O Comitê de Política Monetária (Copom) piorou o tom do discurso sobre a possibilidade de que pressões localizadas sobre os preços possam crescer e se tornar um risco para a trajetória da inflação no País, ao afirmar, segundo a ata da última reunião do comitê, divulgada nesta quinta-feira pelo Banco Central, que essa probabilidade "se elevou". Na ata da reunião anterior, os mesmos diretores diziam, na época, que essa perspectiva "se mantém elevada".
A piora do tom ocorre porque, na avaliação da autoridade monetária, "o aquecimento da demanda doméstica e do mercado de fatores, bem como a possibilidade do surgimento de restrições de oferta setoriais, podem estar ensejando aumento no repasse de pressões sobre preços no atacado para os preços ao consumidor".
Na avaliação dos diretores, a perspectiva de que esses repasses do atacado para o varejo possam acontecer "depende de forma crítica das expectativas dos agentes econômicos para a inflação"
Essas expectativas do mercado para a inflação futura, lembra o documento, "mostraram elevação significativa nas últimas semanas e que continuam sendo monitoradas com particular atenção". No mesmo trecho do documento, o BC cita que o preço dos produtos importados tem "se elevado com intensidade".
Outro aspecto repetido no texto é que o aquecimento da demanda doméstica "pode desencadear pressões inflacionárias mais intensas no setor de não transacionáveis, por exemplo, nos preços dos serviços".
Diante do quadro, os diretores do BC repetem que "o Copom conduzirá suas ações de forma a assegurar que os ganhos obtidos no combate à inflação em anos recentes sejam permanentes". Dentro dessa estratégia, diz o texto, o BC vai acompanhar "atentamente a evolução da inflação e das diferentes medidas do seu núcleo".
Meta
A ata da reunião de julho do Copom mostra ainda uma piora na avaliação do BC a respeito da trajetória da inflação em relação à meta oficial, determinada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).
No documento, os diretores dizem que a atuação do BC tem sido fundamental para aumentar a probabilidade de que a inflação "volte a evoluir" de acordo com a meta. No documento anterior, de junho, a ata dizia que a ação da autoridade monetária era fundamental para que "a inflação no Brasil siga evoluindo" conforme a meta.
Na ata de julho, o Copom diz que a estratégia do BC tem sido persistente e é baseada em uma "uma atuação cautelosa e tempestiva" para tentar trazer a inflação de volta para a meta "mesmo diante de pressões inflacionárias em escala global". Para que os índices retornem à meta, o BC diz que "é preciso que os indicadores prospectivos de inflação, em particular a evolução esperada da demanda e da oferta agregadas, convirjam ao longo do período relevante para a política monetária".
O centro da meta de inflação para 2008 e 2009 é de 4,5%, com margem de tolerância de dois pontos porcentuais para baixo ou para cima, ou seja, em um intervalo entre 2,5% e 6,5%.