Em meio a uma guerra comercial com os Estados Unidos que parece não ter fim, a economia da China desacelerou e atingiu o índice mais baixo de crescimento em 27 anos.
Os dados, que vão ser publicados nesta segunda-feira (15/07), devem reforçar a crença do presidente Donald Trump de que seu colega chinês, Xi Jinping, está sob forte pressão para fechar um acordo que dê o oxigênio necessário à segunda maior economia do mundo.
“A guerra comercial tem um impacto enorme na economia chinesa”, assegura Edwar Moya, analista de mercado da trading Oanda. “Na medida em que as negociações se arrastam, podemos dizer que a economia chinesa ainda não chegou ao fundo do poço”.
Os números oficiais do Departamento Nacional de Estatísticas, que os economistas tendem a ver como muito conservadores, por aplicar uma espécie de filtro “cor-de-rosa” nos dados da realidade, mostram que o crescimento econômico anual recuou para 6,2% no trimestre encerrado em junho, contra 6,4% no trimestre anterior.
A projeção está dentro da banda estabelecida pelo governo, entre 6% e 6,5%, e também se amolda às previsões do mercado, de uma retração econômica gradual. Ainda assim, é o menor índice de crescimento da China desde que os dados começaram a ser divulgados, em março de 1992.
Meta de crescimento ameaçada
Analistas apontam que os números tornam difícil para o governo manter a meta de dobrar o tamanho da economia no período entre 2010 e 2020.
Mao Shengyong, porta-voz do Departamento Nacional de Estatísticas, disse que a economia está operando dentro de “um intervalo razoável” e que segue “numa tendência de desenvolvimento estável, firme e progressiva”.
“No entanto, é preciso notar que a situação econômica doméstica e internacional ainda é grave e complicada, o crescimento mundial diminuiu e houve aumento da instabilidade e da incerteza nos mercados externos”, declarou Shengyong em entrevista coletiva. “A economia está enfrentando pressão para desacelerar”.
Os números de exportações da China tiveram desempenho particularmente ruim, recuando 1,3% no trimestre findo em junho, em comparação com o mesmo período de 2018. Os embarques de malas, plásticos, mobiliário, calçados e têxteis foram os mais afetados, segundo uma nota do banco UBS.
As exportações para os Estados Unidos caíram 8,2% no trimestre, especialmente depois que as sobretaxas em mercadorias chinesas no valor de US$ 200 bilhões subiram, de 10% para 25%, no mês de maio. Um levantamento do governo americano apontou uma queda de 33% no volume de embarques totais chineses para o país, apenas em maio, ainda segundo o UBS.
A guerra comercial, no entanto, também está afetando os Estados Unidos. Dados da alfândega em Pequim, publicados na última sexta-feira (12), mostram que as importações chinesas de produtos americanos caíram 31,4% em maio, na comparação com um ano antes, aumentando o superávit chinês no comércio bilateral.
Em junho, no Japão, Trump e Xi Jinping concordaram em se reunir para reabrir as negociações de um acordo comercial, e, por ora, o presidente americano suspendeu a imposição de tarifas adicionais. Mas os analistas dizem que há pouco sinal de progresso em questões-chave, como o aporte de dinheiro para empresas controladas pelo governo e a prática de forçar investidores estrangeiros a revelar tecnologias como "pedágio" para entrar no mercado chinês.
“A incerteza causada pela guerra comercial é um fator importante e acreditamos que ainda irá persistir, apesar da recente pausa nas hostilidades”, disse Tom Rafferty, especialista em questões asiáticas na Economist Intelligence Unit. “As empresas ainda estão um tanto céticas de que os dois países possam chegar, em breve, a um acordo comercial e reconhecem que as tensões podem, inclusive, voltar a subir”.