Dados apresentados ontem pelo chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes, mostram que o crédito pessoal é o empréstimo que mais sentiu as medidas macroprudenciais anunciadas no início do mês, como o aumento do depósito compulsório (recursos que têm de ser mantidos na autoridade monetária). Na média até o dia 9 de dezembro, o juro desses empréstimos subiu 1,2 ponto porcentual na comparação com novembro, para 43,2% ao ano. Boa parte do encarecimento dessa linha de crédito é explicada pelo aumento da margem cobrada pelos bancos na operação, o chamado "spread bancário" diferença entre a taxa de captação paga pelo banco e o juro cobrado pela instituição nos empréstimos.
Nos 9 primeiros dias deste mês, o spread dessa operação subiu 0,8 ponto, para 30,9 pontos. "Esse pode ser um início de efeito [das medidas]", reconhece Altamir. Apesar disso, ele ressalva que o número reflete o movimento de poucos dias. "Por isso, ainda é muito pouco para se tirar conclusões", justifica. No caso do financiamento de veículos, ele acredita que o reflexo vai demorar um pouco mais para ser observado. Por enquanto, o juro médio subiu 0,2 ponto na comparação com novembro, para 23% ao ano. O aumento reflete apenas a elevação do custo de captação dos bancos, já que o spread dessa linha de crédito seguiu estável.
Queda
No cheque especial, a trajetória da taxa foi exatamente o contrário. Nos 9 primeiros dias de dezembro, o juro médio cobrado caiu 4,6 pontos, para 164,7% ao ano. A redução é explicada por Altamir Lopes pelo recebimento do 13.º salário pelos trabalhadores, o que permite a muitos clientes quitar dívidas nessa operação reduzindo a demanda pelo crédito e diminuindo o juro médio praticado pelos bancos.
Segundo dados preliminares, o custo de captação pago pelos bancos aumentou 0,4 ponto porcentual na comparação com novembro, para 11,6% ao ano em 9 de dezembro. Esse aumento pode estar acontecendo porque, com o aumento do compulsório, há menor volume de recursos disponível no mercado, o que eleva o custo desse dinheiro às instituições. "O compulsório pode afetar indiretamente o custo de captação, via curva de juros futuros", explicou Altamir.
No início de dezembro, o spread médio do crédito livre seguiu trajetória contrária e caiu 0,5 ponto, para 23,1 pontos porcentuais. "Já a exigência de capital maior não afeta a curva de juros. Isso afeta o spread. Era de se esperar algum aumento, mas ainda não afetou", diz Altamir. Como resultado do maior custo de captação e queda do spread, o juro médio praticado no início do mês caiu 0,1 ponto, para 34,7% ao ano. Em 9 de dezembro, o total das operações de crédito livre havia crescido 2,1% na comparação com o fim de novembro.