
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central aumentou nesta quarta-feira (19) a taxa básica de juros da economia, a Selic, em 1 ponto percentual, de 13,25% para 14,25% ao ano. Este é o maior patamar desde 2016 e a quinta alta consecutiva. A decisão foi por unanimidade. Em nota, o Copom sinalizou que uma nova alta "de menor magnitude" deve ocorrer na próxima reunião em maio.
"Diante da continuidade do cenário adverso para a convergência da inflação, da elevada incerteza e das defasagens inerentes ao ciclo de aperto monetário em curso, o Comitê antevê, em se confirmando o cenário esperado, um ajuste de menor magnitude na próxima reunião", diz o comunicado.
O aumento de 1 ponto percentual nas duas primeiras reuniões do ano tinha sido definido no período de transição entre o atual presidente, Gabriel Galípolo, e seu antecessor, Roberto Campos Neto. Galípolo assumiu o comando da autarquia no início deste ano. A próxima reunião será a terceira sob o comando do novo presidente do BC.
O Banco Central destacou a necessidade de uma "política monetária mais contracionista" diante da desancoragem adicional das expectativas de inflação, resiliência na atividade econômica e pressões no mercado de trabalho, e depreciação da taxa de câmbio. De acordo com o comunicado do BC, entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se:
- Desancoragem das expectativas de inflação por período mais prolongado;
- Maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais positivo;
- Conjunção de políticas econômicas externa e interna que tenham impacto inflacionário maior que o esperado, por exemplo, por meio de uma taxa de câmbio persistentemente mais depreciada.
O colegiado afirmou que o "conjunto dos indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho tem apresentado dinamismo, ainda que sinais sugiram uma incipiente moderação no crescimento". Além disso, a "inflação cheia e as medidas subjacentes mantiveram-se acima da meta para a inflação e novamente apresentaram elevação nas divulgações mais recentes".
Como aconteceu nas últimas reuniões, o Comitê reiterou que "segue acompanhando com atenção" como os desenvolvimentos da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros. "A percepção dos agentes econômicos sobre o regime fiscal e a sustentabilidade da dívida segue impactando, de forma relevante, os preços de ativos e as expectativas dos agentes", frisou o Copom.
O novo avanço da taxa de juros já era esperado pelo mercado financeiro, que agora convive com o receio crescente de que o BC ceda às pressões do governo e adote uma postura mais branda no combate à inflação.
O Comitê ressaltou que, para além da próxima reunião, a magnitude total do ciclo de aperto monetário será “ditada pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerá da evolução da dinâmica da inflação”.
Copom cita impacto de cenário externo "desafiador" na Selic
Para o Copom, o “ambiente externo permanece desafiador em função da conjuntura e da política econômica nos Estados Unidos, principalmente pela incerteza acerca de sua política comercial e de seus efeitos”.
Mais cedo, o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) manteve a taxa básica de juros na faixa entre 4,25% a 4,50% ao ano.
O Comitê considera que as incertezas da gestão de Donald Trump “tem gerado ainda mais dúvidas sobre os ritmos da desaceleração, da desinflação e, consequentemente, sobre a postura do Fed e acerca do ritmo de crescimento nos demais países”.