O setor sucroalcooleiro do Brasil não deve ser beneficiado diretamente pela redução de subsídio aos grandes produtores norte-americanos proposto pelo presidente norte-americano Barack Obama, ontem (24), em seu discurso ao Congresso, de acordo com o presidente da União da Indústria da cana-de-açúcar (Unica), Marcos Jank.
Segundo ele, 80% dos subsídios norte-americanos estão concentrados em 20% dos produtores agrícolas, aqueles grandes produtores, tradicionais no cultivo de grãos e algodão. "Se aprovado no parlamento, esta medida terá um impacto principalmente na produção de soja brasileira", estima.
Jank lembra que o presidente George W. Bush também tentou cortar estes subsídios, em US$ 250 milhões ao ano, e não teve apoio do Congresso. "Atualmente, a maioria é democrata que possui um histórico de combate aos subsídios, o que pode ajudar. Mas o lobby dos grandes produtores agrícolas é forte", afirma.
Esta redução de subsídios aos grandes produtores agrícolas não afeta a produção de etanol dos Estados Unidos porque os subsídios dados pelo governo norte-americano ao etanol estão concentrados nos misturadores ou blenders. "São estes misturadores, que adicionam o etanol à gasolina, que recebem o subsídio de US$ 0,45 por galão de combustível renovável e não os produtores", afirma Jank. Segundo ele, os produtores de milho não recebem os subsídios dados ao etanol.
O executivo informa que são poucos os sinais de que Obama pretende defender o fim das tarifas de importação de etanol, que barram a entrada do produto brasileiro nos EUA. "O único avanço no discurso de Obama é que, além de ressaltar que o etanol é uma questão de segurança nacional, ele também destaca a importância do etanol no combate aos efeitos das mudanças climáticas", explica. "Obama também disse que vai destinar US$ 15 bilhões por ano para energias renováveis, incluindo biocombustíveis avançados", disse.
Segundo Jank, os norte-americanos definem estes biocombustíveis avançados aqueles que reduzem mais que 50% as emissões de gases de efeito estufa. O etanol de milho reduz estas emissões em apenas 30%. "Já o etanol de cana reduz as emissões em 90%", disse. Levando em consideração, a alta redução das emissões do etanol de cana, Jank acredita que existe a expectativa dos EUA considerarem o etanol brasileiro também como um biocombustível avançado e, desta forma, ser beneficiado por medidas para complementar a demanda norte-americana, que é mandatória e deve ser de 40 bilhões de litros em 2009.
Na opinião do usineiro Maurílio Biagi Filho, presidente do Grupo Maubisa e conselheiro da União da Indústria da Cana-de-Açúcar, a sinalização que poderá cortar subsídios a grandes produtores rurais norte-americanos pode ser "positiva para um país agrícola como Brasil". "É preciso que isso realmente aconteça, mas teremos de esperar um pouco para saber se é verdade", completou o empresário. O presidente da Açúcar Guarani, Jacyr Costa, acredita que toda a agricultura brasileira pode ser beneficiada pela medida. "Mas quem decide é o Congresso", disse.
Biagi disse ter acompanhado o discurso, ontem à noite e o considerou positivo, com o "Obama abordando os assuntos com precisão, apesar do tom protecionista em relação às empresas locais". O empresário elogiou ainda a posição de Obama em relação à necessidade de os Estados Unidos de produzirem e utilizarem combustíveis alternativos.
"O presidente Obama deixou claro que os Estados Unidos não podem ficar sem combustível alternativo e não podem ficar sangrando com dependência do petróleo", disse. "Temos de torcer, pois uma recuperação norte-americana é fundamental para o fim da crise mundial", concluiu Biagi.
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