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Guerra, inflação, economia aquecida: o que o Copom vai olhar para definir os juros

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Guerra na Ucrânia e seus impactos nas commodities serão um dos fatores a serem analisados pelo Copom na definição da nova taxa de juros (Foto: Roman Pilipey/EFE)

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Guerra na Ucrânia, economia mais aquecida do que se esperava e inflação persistente são alguns aspectos que serão analisados pelos membros do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central na definição na nova taxa básica de juros, nesta quarta-feira (16).

Apesar de não haver consenso sobre o novo valor da Selic, economistas ouvidos pela Gazeta do Povo sinalizam para a continuidade das altas iniciadas em março do ano passado.

Um dos fatores sobre o qual o comitê irá se debruçar é a inflação persistente. O IPCA em fevereiro veio com uma alta de 1,01%, acumulando 10,54% nos últimos 12 meses, e acima do consenso de mercado, que era de 0,95%. Os números foram puxados pela alta de preços nas despesas relacionadas à educação.

"O IPCA de fevereiro veio acima do esperado, os combustíveis estão aumentando, há uma clara pressão nos preços dos alimentos e dos bens industriais", diz Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos.

Segundo Samuel Cunha, sócio e economista da H3 Invest, a alta em fevereiro mostra que a inflação não vem mostrando arrefecimento. Isto poderia levar, em sua avaliação, ao Copom manter a estratégia de alta de 150 pontos-base (1,5 ponto porcentual) na Selic. Com isso, os juros iriam de 10,75% para 12,25% ao ano. Ele destaca que os sucessivos choques nos preços estão levando a altas mais intensas e tendem a adiar o fim do ciclo de alta na Selic.

O Itaú, por sua vez, aponta que o Copom deve reduzir o ritmo de alta para 100 pontos-base, levando a Selic para 11,75% ao ano, mas com uma taxa final maior ao término do ciclo de altas (13%), que ficaria nesse patamar até o fim do ano.

Guerra na Ucrânia

Outro agravante é a guerra na Ucrânia, que vem pressionando o preço das matérias-primas. O CRB All-Commodity Index, um índice internacional que mede a variação das commodities, mostra uma elevação de 27% no acumulado de 2022. Petróleo tipo brent (+51%), milho (+29%) e trigo (+41%) são alguns produtos que puxam a alta.

“Não é a guerra que está causando este cenário adverso. Na realidade, ele está sendo intensificado pela questão militar”, afirma o estrategista-chefe da Davos Investimentos, Mauro Morelli.

Segundo o economista-chefe da Terra Investimentos, João Maurício Rosal, a alta nos preços das commodities ganhou mais tração com o conflito militar. “Já vínhamos com um cenário adverso, motivado pela falta de chuvas no Sul do país, na Argentina e no Paraguai, que impactou na produção de soja e terá reflexos no segmento de proteína animal.”

Rosal destaca que a guerra no Leste Europeu foi um choque de proporções maiores que impactou negativamente nas commodities. E, mesmo a valorização do real frente ao dólar – de aproximadamente 7% desde a última reunião do Copom – não foi suficiente para anular os impactos causados pela alta nas matérias-primas.

“A guerra está exercendo uma grande pressão sobre os preços e pode levar a altas adicionais na taxa de juros”, diz Rosal. Algumas casas de análise já trabalham com a possibilidade de o ciclo de alta ser encerrado no nível de 14% ao ano – o maior desde o fim de 2016.

A XP Investimentos aponta que a alta renovada de custos deve exigir maior persistência da política monetária para a convergência da inflação à meta.

Complicadores adicionais para o Copom

Não bastasse isso, há outra preocupação no cenário internacional. A volta de casos de Covid-19 na China, agora atingindo regiões como Xangai e Shenzhen (Leste da China), cria impactos de curto prazo, mantendo os gargalos nas cadeias de suprimentos.

Outro complicador, segundo Caio Megale, economista-chefe da XP Investimentos, é que os números da atividade econômica sugerem uma demanda final um pouco melhor que o esperado, ou seja, a economia está mais aquecida. O PIB do quarto trimestre de 2021 cresceu 0,5%, acima do consenso de mercado, que era de 0,1%. “Além disso, as vendas no varejo de janeiro também ficaram um pouco acima das projeções”, afirma.

Convergência adiada

A alta na inflação, que se mostra disseminada – 74,8% dos itens que compõem o cálculo do IPCA aumentaram em fevereiro, segundo o BC – está piorando as expectativas para a economia nos próximos anos. “É um número preocupante”, afirma Morelli. Ele é o maior desde janeiro de 2016.

Com isso, Rosal acredita que a convergência da inflação à meta perseguida pelo Banco Central ficará só para 2024. As projeções para a inflação nos próximos dois anos aumentaram na última semana, segundo o relatório Focus, do BC. “Há uma sequência brutal de choques e como pano de fundo temos o cenário político. Isto mostra as dificuldades de trazer a inflação para a meta”, diz o economista-chefe da Terra Investimentos.

Um ponto que pode trazer um pouco de cautela às análises do Copom, segundo Borsoi, é a repercussão fiscal da alta nos juros. “Temos uma parcela relevante da dívida que vence nos próximos 12 meses e que pode ser rolada.”

Realidade norte-americana

O FOMC (correspondente, nos Estados Unidos, ao Copom) também se reúne nesta quarta para decidir os juros da maior economia global. “Eles serão obrigados a agir bem tempestivamente, pelo fato de estarem bem atrás da curva. Não é descartada uma política monetária mais agressiva”, afirma Rosal.

Cunha, da H3 Invest, diz que os Estados Unidos vivem um cenário incomum. A inflação é a mais elevada nos últimos 40 anos, puxado pela energia e pelos alimentos. Segundo o US Bureau of Labour Statistics, os preços subiram 7,9% nos 12 meses encerrados em fevereiro.

Rosal admite que é factível uma elevação de 50 pontos-base nos juros americanos, levando-os para a faixa de 0,25% a 0,50% ao ano. “E o final do ciclo, nos EUA, pode ser superior a 2% ao ano”, complementa o economista da H3.

Morelli, da Davos Investimentos, não espera que o Fed “chacoalhe demais o barco”, referindo-se à possibilidade de aumentar a taxa americana em um montante superior a 25 pontos-base. “Isso acrescentaria mais volatilidade à economia mundial.”

É uma opinião parecida com a de Borsoi, da Nova Futura, que acredita em uma alta de 25 pontos-base. Ele espera fortes alertas no comunicado que embasa a decisão. “A economia americana vem de uma ociosidade e de um desemprego baixos”, diz ele.

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