A corrupção e a má gestão em estatais federais, em especial na Petrobras, não são as únicas razões para a pior recessão da história. Mas ajudam a explicar uma parte importante da crise.
Na esteira das revelações feitas a partir de 2014 pela Operação Lava Jato, a petroleira – responsável por mais de 80% dos investimentos das estatais – reduziu, suspendeu ou abandonou uma série de projetos. A Eletrobras, que vinha perdendo receita desde a controversa renovação das concessões do setor elétrico, também foi alcançada pelas investigações. E, assim como as demais estatais, não pôde contar com o socorro do governo, que passou os últimos anos às voltas com sua própria – e gigantesca – crise de caixa.
Tudo somado, os investimentos das companhias controladas pela União caíram pela metade nos últimos três anos, arrastando consigo fornecedores de todo tipo, num efeito em cascata que derrubou o investimento produtivo e a economia como um todo.
No ano passado, as estatais federais investiram R$ 56,4 bilhões, 30% menos que no ano anterior e 50% abaixo do pico de R$ 113,5 bilhões de 2013, segundo dados do Ministério do Planejamento. Em relação ao tamanho da economia, os desembolsos dessas companhias caíram do equivalente a 2,1% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2013 para apenas 0,9% do PIB em 2016 – o menor nível em 15 anos.
As sequelas desse tombo aparecem na Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), que mede o investimento produtivo feito no país. No mesmo intervalo de três anos, ela desabou de 20,9% para 16,7% do PIB. A economia toda saiu menor dessa história: do fim de 2013 para cá, o PIB encolheu algo próximo a 7%.
Números como esses já fizeram muito analista cair na tentação de culpar a Lava Jato pela recessão. A questão é que os investimentos só caíram tanto porque antes estavam altos demais, inflados por superfaturamentos, projetos ruins e uso político das estatais. Práticas que levaram à explosão do endividamento dessas empresas, que agora cortam gastos e tentam vender ativos menos rentáveis.
Desperdício
Um exemplo entre tantos está nas refinarias “premium” que a Petrobras pretendia construir no Maranhão e no Ceará. Ambas foram canceladas em 2015, quando a petroleira finalmente admitiu que elas jamais dariam retorno. Antes, no entanto, a companhia gastou quase R$ 600 milhões na terraplenagem da área de 20 quilômetros quadrados que abrigaria a refinaria do Maranhão. Um dinheiro contabilizado como investimento, que gerou empregos e entrou nas contas da FBCF e do PIB. Mas que, a rigor, não serviu para nada.
“Houve um momento em que os investimentos aumentaram muito. Mas a produtividade deles caiu dramaticamente. E uma das hipóteses para isso é exatamente a má alocação do capital, o desperdício enorme que tivemos”, diz o economista Cláudio Frischtak, presidente da InterB, uma consultoria especializada em infraestrutura.
Outra refinaria, a de Pernambuco, foi orçada em US$ 2,5 bilhões, mas já consumiu US$ 19 bilhões e, oito anos após o início da construção, está longe de ficar pronta. A estatal venezuelana PDVSA, que seria parceira da Petrobras, pulou fora do projeto e deixou todo o prejuízo na mão da “irmã” brasileira.
“Foi muito dinheiro jogado pelo ralo, não só por corrupção, mas por falta de gestão, processos mal administrados, feitos apressadamente, sem um estudo adequado de viabilidade econômica”, diz Alberto Machado, professor da Fundação Getulio Vargas e diretor da área de petróleo da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq).
Para ele, não havia como erguer a refinaria pernambucana por menos de US$ 7 bilhões. “Estimaram um investimento menor apenas para poder tocar o projeto adiante”, diz.