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Mitigação

O que outros países estão fazendo para conter o impacto da Covid-19 na economia

A torre Pirelli, em Milão (Itália), com a inscrição "fique em casa" por causa do coronavírus: país lançou pacote 25 bilhões de euros com medidas para fortalecer o sistema de saúde e a Defesa Civil, além de ajudas para famílias, empresas, trabalhadores e autônomos.
A torre Pirelli, em Milão (Itália), com a inscrição "fique em casa" por causa do coronavírus: país lançou pacote 25 bilhões de euros com medidas para fortalecer o sistema de saúde e a Defesa Civil, além de ajudas para famílias, empresas, trabalhadores e autônomos. (Foto: Miguel Medina/AFP)

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Abalados pela difusão do coronavírus, os países mais afetados pela pandemia estão usando artilharia pesada para tentar conter os efeitos negativos na economia. O medo é que o mundo inteiro entre em recessão.

Muitos governos já anunciaram medidas anticíclicas para estimular o sistema financeiro, salvaguardar as pequenas e médias empresas e proteger famílias e trabalhadores. Outros estudam pacotes emergenciais para tentar reverter o quadro.

Nos países onde foi decretada a quarentena total – como Itália e Espanha, que somam 100 milhões de habitantes –, o Produto Interno Bruto (PIB) sofrerá duros golpes em 2020. Outras nações, como França e Estados Unidos, caminham para destinos parecidos, o que joga o mundo ainda mais na incerteza.

O Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) já deliberou pela redução dos juros de seus títulos públicos duas vezes desde o início do mês. As decisões, tomadas a toque de caixa, acompanhadas de uma rodada massiva de quantitative easing, buscam evitar uma recessão catastrófica pela frente. "A ação do Fed coloca em xeque a visão de que o mercado pode se ajustar e se sustentar por si só. Em situações extremas, o Estado precisa utilizar seus mecanismos e ferramentas para evitar o pior", aponta André Galhardo, economista-chefe da Análise Econômica Consultoria.

Na segunda-feira (16), os chefes de Estados e os primeiros-ministros dos países do G7 fizeram uma reunião em videoconferência para garantir que estão dispostos a salvar a economia mundial "custe o que custar". Apesar dos esforços anunciados, crescem as dúvidas sobre a real eficácia das medidas.

"Desde 2008, por exemplo, o Banco Central Europeu (BCE) vem estimulando a economia com juros baixos. A autoridade monetária já injetou trilhões de euros na economia que, basicamente, foram utilizados para salvar bancos. A economia europeia há tempos não consegue registrar resultados pujantes e fica entre a cruz e a espada. É possível que o Fed e a economia estadunidense sigam pelo mesmo caminho – o do salvamento de instituições financeiras, sem impactos na economia real e no emprego", avalia Galhardo.

De acordo com Ricardo Della Santina Torres, professor de Economia da Sustentare e gestor de fundos de investimentos em Luxemburgo, as medidas expansivas são necessárias para estabilizar a economia. "As medidas de empréstimo que os bancos centrais estão fazendo servem para segurar a liquidez e para que a infraestrutura do planeta fique funcionando. Há uma corrida de curto prazo por caixa por parte das empresas, por isso o sistema fica sobrecarregado", avalia.

A esperança é que os trilhões injetados pelos bancos centrais na economia mundial sejam suficientes para garantir o acesso ao crédito por parte das empresas. "Diferente de 2008, os bancos estão muito fortalecidos. Como agora a crise é de liquidez, as medidas dos governos são necessárias para que as empresas continuem pagando os salários e não demitam seus funcionários", diz Torres.

Medidas econômicas contra o coronavírus

Estados Unidos

A Casa Branca se prepara para pedir ao Congresso a liberação de um pacote de estímulos de US$ 850 bilhões, que inclui US$ 50 bilhões para salvar as companhias aéreas, um dos setores mais afetados pela crise. Muitos países estão com as fronteiras fechadas e suspenderam os voos para conter a difusão do contágio.

No centro das medidas do governo Trump estão o corte de impostos sobre a folha de pagamento, um fundo para pequenas e médias empresas e empréstimos garantidos a indústrias, hotéis e aéreas. O presidente americano propõe também o adiamento dos prazos fiscais para pessoas físicas e empresas. Segundo o Tesouro americano, isso deve injetar 300 bilhões no sistema financeiro.

Com a queda drástica no turismo, que pode causar um encolhimento de 0,7% no PIB mundial, as companhias de cruzeiro também fazem pressão para entrar no pacote de ajuda ao lado das companhias de aviação.

Os trabalhadores que ficaram doentes por causa do coronavírus, que estão em isolamento ou são obrigados a ficarem em casa para cuidar dos filhos por causa das escola fechadas, têm direito a duas semanas de licença médica remunerada. A medida pode ser estendida por mais dez semanas.

China

O governo chinês e o banco central da China estão desde o começo da epidemia aplicando uma política expansiva para suportar a economia do país. Os dados econômicos divulgados na segunda (16), contudo, não são positivos. A produção industrial despencou 13,5% em janeiro e fevereiro em comparação ao mesmo período do ano passado. Os investimentos do setor privado encolheram 26,4% e as vendas no varejo, 20,5%.

