Brasília (Folhapress e AE) O Banco Central manteve o conservadorismo mesmo com a inflação sob controle e com um crescimento econômico de apenas 2,3% no ano passado e manteve o ritmo no corte dos juros. O Comitê de Política Monetária do BC (Copom) determinou ontem o corte de 0,75 ponto porcentual na taxa básica de juros (Selic), que passa a ser de 16,5% ao ano. A decisão não foi unânime. Três dos seis diretores que votaram por um corte de 1 ponto.
Com essa redução, a Selic atinge o menor patamar desde outubro de 2004. Mesmo assim, a medida deve desagradar integrantes do governo, inclusive o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que chegou a pedir um corte de ao menos 1 ponto ao presidente do BC, Henrique Meirelles, na semana passada.
Esse foi o sexto corte consecutivo e o segundo dessa magnitude, já esperada pelo mercado financeiro. O primeiro corte promovido, em setembro do ano passado, foi de 0,25 ponto. Os quatro seguintes foram de meio ponto. Neste ano, na reunião de janeiro, o Copom aumentou o corte para 0,75 ponto. Isso ocorreu porque as reuniões deixaram de ser mensais e passaram a ocorrer a cada 45 dias.
O BC toma essa decisão mesmo com os analistas apontando que a inflação neste ano caminha para a meta, que é 4,5% medida pelo IPCA. Esse conservadorismo pode ser explicado pelo comportamento dos preços dos combustíveis neste ano. O BC vinha trabalhando com uma expectativa de reajuste zero para esse segmento, mas os preços estão subindo.
O controle da inflação, ao menos por enquanto não é ameaçado pelo crescimento da economia. No ano passado o aumento do Produto Interno Bruto (PIB) foi de apenas 2,3%, abaixo das previsões. Além disso, em 2005 o índice que mede a utilização da capacidade instalada foi de 80,7%, contra 82,9% de dezembro de 2004. Esse indicador mostra que a indústria tem capacidade de aumentar a produção no curto prazo sem causar aumento de preços.
Apesar de pequena, a redução tem como efeito positivo a menor rentabilidade dos títulos públicos. Como a maior parte deles é remunerada pela taxa Selic, os bancos buscarão outras aplicações com a redução dos juros, destinando mais recursos para as operações de crédito. Com mais dinheiro disponível, a tendência é que a taxa média de juros caia.
O efeito para o consumidor do corte de 0,75 ponto percentual será pequeno, já que a diferença entre a taxa Selic e a taxa cobrada das pessoas físicas é muito grande. Segundo cálculos da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac), a taxa média das operações de crédito ao consumidor passará de 7,58% ao mês para 7,53% ao mês, ou de 140,31% ao ano para 138,98% ao ano.
"Os consumidores que dependem de crédito podem esperar daqui para frente taxas de juros menores, porém convivendo ainda com taxas de juros em patamares extremamente elevados", disse Miguel José Ribeiro de Oliveira, economista da Anefac. Segundo Oliveira, o crédito foi encarecido nos últimos meses, mesmo com a queda da Selic, pela a alta demanda por financiamentos o segmento cresceu 37% em 2005, chegando a 30% do PIB. Só entre dezembro de 2005 e janeiro de 2006, o crédito para pessoa física cresceu 3,2%.