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O professor Craig Calhoun, da London School of Economics (LSE), não se impressionou pelo crescimento da economia brasileira acima do esperado no fim do ano passado. Um mês depois de receber o presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini – em uma das palestras que fez no exterior para acalmar os mercados –, Calhoun disse à reportagem que o maior problema brasileiro é o crescimento. Para ele, se a inflação é um dos obstáculos para o desempenho da economia, ela foi gerada pelo próprio governo, com os estímulos a vários setores.

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O crescimento de 2,3% em 2013, acima do previsto, muda as perspectivas para a economia brasileira?

Eu não estava tão pessimista sobre os dados do PIB ou as perspectivas para a economia brasileira. Mas os números não estão tão melhores para mudar dramaticamente a opinião de ninguém.

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O Brasil era tido como uma das economias mais promissoras. Ainda é?

Pode voltar a ser. Foi antes da crise, quando vinha de um longo período seguindo um padrão de reformas e crescimento, nos mandatos de Fernando Henrique e Lula. A inflação parecia ter sido contida durante o período de Fernando Henrique. Depois houve o medo de que voltasse pelas políticas mais populares no governo seguinte, mas não voltou assim tão mal. Pensou-se: "Agora, o Brasil pode ter os dois mundos: uma reforma econômica liberalizante voltada para o crescimento, e programas sociais que redistribuem renda". Veio a crise, o país não caiu de maneira tão dramática, e ainda recebeu uma quantidade razoável de investimentos estrangeiros.

Então não se saiu tão mal….

Mas no último ano e meio as coisas pareceram piores, como se vê nos relatórios econômicos. Não há um crescimento robusto. Não é um desastre, mas tampouco é bom. Os protestos de um ano atrás apontaram para problemas antigos, a Copa do Mundo ia ser um grande evento do qual todos iam se orgulhar, mas agora é um problema. O humor mudou. Em parte pelo desempenho econômico. Mas também por fatores políticos.

O senhor diz que durante as gestões de FH e Lula havia a sensação de controle da inflação. Na era Dilma, não?

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O que se vê agora não é a volta da inflação nos níveis de 20 anos atrás. É difícil dizer qual foi a verdadeira causa da inflação agora. Houve a transição no governo, a recessão global e uma escalada de certos tipos de demandas por subsídios governamentais para diferentes setores da economia. A inflação tem em boa medida a ver com essa tentativa de oferecer políticas para atender a essas demandas sem uma contrapartida de crescimento. Tudo isso se complicou com divergências políticas nesse período.

A política de estímulos do governo está por trás desse movimento inflacionário?

Sim. Muitos dos gastos com estímulos não aconteceram de maneira a produzir crescimento. Foram dirigidos por apoios eleitorais, por quem ia fazendo as demandas, e não apenas por considerações econômicas.

Mas estimular a economia na crise não era importante?

Eu diria que há problemas burocráticos e de implementação de políticas no Brasil. Não é que a estratégia econômica esteja toda errada. Mas a implementação tornou-se muito mais difícil do que se imaginava. Dar estímulos à economia não é uma má ideia. Mas quando são atravessados pela burocracia, corrupção, falta de reformas, o retorno não é o esperado. Custa caro do mesmo jeito, mas você não vê os benefícios.

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Esses gastos pesam nas contas públicas e aparecem as temidas manobras fiscais que tanto assustam os mercados...

Exatamente. Tudo isso assusta os mercados. Até mais do que precisa, ainda mais quando há a Argentina na porta ao lado. Mas o Brasil tem outra situação, como destacou aqui o Tombini. O papel dos estímulos é injetar recursos diretamente na economia e criar otimismo e investimento. Quando isso é visível, empresários investem. Mas quando acontece de maneira pouco organizada, tem bem menos efeitos. Os impactos positivos não vêm apenas do dinheiro, mas de toda a operação.

O que fazer para crescer mais de 2,3%?

Não há bala de prata. Crescer é a única solução para o Brasil para absorver os consumidores que não vão parar de se incorporar ao mercado e aumentar a demanda por uma vida melhor. O Brasil tem que tirar as travas do investimento. Uma das suas vantagens é que gera a maior parte do seu capital para investimento. Ou seja, pode financiar o seu próprio crescimento de forma mais eficiente que outros emergentes. Mas tem que criar um ambiente estável e seguro.