Apesar do aumento da taxa de juros cobrada de consumidores e empresas no primeiro semestre de 4,5 pontos porcentuais, para 39,5% ao ano em junho , o crédito continua em expansão acelerada no país. O volume total de financiamentos cresceu 20% nos últimos 12 meses (só o crédito imobiliário subiu 50% no período), atingindo em junho R$ 1,834 trilhão, ou 47,2% do Produto Interno Bruto (PIB), o maior patamar da série do Banco Central (BC) iniciada em 1988. O ritmo continua acima dos 15% considerados saudáveis ou seja, sem pressionar demasiadamente a inflação pelo presidente do BC, Alexandre Tombini.
O chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel, admitiu que uma ampliação do crédito de 20% é ainda muito alta. Mas insistiu que a tendência é de queda, mencionando que, depois de ter crescido 20,6% em dezembro, o montante total de crédito na economia subiu 7,5% no primeiro semestre deste ano. "Você teve um segundo semestre de 2010 mais forte em termos de expansão e a nossa expectativa é de que no segundo semestre deste ano esse comportamento não se repita e tenhamos uma expansão menor", disse Maciel, citando os efeitos das cinco altas consecutivas da taxa Selic em 2011 e das medidas de restrição ao crédito.
Para Miguel de Oliveira, da Associação Nacional dos Executivos em Finanças (Anefac), para fazer com que o volume de crédito cresça em torno de 15%, o BC terá de adotar medidas macroprudenciais mais duras, como reduzir prazos de financiamentos longos. Com prestações mais altas, explicou, o consumidor pode pensar duas vezes antes de assumir uma dívida. "As medidas tomadas até agora não foram suficientes para provocar o que o BC quer, que é reduzir a demanda", disse Oliveira. Ele destacou que há uma grande competição entre os bancos. Além disso, indicadores positivos da economia, como crescimento da massa salarial e geração de empregos, são estímulos ao endividamento.
Inadimplência
O Banco Central também avalia que a estabilidade da inadimplência em junho foi o principal fator que contribuiu para a queda da taxa média de juros dos empréstimos bancários no mês passado. A instituição também vê espaço para que os pagamentos com atraso comecem a cair no segundo semestre. Levantamento do BC mostra que a taxa média de juros caiu em junho em relação a maio, depois de seis meses seguidos de alta, para 39,5% ao ano. A inadimplência ficou estável, após cinco altas seguidas, em 5,1%. "A tendência é um cenário de taxas menores [de inadimplência] no segundo semestre", afirmou Tulio Maciel.
O BC ainda não dispõe de estimativas sobre os atrasos no crédito imobiliário, que cresceu 50% nos últimos 12 meses. A participação dessa modalidade em proporção ao PIB subiu de 3,3% em junho de 2010 para 4,3% no mês passado ainda baixa em relação ao outros países. Por isso, a avaliação é de que não há necessidade de medidas macroprudenciais neste momento.
Dados parciais de julho mostram novo aumento dos juros nas primeiras semanas do mês, até o dia 13, com elevação da taxa média de 30,5% para 40,2% ao ano. O BC destaca, no entanto, que esses dados apresentam alta volatilidade. Em junho, por exemplo, o dado parcial mostrava juros maiores, mas a taxa média fechou o mês em queda. A redução dos juros no mês passado se deve ao recuo do "spread" bancário, parcela que embute despesas e riscos para os bancos, que caiu 0,7 pontos porcentuais no mês. No começo de julho, esse indicador voltou a subir.