Brasília O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) voltou a falar em parcimônia na ata divulgada ontem, referente à última reunião da entidade, ocorrida na semana passada. O documento revela que o corte de 0,5 ponto porcentual na taxa básica de juros (Selic), cuja decisão foi tomada na reunião, poderia ter sido ainda menor, de 0,25 ponto porcentual. A ata mostra que o BC vê "riscos latentes para uma nova alta nos preços dos petróleo nos próximos meses, que seria causada por um eventual inverno rigoroso no Hemisfério Norte e a fatores geopolíticos.
"Nos próximos meses, além de fatores geopolíticos, a estreita capacidade de refino e um eventual inverno rigoroso no hemisfério Norte têm o potencial de gerar volatilidade nos preços, o que, associado ao recente anúncio da Organização dos Países Exportes de Petróleo (Opep) de corte de produção de um milhão de barris/dia a partir do final de outubro, indica que os risco de curto prazo para os preços de produção são de elevação, diz a ata do Copom.
Apesar de admitir a possibilidade de uma nova alta nos preços médios da commoditie, o BC entende ser mais plausível a possibilidade de os preços da gasolina não sofrerem reajuste no mercado interno neste ano. "Esses preços continuam apresentando volatilidades, refletindo, entre outros fatores, tensões geopolíticas. É importante reconhecer, contudo, que a dinâmica observada nos últimos anos reflete, em grande parte, desequilíbrios estruturais no mercado de petróleo, sugerindo que houve uma mudança permanente de patamar nos preços do produto, informa o documento. Na semana passada, o barril de petróleo era negociado abaixo de US$ 60.
Os índices de inflação analisados pelos membros do comitê quase levaram à redução de apenas 0,25 ponto porcentual na Selic, mas o Copom decidiu reduzir a taxa em 0,5 ponto.
"Apesar de entenderem que diversos fatores respaldariam tal decisão e que a mesma contribuiria para aumentar a magnitude total do ajuste a ser implementado, os membros do Comitê concluíram que neste momento uma redução dos 50 pontos base na taxa Selic resultaria em maior adequação das condições monetárias correntes à melhora significativa no cenário prospectivo para a inflação observada entre as reuniões de agosto e de outubro", afirma a ata do Comitê. A taxa Selic foi reduzida por unanimidade, na última reunião, de 14,25% ao ano para 13 75%.
A "maior parcimônia" na condução do processo de flexibilização adicional da política monetária também aparece no documento. Essa observação tem sido expressa pelos membros do Copom para indicar a necessidade de cautela na redução da taxa de juros.
"Tendo em vista os estímulos já existentes para a expansão da demanda agregada, as incertezas que cercam os mecanismos de transmissão da política monetária e a menor distância entre a taxa básica de juros corrente e as taxas de juros que deverão vigorar em equilíbrio no médio prazo, o Copom entende que a preservação das importantes conquistas obtidas no combate à inflação e na manutenção do crescimento econômico, com geração de empregos e aumento da renda real poderá demandar que a flexibilização adicional da política monetária seja conduzida com maior parcimônia", afirma a ata.
De acordo com o Comitê, essa ponderação se torna ainda mais relevante quando se leva em conta que as próximas decisões de política monetária terão impacto concentrado em 2007.
Internacional
O BC acredita que os Estados Unidos já completaram o seu ajuste nas taxas de juros, mas reafirmou seu temor sobre a possibilidade de este processo ter sido excessivo e, conseqüentemente, levar o país à recessão. No entanto, o Copom avalia que há baixa probabilidade para um cenário de deterioração nos mercados internacionais.
"A avaliação dominante parece ser que a maior parte do ajuste da política monetária já teria ocorrido. Por outro lado, ganhou importância o temor de que esse aperto monetário nos EUA possa ter sido excessivo e que, portanto, a economia estadunidense possa entrar em recessão, com potenciais implicações para nossa economia", diz a ata da reunião.
Nesta semana, pela terceira reunião consecutiva, o Federal Reserve (Fed, o BC americano) manteve sua taxa de juros em 5,25% ao ano. A pausa foi estabelecida em agosto e mantida em setembro, depois de um ciclo de dois anos de altas.