No mesmo dia, o governo injetou o equivalente a U$$ 14,3 bilhões no sistema financeiro e o banco central ofereceu mais US$ 14,2 bilhões em empréstimos. O país está tomando medidas econômicas desde o começo de fevereiro para tentar estabilizar os mercados, mas a difusão do coronavírus em escala mundial tem agravado a situação dentro e fora da China.

Reino Unido

O Reino Unido anunciou na terça-feira (17) que disponibilizará 330 bilhões de libras em empréstimos "garantidos" às empresas – montante que representa 15% do Produto Interno Bruto (PIB) britânico – como forma de mitigar os impactos econômicos da pandemia de coronavírus.

O ministro de Finanças, Rishi Sunak, lançou também um programa de concessão de 20 bilhões de libras em isenção de impostos e subsídios a empresas. Cada uma delas poderá receber até 25 mil libras, a depender de seu tamanho. Um pacote de apoio às empresas aéreas também está em estudo, de acordo com o ministro.

Além disso, o governo pretende suspender por três meses o pagamento de hipotecas daqueles que estiverem contaminados pela Covid-19.

Itália

O país europeu mais afetado pela Covid-19 até agora lançou na segunda-feira (16) um pacote de estímulos de 25 bilhões de euros com medidas para fortalecer o sistema de saúde e a Defesa Civil, além de ajudas para famílias, empresas, trabalhadores e autônomos. Estes últimos vão receber um cheque de 600 euros no mês de março.

O governo italiano previu também o adiamento da entrega do imposto de renda e a extensão da licença parental para quem têm filhos para cuidar, já que as escolas estão fechadas. As empresas estão proibidas de demitir por dois meses. O objetivo é evitar que aconteçam casos como o da companhia aérea Norwegian Airlines, que na segunda-feira (16) demitiu 7,3 mil empregados.

Entre as medidas, o governo cogita também a nacionalização da companhia aérea Alitalia, que há muitos anos sofre uma grave crise e que agora está paralisada. Nos últimos três anos, o estado italiano injetou 1,3 bilhão na companhia para evitar a falência. Para evitar o colapso do setor aéreo, mais 600 milhões devem ser investidos no segmento.

França

“Não vou hesitar em usar todos os meios à minha disposição para proteger as grandes empresas francesas. Pode ser por meio de capitalização ou investimento acionário. Posso também usar o termo nacionalização se necessário", afirmou o ministro francês da Economia, Bruno Le Maire, na segunda-feira (16).

Apesar de não se referir a nenhuma companhia específica, o político demonstra a intenção do governo francês em salvaguardar seu setor industrial a todo custo.

O presidente Emmanuel Macron anunciou também um pacote de 45 bilhões de euros para proteger empresas e salários, além de garantir 300 bilhões de euros em empréstimos bancários anuais para pequenas e médias empresas.

As primeiras projeções são de que a pandemia vai retirar 1% do PIB francês em 2020.

Argentina

Na noite de terça (17) o governo argentino apresentou as linhas gerais do plano econômico para enfrentar a pandemia. O pacote prevê limites máximos por 30 dias nos preços de 50 itens, entre alimentos, medicamentos e produtos de higiene.

Nos setores mais afetados pela crise, os salários dos trabalhadores estarão a cargo do Estado. Entram na lista cinemas, teatros, turismo, transportes e hotéis. O objetivo das medidas é ajudar ao mesmo tempo trabalhadores e empresários.

Para aquecer a economia, o governo de Alberto Fernandez anunciou também 1 bilhão de pesos (R$ 79 milhões) de investimentos em obras públicas, ruas, reestruturações habitacionais, escolas e turismo.

Japão

Enquanto o banco central do Japão vai comprar títulos do governo no valor de US$ 4,7 bilhões para injetar liquidez no mercado, o primeiro-ministro Shinzo Abe anunciou uma redução de 10% dos impostos que mais afetam o consumo para estimular a economia.

Ao todo, o governo japonês prevê injetar 30 trilhões de ienes (US$ 280 bilhões) para enfrentar a crise provocada pelo coronavírus. "Estamos avaliando um amplo leque de opções em relação a impostos, política fiscal e desregulamentação", afirmou o ministro da Economia, Yasutoshi Nishimura, na terça-feira (17).

Austrália

O governo australiano lançou um plano de estímulos de US$ 21 bilhões, equivalente a 0,9% do PIB, sendo US$ 5,7 bilhões direcionados para os 6,5 milhões de australianos mais pobres que receberão uma ajuda pontual de US$ 900 para fomentar os consumos internos.

O restante será usado para as pequenas e médias empresas que podem receber cada uma até US$ 30 mil para garantir os salários. A estimativa é que sejam beneficiados 690 mil empresários que empregam 7,8 milhões de pessoas. O pacote prevê também incentivos para as empresas modernizarem os equipamentos industriais.

Coreia do Sul

Um dos países mais atingidos pela pandemia, a Coreia do Sul prepara um pacote de estímulos no valor de US$ 9,8 bilhões para amortecer o impacto da crise e a emissão de títulos de tesouro no valor de US$ 8,3 bilhões para financiar as medidas até o final do ano.

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