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Do contra

Para professor da UFPR, Selic tem de ficar onde está

O professor Luciano Nakabashi, da Universidade Federal do Paraná, é uma das poucas vozes dissonantes no que diz respeito ao futuro da taxa básica de juros. Ele crê que o Banco Central deveria mantê-la intocada. Seu argumento: quando não há informações suficientes sobre o cenário econômico, é melhor deixar as coisas como estão, à espera de definições.

Nakabashi lembra que o BC mantém sua atenção sobre dois indicadores em especial: o Produto Interno Bruto (PIB) e a inflação. "Nesse momento, a inflação está mais complicada do que o PIB", diz. Estimativas de bancos e consultorias que constam do relatório semanal Focus, preparado pelo próprio BC, apontam que o IPCA deste ano deve ficar acima do limite máximo da meta, que é de 6,5%.

Por isso, Nakabashi julga ser arriscado baixar mais ainda os juros. "Pode ser que o impacto do cenário externo não seja tão forte e não afete com tanta intensidade a atividade econômica no Brasil", observa. "Uma inflação alta tende a ser ruim até mesmo para a imagem do governo e da presidente", afirma.

Investigação

BC nega vazamento de decisão

Após a divulgação de notícias de que a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) investiga operações atípicas no mercado de contratos futuros de juros fechadas na semana da última reunião do Copom, no fim de agosto, o Banco Central divulgou nota ontem para dizer que é impossível "o conhecimento prévio da decisão" sobre juros. "A meta da taxa Selic somente é discutida em reunião reservada no segundo dia e fixada por maioria de votos dos membros do Copom, colegiado composto pelo presidente e pelos diretores do Banco Central. A decisão é imediatamente informada a toda a sociedade, por meio de nota publicada no sítio do Banco Central na internet e no Sistema de Informações do Banco Central (Sisbacen)", afirmou o BC.

Um corte de meio ponto porcentual hoje, outro de mais meio ponto no mês que vem. Esse é o principal "palpite" do mercado a respeito das próximas decisões que o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) deverá tomar. O primeiro ato dessa novela de suspense será definido hoje, ao fim da sétima reunião do Copom neste ano.

Palpite é um modo de falar: na verdade, as projeções são baseadas em modelos econômicos e matemáticos sofisticados, na experiência dos estrategistas dos bancos e em observações de analistas políticos. Segundo o Focus, esses levantamentos mostram que a texa Selic deve cair dos atuais 12% ao ano para a 11% até o fim de 2011.

Há quem defenda que o corte venha de uma vez só. É o caso do britânico Royal Bank of Scotland (RBS), cuja economista-chefe, Zeina Latif, prevê corte de um ponto porcentual. "Não vou defender a minha aposta com contundência porque as recentes declarações do presidente do BC reduzem bastante a minha convicção. Mas estamos mantendo a previsão", afirmou. Ela se refere à recente declaração de Tombini, de que cortes "moderados" dos juros daqui para frente são compatíveis com a volta da inflação ao centro da meta em 2012.

O controle da inflação é o principal objetivo da política de juros do governo. Ao reduzir os juros, o governo está dando um incentivo ao consumo (porque reduz a vantagem de guardar dinheiro na poupança ou na renda fixa e permite fazer compras financiadas a um custo menor) – portanto, abrindo caminho para o aumento dos preços. Que já andam altos: as projeções indicam que a inflação deve estourar o teto da meta para este ano, que é de 4,5%, com tolerância de dois pontos para cima ou para baixo.

Nastássia Romanó Leite de Castro, economista da corretora paranaense Omar Camargo, diz acreditar que o corte deve ficar entre 0,5 e 0,75 ponto. "As revisões do crescimento do PIB para menos mostram que o impacto da crise internacional pode ser mais forte do que se esperava até agosto", diz. Para ela, o cenário é realmente complexo, até mais do que em 2008/2009, quando os juros chegaram a cair para 8,75% ao ano, o menor nível em pelo menos duas décadas. "Controlar a crise exige medidas coordenadas de política monetária em vários países da Europa, nos Estados Unidos, na Ásia. E há situações muito diferentes e pontos de vista distintos sobre como agir", diz.

O foco mais recente de preocupação é a China. O crescimento do PIB anualizado do terceiro trimestre foi de "apenas" 9,1%, menor que o do trimestre anterior. "Se a China crescer menos, a demanda global deve cair, baixando também o preço das commodities", observa Lucas Dezordi, economista-chefe da butique de investimentos Inva Capital. Isso contribuiria para reduzir a inflação no Brasil, abrindo espaço para cortes nos juros. Dezordi acredita em um corte de 0,5 ponto, embora admita que não se surpreenderia com um talho de 0,75.

Mudança de opinião

Muitos dos economistas que criticaram o corte de meio ponto porcentual feito pelo Copom na última reunião, em 31 de agosto, agora pensam diferente. "Minha crítica era que a intenção do corte parecia ser priorizar o crescimento econômico, e não o combate à inflação. Hoje creio que a atitude não foi errada, porque a crise parece mais prolongada", observa Nastássia, da Omar Camargo. "Um banco central sempre tem mais informação ao seu dispor do que nós", comenta Dezordi, da Inva.

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