O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central divulgou nesta terça-feira (17) a ata da reunião realizada na semana passada que elevou em 1 ponto percentual a taxa básica de juros, passando para 12,25%, e ainda prevê mais dois aumentos em 2025. Entre as justificativas para o reajuste estão novamente as dificuldades do cenário econômico interno e externo.
O documento revelou a preocupação com a inflação ainda persistente, as dúvidas em relação à responsabilidade fiscal do governo, as expectativas desancoradas e a resiliência da atividade econômica, o que pode exigir uma política monetária mais restritiva nos próximos meses.
O aumento da Selic foi aprovado por unanimidade entre os nove diretores do Banco Central, incluindo o atual presidente Roberto Campos Neto, indicado por Jair Bolsonaro (PL), e por Gabriel Galípolo, indicado por Luiz Inácio Lula da Silva (PT) que assume o comando da autoridade monetária em janeiro.
De acordo com a ata, o cenário atual se tornou mais adverso em relação à última reunião, com riscos inflacionários se materializando e exigindo uma resposta firme. O Copom aponta que a deterioração do quadro fiscal, a resiliência do mercado de trabalho e a elevação das expectativas reforçam a necessidade de manutenção de uma política monetária contracionista.
Isso, diz, sinaliza a necessidade de novos ajustes na Selic para conter as pressões inflacionárias e ancorar as expectativas do mercado.
De acordo com a ata, ainda há preocupação com as incertezas relacionadas à economia dos Estados Unidos, especialmente no ritmo de desaceleração da inflação e da atividade econômica, que causa impactos significativos sobre economias emergentes – entre elas, o Brasil.
“Os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas em um ambiente marcado por pressões nos mercados de trabalho”, pontuou o Copom (veja na íntegra) ao justificar o aumento da Selic e afirmar que mantém o objetivo de levar a inflação para o centro da meta de 3%.
O Copom afirma que os indicadores econômicos brasileiros mostram um mercado de trabalho aquecido e um Produto Interno Bruto (PIB) acima das projeções, refletindo dinamismo no consumo das famílias e na formação bruta de capital fixo.
Isso alimenta diretamente a inflação, que segue acima da meta estabelecida. As projeções para 2024 e 2025, de acordo com a pesquisa Focus, subiram para 4,9% e 4,5%, respectivamente.
O Copom destacou também a deterioração recente nos preços de alimentos, influenciada pela estiagem e pelo ciclo do boi, e o impacto da depreciação cambial sobre bens industrializados. A inflação de serviços, que possui maior inércia, também preocupa por estar acima do nível compatível com a meta.
“Os vetores inflacionários se intensificaram desde a reunião anterior, como hiato do produto mais positivo, o mercado de trabalho ainda mais dinâmico, a nova depreciação cambial, a inflação corrente mais elevada e as expectativas de inflação mais desancoradas, tornando a convergência da inflação à meta mais desafiadora”, pontuou.
O Comitê também avaliou os riscos para o cenário inflacionário, como a persistência da inflação de serviços, a desancoragem prolongada das expectativas e a possível continuidade de uma taxa de câmbio depreciada.
Contas públicas
A ata trouxe, ainda, a preocupação com a percepção dos agentes econômicos sobre a política fiscal. O recente aumento do risco-país e a piora das expectativas de inflação refletem uma visão de que a convergência entre as políticas fiscal e monetária é essencial para conter a inflação sem maiores impactos sobre a atividade econômica.
“O esmorecimento no esforço de reformas estruturais e disciplina fiscal, o aumento de crédito direcionado e as incertezas sobre a estabilização da dívida pública têm o potencial de elevar a taxa de juros neutra da economia, com impactos deletérios sobre a potência da política monetária e, consequentemente, sobre o custo de desinflação em termos de atividade”, ressaltou o Comitê.
Em relação à política monetária, o Copom reforçou a necessidade de cautela diante do cenário atual. A piora nas expectativas e nos indicadores correntes de inflação, diz, demanda uma postura mais contracionista para garantir a convergência da inflação à meta.
O Comitê também atualizou a taxa neutra de juros em seus modelos, elevando-a de 4,75% para 5% ao ano, devido à maior incerteza econômica nos riscos de alta da inflação:
- Desancoragem das expectativas de inflação por período mais prolongado;
- Maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais positivo;
- Conjunção de políticas econômicas externa e interna que tenham impacto inflacionário, por exemplo, por meio de uma taxa de câmbio persistentemente mais depreciada.
“Diante de um cenário mais adverso para a convergência da inflação, o Comitê antevê, em se confirmando o cenário esperado, ajustes de mesma magnitude nas próximas duas reuniões. A magnitude total do ciclo de aperto monetário será ditada pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerá da evolução da dinâmica da inflação, em especial dos componentes mais sensíveis à atividade econômica e à política monetária, das projeções de inflação, das expectativas de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos”, completa a ata.
Votaram por essa decisão os diretores Roberto Campos Neto (presidente), Ailton de Aquino Santos, Carolina de Assis Barros, Diogo Abry Guillen, Gabriel Galípolo, Otávio Ribeiro Damaso, Paulo Picchetti, Renato Dias de Brito Gomes e Rodrigo Alves Teixeira.
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