A perda de grandes clientes industriais para outras geradoras reduziu o volume de energia fornecido pela Copel nos primeiros nove meses deste ano. De janeiro a setembro, a empresa forneceu um total de 13.978 gigawatt hora (GWh), com queda de 0,2% em relação ao mesmo período do ano passado. Embora tenha ocorrido crescimento no consumo das classes residencial (2,8%), comercial (4,9%), rural (2,4%) e outras categorias (2,6%), a redução de 5,3% no consumo das indústrias que respondem por 38,8% do mercado da companhia acabou sendo determinante para a queda no volume total.
Em comunicado aos investidores, a estatal atribuiu a queda do consumo industrial a três fatores: a estiagem prolongada, que provocou quebra de safra e reduziu a produção da agroindústria; a valorização do real, que reduziu as exportações de importantes fábricas do estado; e a saída de consumidores que optaram pelo chamado "mercado livre". Somente grandes empresas podem participar desse mercado, que tem contratos e tarifas diferentes do mercado cativo no qual se enquadra a maioria dos consumidores.
A Copel também vende energia para o mercado livre, por meio da Copel Geração. Mesmo assim, acabou perdendo clientes para outras fornecedoras. Nos primeiros nove meses de 2005, 94,4% da energia que passou pelas linhas de transmissão da Copel Distribuidora (que atingem quase todo o Paraná) foi fornecida pela própria Copel. Esse índice caiu para 91,1% nos primeiros nove meses deste ano, o que indica que a participação das outras geradoras de energia cresceu de 5,6% para 8,9%. O total fornecido pelas concorrentes passou de 834,5 mil MWh para 1,36 milhão de MWh no período um acréscimo de 63%.
Para o ex-diretor da Copel Ivo Pugnaloni, que hoje dirige a consultoria Enercons, a estatal tem competitividade para atuar no mercado livre, mas estaria sendo pouco flexível na negociação dos contratos. "A Copel tem uma das menores tarifas do Brasil no mercado cativo, mas precisa ter mais flexibilidade na sua área de geração, que opera com consumidores livres. Os produtores independentes de energia facilitam a negociação de preço, prazo de pagamento, duração de contrato, multas e garantias", diz o consultor. Segundo ele, a economia média para quem entra no mercado livre é de 25%.
A Copel admite que houve perda de grandes clientes e que esse fator foi o principal responsável pela queda do consumo industrial, mas argumenta que sua rentabilidade não foi afetada. Além disso, o reequilíbrio entre os preços da companhia e de suas concorrentes estaria estimulando uma volta de consumidores à Copel Geração [mercado livre] e até mesmo à Copel Distribuidora [mercado cativo]. "Essa migração de clientes para outras produtoras de energia foi um movimento que ocorreu nos últimos três ou quatro anos e durou até o início de 2006, mas ainda afeta um pouco o consumo deste ano", diz a gerente de estudos de mercado da estatal, Margarete Pisetta de Almeida. "Mas esse quadro está mudando, porque o preço do mercado livre está ficando mais alto, e algumas empresas estão procurando a Copel novamente."
Margarete diz que, há alguns anos, os produtores independentes tinham grande sobra de energia e por isso ofereceram à indústria preços muito mais baixos que os da Copel, que tinha menos energia sobrando. "Isso não foi exclusividade do Paraná. Aconteceu em todo o Brasil", explica. Agora, segundo a gerente, a oferta de energia das outras companhias está bem mais limitada, e a tendência é que o preço do mercado livre suba. "Em alguns casos, o preço já está mais alto."
João Carlos Cascaes, consultor na área de energia e ex-presidente da Copel, acrescenta que outro fator pode ter motivado a queda no consumo industrial: o investimento em novas tecnologias por parte de algumas fábricas. "Algumas compraram novas caldeiras, que permitem o uso de parte da pressão para a produção de energia", diz Cascaes. O consultor cita como exemplo a Iguaçu Celulose, de Piraí do Sul (Campos Gerais), que segundo ele se tornou quase auto-suficiente em energia elétrica graças ao novo equipamento.