O Banco Central avalia que em meio aos sinais de retomada da demanda doméstica, os riscos para a inflação podem aumentar e que a política monetária precisa ser "especialmente vigilante" e será "prontamente adequada" caso surjam riscos à trajetória benigna dos preços.
As informações constam da ata da última reunião do Copom, publicada nesta quinta-feira, recebida pelo mercado como uma elevação de tom pelo BC em relação à inflação, diante de dados mais fortes vistos recentemente sobre preços e atividade, sinalizando um aumento de juro em breve.
O momento, segundo analistas, vai depender ainda dos próximos indicadores, mas a maioria vê uma alta em abril. Na semana passada, o Comitê de Política Monetária manteve a taxa básica de juros em 8,75 por cento ao ano.
Na ata, o Copom apontou como principais riscos para a inflação uma eventual elevação dos preços de commodities internacionais e, internamente, os efeitos cumulativos e defasados das medidas de estímulo econômico.
"O Copom avalia que, diante dos sinais de retomada da demanda doméstica, ocasionando redução da margem de ociosidade dos fatores de produção, evidenciada por indicadores de utilização da capacidade na indústria e do mercado de trabalho, e do comportamento recente das expectativas de inflação, podem aumentar os riscos para a concretização de um cenário inflacionário benigno", afirmou o documento.
"Nesse ambiente, cabe à política monetária manter-se especialmente vigilante para evitar que a maior incerteza detectada em horizontes mais curtos se propague para horizontes mais longos... Na eventualidade de se verificar deterioração do perfil de riscos que implique alteração do cenário prospectivo traçado para a inflação, neste momento, pelo Comitê, a estratégia de política monetária será prontamente adequada às circunstâncias."
O BC disse que as perspectivas para a economia doméstica continuam favoráveis, citando os dados de comércio, utilização da capacidade instalada na indústria, mercado de trabalho e oferta de crédito.
"A se confirmar a perspectiva de intensificação das pressões da demanda doméstica sobre o mercado de fatores, a probabilidade de que desenvolvimentos inflacionários inicialmente localizados venham a apresentar riscos para a trajetória da inflação poderia estar se elevando."
Nesse cenário, também se elevaria o risco de repasse de pressões no atacado para o varejo, segundo a ata.
Mas a autoridade disse que observará o cenário prospectivo para a inflação e não os dados correntes, que vêm mostrando uma alta bastante elevada neste começo de ano, devido a fatores pontuais e ao reajuste de ônibus em São Paulo.
Alta em breve
Para o mercado, os últimos dados fizeram o BC mostrar-se mais agressivo sobre a inflação neste documento; já que os preços correntes impactaram as perspectivas dos agentes para prazos mais longos, e os números da economia foram favoráveis, como a queda do desemprego.
"A principal mensagem é que a convicção quanto ao quadro inflacionário favorável deixou de existir. Ao mesmo tempo, ainda existem dúvidas quanto a uma deterioração rápida do cenário, motivo pelo qual entendemos que o BC aguardará mais uma reunião antes de começar a aumentar os juros. Mas o balanço de riscos piorou de forma clara", disse o Santander em nota.
Apesar de a maioria dos analistas ter esse cenário de alta em abril, não se descarta totalmente um movimento já na próxima reunião, nos dias 16 e 17 de março.
Lá, o BC terá à disposição o dado do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de fevereiro, que ainda terá pressões sazonais, de educação, enquanto em abril terá também os a inflação de março, que já deve começar a mostrar um arrefecimento. Os números do Produto Interno Bruto (PIB) do quarto trimestre já estarão disponíveis em 11 de março.
"O documento aponta para a alta dos juros em breve, mas não define se será na próxima reunião. A porta continua aberta para subir a taxa em março ou abril, a depender dos dados econômicos. Mantenho a previsão para abril", disse Flávio Serrano, economista sênior do Bes Investimento.
O BC disse que monitorará "com particular atenção" as perspectivas de inflação do mercado, que se elevaram desde a última reunião, em dezembro. Segundo o Focus, o mercado estima uma alta do IPCA neste ano de 4,62 por cento, acima do centro da meta de 4,5 por cento, que tem tolerância de 2 pontos percentuais para cima ou para baixo.
A previsão do Copom para a inflação deste ano também se elevou desde a reunião anterior, "mas segue ao redor do centro da meta". O prognóstico para 2011 foi mantido, "em torno" do centro. O BC não divulga na ata os números específicos, apenas no Relatório de Inflação.
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