O aumento do crédito no segundo trimestre deste ano ajudou a tirar o Brasil da recessão, mas os prazos de financiamento e as taxas de juros no caso dos veículos ainda não retornaram ao patamar pré-crise, apontam instituições do setor.
Segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre o Produto Interno Bruto (PIB) na sexta (11), a economia brasileira cresceu 1,9% em comparação aos três meses imediatamente anteriores impulsionada pelo consumo. Em relação ao período 'pré-crise' em 2008, conforme os dados, o PIB 'encolheu' 1,2%.
No financiamento de veículos, por exemplo, durante o período mais agudo da crise financeira internacional para o Brasil, após a queda do banco Lehman Brothers em setembro de 2008, consumidores encontraram prazos menores de financiamento e taxas de juros mais altas. A partir do segundo trimestre, os prazos voltaram a se alargar, apontam as instituições.
De acordo com o presidente da Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras (Anef), Luiz Montenegro, o financiamento de veículos novos não sofreu prejuízos por dois fatores: liberação de verba para montadoras e dos compulsórios por parte do governo.
"A quantidade de prestações porém foi reduzida no mercado inteiro, de 72 prestações para 60", pondera Luiz Montenegro.
Ele conta que no período pouco antes da crise, o financiamento chegou a ser feito em até 84 meses. "Isso gerou uma grande euforia de consumo, isso é natural. A economia estava indo bem, dissídios coletivos apontavam aumento percentual acima da inflação. Em céu de brigadeiro, todo mundo quer comprar."
Montenegro diz que o mercado não voltou a ofertar carros com financiamento de 84 meses porque ainda há resquício da crise, com índice de desemprego mais elevado e perda de renda dos autônomos.
A Ford Credit, banco de financiamento da montadora Ford, precisou reduzir o prazo de financiamento máximo de 72 para 60 meses durante o auge da crise. Além disso, estabeleceu entrada mínima de 10% do valor do carro sendo que anteriormente não obrigava a entrada. Pouco tempo depois a entrada deixou de ser necessária, mas a ampliação dos prazos só se normalizou
As taxas de juros, porém, estão mais elevadas. Segundo o banco, antes da crise, a Ford trabalhava com taxa média de juros de 1,36% ao mês. No auge da crise, a taxa chegou a 2,09% ao mês. Agora, a taxa média voltou a 1,45% ao mês.
Veículos usados
O presidente da Anef afirma, porém, que os revendedores independentes de veículos sofreram muito mais com a crise.
"Nesse setor houve grande retração porque os agentes financeiros tinham restrição de crédito. Além da crise da confiança dos agentes financeiros, houve também crise de confiança dos consumidores. Reduziu número de prestações, aumentou nível das entradas, maior critério para concessão de crédito."
O diretor do Banco BMG, Ricardo Geelbaum, que apesar de ser focado em empréstimos consignados, com desconto direto na folha de pagamento, tem cerca de 15% da carteira voltada para outros tipos de crédito, diz que o financiamento de veículos que era de 60 meses passou para, no máximo, 36 meses durante os três últimos meses de 2008 e os dois primeiros deste ano.
"A gente reduziu a operação de veículos usados e adotamos um filtro maior, uma análise de crédito mais criteriosa", narra Geelbaum.
Segundo o executivo, a partir de abril a situação voltou a se normalizar nas operações do BMG.
Mesmo no ramo de crédito consignado, a empresa sentiu os impactos da crise. "Passamos a focar as operações em funcionários públicos, de autarquia, onde a inadimplência é menor. Mesmo no consignado, para empregados de empresas privadas passamos a ter critério maior, com análise de crédito e do tempo de empresa. Mas isso se normalizou."