Brasília O maior ciclo de queda da taxa básica de juros (Selic) chegou ao fim. Por unanimidade, o Comitê de Política Monetária (Copom) optou pela cautela e manteve o atual nível da taxa Selic, em 11,25% ao ano, sem viés (tendência). No total, foram 18 cortes consecutivos desde setembro de 2005, que somaram 8,5 pontos porcentuais, e tiraram o país da liderança do ranking dos maiores juros reais (descontada a inflação) do mundo e o deixaram na segunda colocação. Hoje essa taxa está em 7%, nível considerado ainda muito elevado.
No breve comunicado após a reunião, os dirigentes do Banco Central (BC), que integram o Copom, explicaram o motivo da paralisação: "Avaliando a conjuntura macroeconômica, o Copom decidiu por unanimidade fazer uma pausa no processo de flexibilização da política monetária e manter a taxa Selic em 11,25% ao ano, sem viés." A ata desse encontro, o penúltimo do ano, será divulgada na quinta-feira da semana que vem. Só aí os economistas poderão ter uma idéia dos rumos da política monetária nacional. Mas poucos esperam que haja novo corte em breve.
"Acreditamos que o Copom deverá manter a taxa Selic estável por mais três ou quatro reuniões, período no qual os seus membros poderão colher informações relevantes no sentido de avaliar melhor o cenário prospectivo para a inflação", afirmou, em comunicado, o economista-chefe da Concórdia Corretora, Elson Teles.
A decisão tomada ontem já havia sido sinalizada na reunião de setembro, quando o Copom reduziu o corte de 0,5 para 0,25 ponto porcentual por unanimidade. Na época, os dirigentes do BC já mostravam alguma preocupação com a alta da inflação e o ritmo mais acelerado da atividade econômica, conforme explicou na ata dessa reunião. Mas na última semana, com a divulgação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de setembro, muitas previsões foram refeitas. Afinal, a inflação e não estava tão em alta como se temia.
Foi o suficiente para analistas acreditarem em novo corte de 0,25 ponto porcentual. A aposta, porém, foi frustrada. O economista da Mo-dal Asset Management, Alexandre Póvoa, era um dos que acreditavam em redução da Selic. "Apesar de achar que podia ter um novo corte, a decisão não foi uma surpresa. Foi coerente com os documentos escritos pelos dirigentes do BC", diz ele, destacando que a Selic entrou numa fase de ajuste fino.
A taxa de juros é o instrumento utilizado pelo BC para manter a inflação sob controle. Se os juros caem muito, a população tem maior acesso ao crédito e consome mais. Esse aumento da demanda pode pressionar os preços caso a indústria não esteja preparada para atender esse maior consumo. Por outro lado, se os juros sobem, a autoridade monetária inibe consumo e investimento, a economia desacelera e você evita que os preços subam.
Reação
O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, Paulo Skaf, lamentou a decisão do Copom. "Mais uma vez nos decepcionamos com a falta de entendimento da realidade demonstrada pelo Copom. Isso custa caro ao setor produtivo e à sociedade brasileira", afirmou Skaf.
Entidades do comércio, como a Fecomércio-RJ, também discordaram do Copom, já que "o aumento do consumo das famílias tem sido acompanhado pelo avanço da capacidade produtiva".
"Levando em conta os números da dívida pública, manter a Selic [...] significa que o governo deixa de economizar já no primeiro mês de pagamento do serviço da dívida cerca de R$ 3 bilhões, bem acima do programado pelo PAC [Progra-ma de Aceleração do Crescimento] para urbanização de favelas no estado do Rio de Janeiro, R$ 1,7 bilhão", disse o presidente, Orlando Diniz, em nota.
A Força Sindical também se pronunciou contra a parada nos cortes da taxa por meio de nota, afirmando que faltou ousadia ao Copom. Segundo a entidade, a manutenção dos juros "é nefasta para economia e irá causar um efeito psicológico negativo no setor produtivo".
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