode ter retorno muito pequeno em seu investimento, o que prejudicaria os acionistas. E, mesmo que não atinja o total de R$ 2,7 bilhões estimado pela Aneel, o aporte que Copel e State Grid farão nos dois lotes será volumoso.
Em entrevista à Gazeta do Povo, o presidente da Copel, Lindolfo Zimmer, afirmou que a empresa vai captar os recursos necessários de "fonte segura" o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e "a custos muito bons". "Tivemos um cuidado enorme [na preparação para o leilão], até por orientação do governo do estado, nosso principal acionista, que recomenda que só façamos o que for bom negócio para a Copel", disse Zimmer. "Embora nossa oferta tenha sido aparentemente agressiva, ela vai proporcionar uma taxa de retorno consideravelmente acima do custo de capital", garantiu.
Segundo Zimmer, a State Grid habilitou-se para a chamada pública que a Copel publicou meses atrás em busca de sócios. "Ela estudou muito o setor elétrico brasileiro, a Copel e outras empresas, e optou por estabelecer parceria conosco. Da mesma forma, técnicos nossos foram à China, também conheceram o que a empresa faz lá. E ela é muito competente no que faz. A State Grid gostou da Copel, nós gostamos dela, por isso resolvemos andar junto", contou.
Com a vitória no leilão de concessões realizado ontem, a Companhia Paranaense de Energia (Copel) vai aumentar sua carteira de ativos de transmissão em quase 85% em menos de três anos. Em sociedade inédita com a State Grid Brazil Holding, a Copel arrematou dois lotes que compreendem quatro subestações e 1.617 quilômetros (km) de linhas de transmissão nos estados de Mato Grosso, Goiás e Minas Gerais. Hoje a Copel opera 1.913 km de linhas, segundo o balanço mais recente. A State Grid é subsidiária da estatal chinesa SGCC, a maior empresa de energia elétrica do mundo.
As duas companhias foram as principais vencedoras do leilão da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que licitou cinco lotes de ativos em seis estados. Esses lotes englobam 1.697 km de linhas que, quando prontas, vão representar uma receita anual de R$ 224,2 milhões a suas operadoras. Juntas, Copel e State Grid arremataram o equivalente a 95% da extensão das linhas concedidas ontem e vão faturar juntas R$ 199,5 milhões por ano. As estatais federais Furnas, Chesf e Eletronorte conquistaram os outros três lotes.
A Copel seguiu ontem o roteiro que já havia testado, com sucesso, em outros leilões de transmissão dos últimos dois anos. Participou como minoritária (terá 49% em cada um dos dois consórcios que firmou com a State Grid); ofereceu grandes deságios em relação às receitas máximas definidas pela Aneel (de 43% em um lote e 37% no outro); e apostou em concessões fora do Paraná. Na época em que Roberto Requião governava o estado, a Copel era proibida de atuar como minoritária, oferecia lances mais conservadores e limitava seus investimentos ao território paranaense.
Investimento
Os novos sistemas terão de ficar prontos em até 32 meses após a assinatura dos contratos e, pela estimativa da Aneel, vão exigir investimentos de R$ 2,7 bilhões. Mas o presidente da empresa paranaense, Lindolfo Zimmer, dá a entender que as obras vão custar bem menos. "Nosso orçamento é outro. Por isso conseguimos oferecer um deságio tão grande [em relação à receita máxima definida pela Aneel]", disse o executivo. "Além de ter um conhecimento técnico muito grande, os chineses dispõem da possibilidade de fornecimento de materiais para a construção das linhas em condições muito competitivas", explicou.
Segundo Zimmer, as novas linhas vão gerar "ganhos de sinergia" à Copel. Isso porque elas vão interligar cinco hidrelétricas no Rio Teles Pires, no Norte de Mato Grosso, das quais duas já estão em construção uma delas, a de Colíder, pela própria Copel. "Ter vencido o leilão não significará apenas expansão da transmissão da Copel. Foi importante do ponto de vista econômico e estratégico", disse o executivo. "A usina de Colíder está antecipada em seu cronograma, deve ficar pronta antes do previsto. Com as linhas de transmissão, poderemos gerar energia mais cedo que o esperado, o que vai elevar a rentabilidade da usina e das próprias linhas."
O presidente da Copel disse que a empresa trabalha para gerar energia em Colíder em meados de 2014, seis meses antes do que prevê o cronograma oficial. E confirmou que a Copel pretende disputar as concessões das três hidrelétricas do Teles Pires que ainda não foram leiloadas: "Já temos base estabelecida lá, o que nos permite certa sinergia, certa otimização de custos. Já conhecemos a região e sua geologia, o que nos dá algumas vantagens".
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