Dilma também tratou de gestão dos recursos públicos
Além de analisar a situação econômica internacional e o que o governo precisa fazer para garantir uma taxa de crescimento de pelo menos 4 por cento neste ano, a presidente Dilma Rousseff focou sua reunião com os ministros na gestão dos recursos públicos.
Ela determinou que até o final do primeiro semestre todos os ministérios tenham sistema de monitoramento em tempo real da execução de todos os programas do governo. O argumento da presidente é que a classe média ficou maior e é mais exigente com a qualidade dos serviços públicos prestados.
"Isso é parte de um projeto revolucionário, progressista e absolutamente indispensável para a verdadeira reforma do Estado. Não através da demissão de servidores ou da perda de direitos previdenciários, mas através da gestão de um Estado mais profissional e meritocrático", disse a presidente, segundo o porta-voz da Presidência, Thomas Traumann.
A presidente pediu para que o secretário-executivo do Ministério da Previdência, Carlos Eduardo Gabas, fizesse uma apresentação do sistema de acompanhamento online da atuação de médicos-peritos.
Segundo uma fonte do governo, que participou da reunião, Dilma estava muito bem humorada, fez brincadeiras, mas usou seu estilo duro para exigir qualidade na gestão.
"Não me apresentem projetos que não parem de pé. E se apresentarem os projetos, tirem do papel", afirmou Dilma, segundo essa fonte, que pediu para não ter seu nome revelado.
A Casa Civil será responsável pela organização desse sistema que estará ao alcance da presidente em seu gabinete, o que provocou piadinhas dos ministros durante a reunião. Um deles chegou a dizer, em tom de brincadeira, que Dilma passaria a cobrar os auxiliares à meia-noite.
O corte do Orçamento deste ano será calculado para que o governo atinja sua meta de superávit primário cheia, mantendo a política fiscal adotada no governo Dilma Rousseff para viabilizar "uma política monetária mais elástica", disse nesta segunda-feira (23) o ministro da Fazenda, Guido Mantega, sem responder qual o valor do contingenciamento a ser adotado.
Além disso, para atingir a projeção de crescimento econômico de pelo menos 4 por cento neste ano, o ministro afirmou que o governo quer a expansão do crédito para o consumo e para as empresas. O objetivo é aumentar o volume de crédito entre 15 e 17 por cento em 2012.
"Temos que reduzir o custo desses empréstimos. Os spreads (bancários) estão muito altos ainda", disse o ministro a jornalistas logo após a primeira reunião ministerial do ano, referindo-se à diferença entre o custo de captação dos bancos e a taxa efetivamente cobrada ao consumidor final nos empréstimos.
Segundo fontes ouvidas pela Reuters, no encontro que teve neste sábado (21) com parte da sua equipe econômica, Dilma ordenou que os bancos públicos federais passem a atuar com mais força no mercado de crédito, para puxar a concorrência com o setor privado, repetindo a estratégia adotada na crise de 2008/2009 no governo do seu antecessor Luiz Inácio Lula da Silva.
Mantega salientou ainda que o governo manterá sua política fiscal para dar mais margem de manobra para a queda dos juros no país.
Desde agosto passado, o Banco Central vem reduzindo a Selic, num movimento que já somou 2 pontos percentuais, levando-a ao patamar atual de 10,50% ao ano. O BC vem ressaltando que a manutenção da política fiscal mais austera é condição importante para manter o cenário de afrouxamento monetário.
"O contingenciamento será suficiente para cumprir a meta fiscal, continuar nessa direção, viabilizando uma política monetária mais elástica, dando continuidade à mudança de combinação política fiscal e monetária que nós já praticamos em 2011", explicou.
E mesmo prometendo cumprir a meta de superávit primário - que é a economia feita pelo setor público para pagamento de juros- de cerca de 3 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano com corte de Orçamento, o ministro descartou que haverá restrições aos investimentos públicos.
Durante a reunião, Mantega ainda falou aos ministros que o plano é ampliar os investimentos até 2014 ao percentual de 24 por cento do PIB -o número atual está em 19,5 por cento.
"Vamos atrás do primário cheio em 2012, vamos conseguir fazer o primário cheio. E isso significa controle de gastos de custeio. Porém, significa viabilizar todos os investimentos que serão necessários para ativar a economia", disse.
Apesar do discurso, parte do mercado ainda se mostra cético. O especialista em finanças públicas da consultoria Tendências, Felipe Salto, aposta num corte de 60 bilhões de reais no Orçamento deste ano, insuficiente para atingir a meta de primário total.
"E mesmo assim eu acho que o governo não conseguirá atingir sua meta cheia se superávit, que deve ficar em torno de 2,6 por cento do PIB", afirmou.
Em 2011, o governo anunciou um corte de 50 bilhões de reais. Segundo fontes do governo ouvidas pela Reuters, é possível que o corte chegue até a 70 bilhões de reais, mas Mantega desautorizou essas estimativas, dizendo que elas não foram consideradas pela equipe econômica.
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