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Copom sobe juros pela 4ª reunião seguida e taxa vai a 12,25% ao ano

Em decisão unânime, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, colegiado formado pelos diretores e pelo presidente da autoridade monetária, se reuniu nesta quarta-feira (8) e decidiu subir a taxa básica de juros da economia brasileira em 0,25 ponto percentual, para 12,25% ao ano. Com isso, os juros permanecem no patamar mais alto desde janeiro de 2009.

Este é o quarto aumento consecutivo da taxa de juros, que vem subindo desde o início deste ano com o objetivo de conter pressões inflacionárias. Para evitar uma alta maior dos preços, o BC atua para conter a procura por produtos e serviços. Em 2011, os juros brasileiros avançaram 1,5 ponto percentual, visto que estavam em 10,75% ao ano no final do ano passado.

Explicação

Ao fim do encontro, o BC divulgou a seguinte frase: "Dando seguimento ao processo de ajuste gradual das condições monetárias, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic para 12,25% a.a., sem viés. Considerando o balanço de riscos para a inflação, o ritmo ainda incerto de moderação da atividade doméstica, bem como a complexidade que envolve o ambiente internacional, o Comitê entende que a implementação de ajustes das condições monetárias por um período suficientemente prolongado continua sendo a estratégia mais adequada para garantir a convergência da inflação para a meta em 2012".

Expectativa do mercado e juros reais

A decisão sobre a taxa de juros veio em linha com o que acreditava a maior parte dos analistas do mercado financeiro. O próprio BC já havia sinalizado mudanças na política de juros ao informar que manteria um ritmo menor de elevação. Nas duas primeiras reuniões deste ano, os juros subiram 0,5 ponto percentual. No último encontro do Copom em abril, porém, a autoridade monetária reduziu o ritmo de aumento para 0,25 ponto percentual.

Com a subida da taxa básica da economia para 12,25% ao ano, o Brasil também se isolou na liderança isolada no ranking mundial de juros reais - que são calculados após o abatimento da inflação prevista para os próximos doze meses. Juros altos tendem a atrair capital para a economia brasileira e a pressionar para baixo o dólar.

De acordo com estudo do economista Jason Vieira, da corretora Cruzeiro do Sul, em parceria com Thiago Davino, analista de mercado da Weisul Agrícola, a taxa real de juros do Brasil avançou para 6,8% ao ano, mais do que quatro vezes o segundo colocado (Chile, com 1,5% ao ano). A taxa média de juros de 40 países pesquisados está negativa em 0,9% ao ano.

Sistema de metas para a inflação

Pelo sistema de metas de inflação, que vigora no Brasil, o BC tem de calibrar os juros para atingir as metas pré-estabelecidas. Para 2011 e 2012, a meta central de inflação é de 4,5%, com um intervalo de tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo. Deste modo, o IPCA pode ficar entre 2,5% e 6,5% sem que a meta seja formalmente descumprida.

Na última semana, os economistas do mercado financeiro baixaram sua previsão para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2011 de 6,23% para 6,22%, informou o Banco Central. Para 2012, por sua vez, a previsão dos economistas dos bancos para o IPCA permaneceu estável em 5,1%.

A autoridade monetária também já sinalizou que não estaria mais buscando, por meio dos juros e do compulsório (instrumentos que tem à disposição), o centro da meta de inflação neste ano. O diretor de Política Econômica do Banco Central, Carlos Hamilton Araújo, avaliou que seria "aceitável" um IPCA acima do centro da meta neste ano por conta da redução da oferta de alimentos - que pressionou para cima os preços no começo de 2011.

Cenário econômico

Os analistas ouvidos pelo G1 consideram que as medidas macroprudenciais adotadas pelo Banco Central em dezembro do ano passado, quando a instituição aumentou exigências para empréstimos e subiu a alíquota do compulsório (recursos que têm de ser mantidos nos bancos), retirando mais de R$ 60 bilhões da economia, além das subidas de juros efetuadas em 2011 e dos cortes de R$ 50 bilhões anunciados no orçamento federal, já começaram a desaquecer a economia - objetivo da equipe econômica para conter o crescimento da inflação. Porém, na opinião de alguns economistas, a indexação seguirá pressionando os preços.

"O otimismo de que a inflação na margem [dados mais recentes] fique mais comportada veio com os dados do PIB, que mostraram que o consumo não está crescendo muito, ao contrário de trimestres anteriores, o que dá indicação de que as medida macroprudenciais funcionaram. Isso arrefece um pouco a pressão de demanda interna. Conjugada com o arrefecimento das 'commodities' [preços de alimentos, minério de ferro e petróleo, entre outros], a questão fica um pouco mais resolvida", declarou Júlio Sérgio Gomes de Almeida, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI).

De acordo com ele, o IPCA deve ficar entre 6,2% e 6,3% neste ano, considerando juros em 12,50% ao ano no fim de 2011. Ele prevê um crescimento da economia de 4% para 2011. "O Brasil tem tudo, e as condições internacionais de 'commodities' acenam com isso, de já no final do ano, a gente siga um padrão de aumento mensal da inflação que resulta, se for repetido, em uma taxa no centro da meta. Em média, de 0,35% a 0,4% por mês", disse ele.

Para Sidnei Moura Nehme, a atividade econômica vai gerando dados que confirmam a perda de ritmo. Ele citou, em seu informe diário, a queda do nível de uso do parque fabril da indústria de transformação, o recuo da confiança do consumidor brasileiro, segundo dados da Associação Comercial de São Paulo, além de o IPCA de maio ter recuado para 0,47%, frente a 0,77% em abril.

"A expectativa é de que [o IPCA] confirme a tendência cadente nos próximos meses, havendo preocupação, contudo, em relação ao mês de setembro, quando ocorrem os dissídios de categorias fortemente representadas por sindicatos", avaliou Nehme. Ele também citou o fato de o IGP-DI de maio ter registrado crescimento de apenas 0,01%.

A avaliação de Juan Jensen, da Tendências Consultoria, é de que serão necessários aumentos de juros de um ponto percentual, escalonados até o fim do ano (para 13% ao ano no fim de 2011), para que o IPCA fique em 6,6% neste ano e em 5,2% em 2012. Para o crescimento do PIB, sua estimativa é de 3,9% em 2011 e de 3,7% no próximo ano.

"Tem muita coisa contratada para o ano que vem em termos de inflação. O salário minimo, por exemplo, vai ter um aumento de de 14% a 15% em termos nominais. Só isso tem impacto de 0,5 ponto percentual na inflação em 2012, principalmente via [inflação de] serviços. Têm alguns preços administrados [que vão subir], em função da inflação passada. Quase 50% dos itens do IPCA têm algum grau de indexação. A partir do momento em que a inflação descola do centro, que é o caso corrente, o trabalho para fazer com que a inflação convirja rapidamente para o centro da meta é maior", declarou Jensen.

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