BC foi mais comedido desta vez
A nova taxa Selic, além de mudar a forma de rendimento da poupança, vai baratear empréstimos e financiamentos nos próximos meses. O objetivo é evitar uma desaceleração maior da economia. A decisão foi unânime.
No comunicado distribuído após o anúncio, os diretores do BC afirmam que "neste momento, permanecem limitados os riscos para a trajetória da inflação", e que, "dada a fragilidade da economia global, a contribuição do setor externo tem sido desinflacionária".
O fraco desempenho da economia brasileira e a preocupação com o nebuloso cenário externo influenciaram a decisão, mas os diretores do BC optaram pela pacirmômia no corte dessa vez. Em abril, a queda havia sido de 0,75 ponto porcentual.
Comedimento
Como o juro passa a orbitar em um patamar inédito, o entendimento é de que é preciso ter uma dose extra de atenção com as consequências que a medida pode ter na economia. "O acúmulo das medidas monetárias e fiscais gera efeito na economia e é preciso avaliar o impacto disso. Por isso, o BC decidiu ser mais comedido", diz o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves. Antes, o menor juro da história havia sido de 8,75% entre julho de 2009 e abril de 2010.
Também pela primeira vez o BC explicitou os votos de todos os seis diretores, além do presidente Alexandre Tombini, que fazem parte do Copom. Essa nova regra de transparência que passa a valer a partir de agora. Além de Tombini, votaram pela redução Aldo Luiz Mendes, Altamir Lopes, Anthero de Moraes Meirelles, Carlos Hamilton Vasconcelos Araújo, Luiz Awazu Pereira da Silva e Sidnei Corrêa Marques.
PIB
A queda na taxa Selic reflete a piora dos indicadores da economia brasileira, como estoques elevados, lenta reação da indústria e início de demissões em algumas empresas. Nesta semana, inclusive, o mercado passou a apostar pela primeira vez que o país deve crescer menos de 3% neste ano.
Enquanto isso, as previsões para a inflação não sinalizam preocupação. Com o agravamento da crise na Europa, há chance crescente de que a Grécia pode deixar a zona do euro. Além disso, existem sinais de que a China deve crescer menos, o que tem ajudado na queda dos preços das commodities, segmento em que o Brasil é grande exportador. (CR, com Agência Estado)
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central reduziu ontem em 0,5 ponto porcentual a taxa básica de juros da economia (Selic), para 8,5% ao ano, o mais baixo patamar da história. A redução, que já era esperada pelo mercado, dispara o novo gatilho da poupança, que passa a ter novas regras e vai render menos para os novos depósitos.
Pelo novo modelo, que passa a valer para os depósitos a partir de 4 de maio, a aplicação financeira mais popular do país passa a remunerar 70% da taxa Selic mais a Taxa Referencial (TR).
Com a Selic a 8,5% ao ano, a poupança renderá 6,17% ao ano (já considerando a variação da TR) segundo cálculos do governo. Para os depósitos realizados antes de 4 de maio, a remuneração anterior permance de 0,50% mais TR, cerca de 7,3% ao ano.
A partir de agora, um depósito de R$ 10 mil, por exemplo, renderá R$ 617 em um ano. Se já estava aplicado antes de 4 de maio, ele garantirá um rendimento de aproximadamente R$ 730 uma diferença de R$ 113. "Trata-se de uma diferença de cerca de 1%", lembra Pedro Guilherme Ribeiro Piccoli, professor de finanças da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
A queda pode se acentuar nos próximos meses, porque a expectativa de mercado é que o Banco Central faça novas reduções nos próximos meses em função da rápida deterioração do quadro econômico internacional e da perda de fôlego da atividade no Brasil. "Havia a expectativa de que o primeiro semestre seria ruim, mas esperava-se uma recuperação no segundo semestre. Agora já se prevê que a segunda metade do ano também será ruim", diz Lucas Dezordi, economista chefe da Inva Capital. Ele aposta que, se não houver uma recuperação mais consistente, a Selic possa fechar o ano cotada a 7,5%.
O próprio governo trabalha com a possibilidade de novas quedas na Selic, desde que não haja pressões inflacionárias expressivas, garantindo uma inflação de cerca de 5% no fim do ano.
Para Piccoli, o Brasil passa a trilhar um caminho de juros "civilizados", embora ainda esteja longe das condições de países desenvolvidos, onde o juro real é negativo. Com o corte de hoje, o Brasil caiu da segunda para terceira colocação entre os países com os maiores juros reais. Com 2,8%, fica atrás da China, com 3,1% e da Russia (4,3%).
Menos depósitos
A queda no rendimento da poupança, porém, deve desestimular o crescimento de novos depósitos, segundo Piccoli. Ele considera que títulos do tesouro direto e os fundos atrelados à inflação passam a ser atrativos para o investidor.
Com uma projeção de queda na taxa de juros nos próximos meses, o governo resolveu atrelar o rendimento da poupança para a Selic justamente para evitar que grandes investidores migrassem das modalidades de renda fixa para a caderneta de poupança.
Dentre os investimentos de renda fixa, estão principalmente os títulos públicos, usados pelo governo para financiar suas contas e que rendem de acordo com a Selic. Assim, com a queda na taxa de juros, os títulos do governo ficariam menos atrativos para os investidores em comparação com a poupança e o governo perderia uma importante fonte de financiamento.
De agosto do ano passado até agora, a taxa básica de juros já caiu 4 pontos porcentuais. Os fundos perderam rentabilidade frente à poupança porque pagam imposto de renda e têm taxa de administração e custódia. Com a Selic, a 8,5%, os investidores migraram dos fundos para a poupança, em busca de taxas mais atrativas.
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