A influência de algo tão subjetivo quanto a confiança entre as pessoas sobre o desempenho da economia impõe limites à tese de que os mercados são completamente racionais. Estudos recentes na área de desenvolvimento econômico colocam essa variável entre os fatores que estão ligado ao sucesso dos países mais ricos. Isso porque a crença no cumprimento de contratos e na honestidade dos vizinhos faz cair os custos das transações. Assim, a confiança varia conforme o lugar e é um valor que reforça o progresso de uma sociedade.

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Há pouco mais de dez anos, a revista Reader’s Digest resolveu fazer um teste de confiança. Jogou ao acaso carteiras com alguma quantidade de dinheiro em cidades pequenas e grandes de 14 países e esperou para ver quantas seriam devolvidas. Menos da metade voltou às mãos da revista. O que mais chama a atenção são as diferenças entre países. Na Dinamarca e na Noruega, todas as carteiras foram devolvidas. México, China e Itália tiveram os piores números. O Brasil não fez parte da prova, mas pode-se imaginar de que lado ele ficaria. A probabilidade de reaver as carteiras foi maior nas cidades pequenas do que nas grandes metrópoles.

O teste da Reader’s Digest, apesar de não ser científico, mostra algo que tem intrigado economistas especializados em desenvolvimento. Medidas de confiança são maiores nos países com os melhores índices econômicos e sociais do mundo. Países mais pobres têm taxas de confiança menores – geralmente os cientistas se baseiam em pesquisas que perguntam às pessoas se elas acreditam em desconhecidos. "Os indicadores mostram que há sociedades mais inclinadas a confiar e que há fatores culturais e institucionais que reforçam essa relação", diz Sérgio Lazzarini, professor do Ibmec-SP.

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As teorias em torno da confiança traçam uma relação complexa em que as relações sociais influenciam o acúmulo e distribuição de riqueza. A crença mútua faz com que as pessoas fiquem mais inclinadas a cooperar, diminui os riscos dos investimentos e aumenta a estabilidade das instituições. Além disso, a habilidade de se acreditar no outro é influenciada pelo nível de educação, pela desigualdade, pelo sistema jurídico, entre outros fatores.

Como é um fenômeno que varia ao longo do tempo, a confiança pode ser estimulada. A cientista política Rosana Katia Nazzari, professora da Universidade Estadual do Oeste (Unioeste), em Cascavel, desenvolve pesquisas sobre como o capital social (um conceito que é definido pela confiança entre pessoas e suas redes de relacionamentos) influencia o desenvolvimento. "Notamos que as cooperativas agrícolas, por exemplo, aumentam o capital social nas regiões onde atuam. Os custos das transações são menores e o desenvolvimento é mais acelerado", conta.

Em outra pesquisa em andamento, Rosana tenta verificar se a cooperação entre micro-empresas de um mesmo setor acelera o crescimento. "A princípio, elas poderiam competir. Estimulando a colaboração, porém, podemos fazer com que elas se dediquem ao que fazem melhor e com que elas encurtem o processo de inovação." Confiança, segundo a pesquisadora, é algo que pode ser alimentado por políticas públicas.