O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central não cedeu às pressões internas do governo e confirmou suas sinalizações anteriores ao reduzir, nesta quarta-feira (24), o ritmo de corte da taxa Selic de 0,50 para 0,25 ponto percentual no primeiro encontro de 2007.
Com isso, a taxa Selic recuou de 13,25% para 13% ao ano, novamente a mais baixa da história brasileira. Apesar de o BC estar reduzindo a taxa desde setembro de 2005, os juros reais brasileiros ainda são os mais elevados do planeta. Não foi estabelecido um viés para os juros, de modo que a Selic permanecerá inalterada até o próximo encontro do Copom, em 6 e 7 de março.
Durante a divulgação do Programa de Aceleração do Crescimento, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, lembrou que o mercado projetava um corte da Selic nesta semana. Nesta quarta-feira (24), negou pressões em cima do BC e disse que sua afirmação não passava de uma "brincadeira". O presidente Henrique Meirelles, por sua vez, disse não se sentir pressionado.
No PAC, o Ministério da Fazenda estima um crescimento de 4,50% para este ano, enquanto o BC projeta uma expansão de 3,80% para 2007. Nas projeções do Ministério da Fazenda, o PIB cresceria 5% em 2008, 2009 e 2010, o que ajudaria a continuar o processo de queda da relação dívida/PIB que chegaria a 39,7% em 2010, contra 49% em novembro de 2006.
Para este cenário de crescimento e de queda da dívida/PIB do Ministério da Fazenda ser factível, porém, é necessário que os juros continuem em sua trajetória de redução. Quanto o mais rápido for a queda dos juros, mais impacto haverá no crescimento de curto prazo da economia. O impacto dos juros no crescimento econômico é notório, enquanto que os efeitos do PAC, que visa estimular investimentos, demoram um pouco mais para serem sentidos na economia.
No final da reunião, o BC divulgou o seguinte comunicado: "Dando prosseguimento ao processo de flexibilização da política monetária, o Copom dediciu reduzir a taxa Selic para 13% ao ano, sem viés, por cinco votos a favor e três pela redução da taxa Selic em 0,50 ponto percentual. Diante das incertezas associadas ao mecanismo de transmissão da política monetária, e considerando que os efeitos das reduções de juros desde setembro de 2005 ainda não se refletiram integralmente na economia, o Copom avalia que a decisão contribuirá para aumentar a magnitude do ajuste a ser implementado".
Fatores avaliados na reunião
Um fator que pesou contra uma redução maior, de 0,50 ponto percentual, no encontro de hoje foi o aumento da inflação no final de 2006 e início deste ano. O IPCA 15 divulgado nesta quarta-feira (24) mostra um aumento da inflação neste início de ano por conta dos aumentos das tarifas de transportes públicos e de combustíveis.
O próprio Programa de Aceleração do Crescimento anunciado pelo governo também contribui para um aumento da inflação. Nas atas do Copom, o BC já se mostrou preocupado, nos últimos meses, com o aumento de gastos do governo. Com mais gastos ainda em investimentos, conforme previsto no PAC, a preocupação aumenta.
Por outro lado, alguns analistas avaliavam que ainda haveria espaço para um corte maior dos juros, de 0,50 ponto percentual, pelo fato de a projeção do mercado financeiro para o IPCA deste ano estar abaixo de 4,10%. Ou seja, abaixo da meta central de inflação de 4,50% para este ano.
Política Monetária
O Banco Central fixa a taxa de juros básica da economia brasileira, a Selic, com base no sistema de metas de inflação, ou seja, determina um objetivo de inflação a ser buscado. Estas metas são definidas pelo presidente do BC, e pelos ministros da Fazenda e do Planejamento, tendo por base o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo).
Quando o BC corta os juros, a instituição estimula os gastos da população e das empresas por produtos e serviços. O processo contrário, de aumento ou de manutenção dos juros, impede um crescimento maior do consumo interno, o que serve para conter uma eventual elevação de preços.
Tanto para 2006 quanto para o ano que vem, a meta de inflação fixada pelo governo federal é de 4,50%, com um intervalo de tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo. Deste modo, o IPCA pode ficar entre 2,50% e 6,50% neste ano e em 2007 sem que a meta seja formalmente descumprida.
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