Os juros mais altos e o aumento das barreiras para concessão afetaram a busca pelo crédito, que deve registrar um crescimento mais modesto neste ano – 9%, a menor taxa desde 2003. Nos primeiros seis meses do ano, a maior expansão aconteceu justamente nas modalidades mais caras, como a do cheque especial e a do rotativo do cartão de crédito. A previsão é que isso impacte no aumento da inadimplência das pessoas físicas, que até agora tem se mantido controlada para um ano de desemprego em alta e renda em baixa.
Dados do Banco Central mostram que o saldo do cheque especial para pessoa física cresceu 12,7% de janeiro a junho, chegando a R$ 27,6 bilhões, e do rotativo do cartão, 16,6%, atingindo R$ 33,1 bilhões, enquanto outras linhas mais baratas como as de empréstimo pessoal, consignado ou não, aumentaram de forma bem mais amena. No caso do não consignado, o aumento foi de 4,5% no mesmo período, enquanto o consignado para servidores públicos cresceu 4,8%.
“Com o aumento dos juros base, a forma de captação dos bancos fica mais cara e menos recursos são colocados à disposição dos clientes. Por isso, o cheque especial e o cartão de crédito rotativo se tornam uma opção mais viável, pela facilidade de acesso mesmo”, afirma o economista Roridan Duarte, do Conselho Federal de Economia (Cofecon).
Enquanto isso, linhas que vinham em alta nos anos anteriores, como a de aquisição de veículos e de bens, estão em queda de 6,1% e 6,2%, respectivamente, mostrando que o recuo é maior em algumas modalidades. “O crédito está crescendo menos primeiro porque teve um recuo no consumo, o próprio consumidor se retraiu. Além disso, as instituições financeiras estão mais exigentes para liberar crédito. A demanda caiu e a oferta também”, explica Ricardo Humberto Rocha, professor do Insper.
Sem dinheiro
O risco da expansão do crédito por meio do cheque especial e do cartão de crédito rotativo é justamente as altas taxas de juros dessas linhas, que devem influenciar no aumento da inadimplência ao longo do ano. Até agora, os números de maus pagadores têm se mostrado controlados, apesar do cenário de inflação persistente.
O economista do Cofecon explica que isso tem acontecido porque a inadimplência ainda está refletindo o cenário global dos meses anteriores, quando o maior volume de empréstimos vinha dos consignados, que possuem riscos mais baixos de receberem calote. “Agora a tendência é que o índice aumente na medida que se aumenta a busca por estes créditos mais caros”, afirma.
Segundo Rocha, do Insper, antes da percepção da crise, o pico de inadimplência de 2011 e 2012 aconteceu por causa do excesso de consumo. “Agora os brasileiros estão recorrendo ao crédito de curto prazo e mais caro. Se eles conseguirem cobrir com outro tipo de crédito, pode ser que consigam pagar as dívidas. Se não, daqui um tempo vão ter que optar se vão ao supermercado ou se pagam o juros do cartão de crédito.”