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Demanda em alta

Oásis em meio à crise: os setores da economia imunes aos efeitos do coronavírus

Apesar do coronavírus, alguns setores estão com demandas em alta
Apesar do coronavírus, alguns setores estão com demanda em alta: empresas de cosméticos, como a L"Oréal, adaptaram a produção para itens de higiene, como álcool gel. (Foto: Divulgação)

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A pandemia do novo coronavírus tem afetado muito o setor produtivo. Com grande parte do comércio fechado e a manutenção do atendimento apenas nos setores essenciais, o baque na economia é grande. Mas há alguns poucos setores em alta estão vivendo um momento peculiar, com um incremento na demanda neste período, que resultam até mesmo na contratação de trabalhadores, ainda que temporários.

Um levantamento feito pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) apontou que 7% das empresas consultadas registraram aumento na procura por seus produtos. Quando se trata de produção, 5% declararam ter registrado crescimento. Com esse movimento, algumas indústrias tiveram de adaptar o quadro de funcionários, com concessão de férias compulsórias para aqueles que fazem parte de grupos de risco e substituição ou ampliação no quadro de vagas.

Especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo adiantam que isso ocorre em setores-chave, como os de supermercados e farmácias, além da cadeia produtiva de insumos para saúde. Na outra ponta, com as restrições impostas pelo isolamento social, o e-commerce e os serviços de delivery também vêm observando crescimento na demanda.

Os setores em alta e suas lições

Ainda que sejam a minoria, esses setores representam um tipo de respiro em tempos de quarentena e também abrem uma possibilidade de adaptação para produção e prestação de serviços. Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, lembra que, no curtíssimo prazo, supermercados e farmácias, que são serviços essenciais, já tiveram aumento de fluxo, que deve ser acentuado nas primeiras semanas dos próximos meses, por causa do calendário de pagamentos salarial.

As empresas com atividades diretamente relacionadas à questão da saúde devem registrar alta na demanda, avalia o professor de economia do Insper Otto Nogami. Para ele, a indústria de equipamentos e acessórios hospitalares – do álcool gel, passando pela produção de máscaras e demais EPIs, além de camas e suportes para medicamentos –, e também a indústria plástica devem ser setores beneficiados pela crise.

A avaliação do professor é de que as indústrias de bem essenciais, como as que produzem material de limpeza e itens de alimentação, sofreram certo baque, mas pela característica de essencialidade seguiram funcionando, ao contrário do setor de serviços e itens supérfluos, que foram os mais afetados.

“A partir do momento em que você é uma empresa que faz parte de alguma cadeia que está se beneficiando dessa quarentena, seu faturamento irá cair, mas isso não implica em fechamento e encerramento da atividade. Muitas indústrias estão se ajustando a essa nova realidade, e quem tem condições de partir para a produção de produtos alternativos, que atendam a essa cadeia, vai conseguir reverter as perdas”, pontua Nogami.

O crescimento da procura por esses setores se reflete, também, na abertura de vagas de trabalho, ainda que temporárias. No varejo, as redes GPA (Pão de Açúcar), Carrefour e Big vão contratar 11 mil pessoas, entre funcionários efetivos e temporários. Na indústria, a BRF está contratando 2 mil pessoas, entre colaboradores próprios e terceiros, que vão manter a produção e substituir funcionários do grupo de risco, que foram orientados preventivamente a ficar em casa. A JBS também anunciou a abertura de 3 mil vagas de empregos, entre postos de trabalho diretos e indiretos.

Isolamento deve levar a salto do e-commerce

O setor de e-commerce também deve ter um boom na demanda. Pesquisa da Ebit/Nielsen mostrou que em março de 2020, após a confirmação dos primeiros casos da Covid-19 no Brasil, houve um aumento acima da média no número de pessoas que faziam a primeira compra online. Nos três primeiros meses, os itens mais buscados foram produtos de limpeza, como álcool líquido e álcool gel, além de itens como fraldas para bebês, termômetros e até alimentos enlatados e papinhas infantis.

Na visão de Gustavo Cruz, da RB Investimentos, o setor, que deveria registrar um crescimento contínuo ao longo do tempo, vai ter uma aceleração por causa do coronavírus. “O e-commerce de alimentos, o delivery, vai acelerar, e isso vai puxar outras partes da cadeia, como a área da logística”, aponta. Além do transporte, há uma aposta de que empresas que fornecem serviços de armazenagem e galpões não sejam prejudicados com queda de ativos e possam ser, inclusive, beneficiadas pela mudança no padrão de comportamento.

Esse novo padrão é explicado pelo isolamento. Como lembra o professor Otto Nogami, a partir do momento em que a pessoa fica mais tempo em casa, a capacidade de ela explorar produtos pela internet aumenta. “O desejo de consumir sai do comércio de rua para o comércio internet. Essa é uma característica que muitos varejistas, principalmente no segmento de roupas, intensificam nas compras pela internet”, avalia.

Embora não haja muitos dados consolidados, os serviços de delivery de comida, de restaurantes e mercados, ganharam impulso nas últimas semanas. Enquanto algumas plataformas dizem ser muito cedo para mensurar os impactos da doença nas operações e hábitos de consumo, o Rappi revelou à Reuters um aumento de 30% na demanda em toda América Latina.

Nogami lembra que esse setor de alimentação acaba alavancando outros, como a indústria de plástico, porque demanda embalagens para seus produtos – e os chamados estão crescendo. Bares, restaurantes e mercados tentam se adaptar ao novo tipo de serviço e ainda não há consenso se as vendas online irão compensar a queda no faturamento ocasionada pelas medidas de restrição de convívio.

De olho no nicho de entregas, as plataformas de transporte estão ampliando seu rol de serviços. A Uber Eats, por exemplo, segue os passos de iFood e Rappi ao incluir farmácias, pet shops e lojas de conveniências na lista de fornecedores. A Cabify vai criar uma modalidade de entregas, em cidades selecionadas e com uma parcela dos motoristas, que terão a opção de outro tipo de trabalho que não o de transporte de passageiros. Já a 99 trabalha para expandir a 99Food. Antes restrita a Belo Horizonte, a plataforma estreou em Curitiba e é uma aposta da empresa para ampliar suas operações no Brasil.

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