A cada semana que passa, a indicação é de que o freio de mão da economia está cada vez mais puxado. Pesquisa feita semanalmente pelo Banco Central junto a bancos e corretoras - o Relatório Focus - mostram que nas últimas quatro semanas, as projeções do PIB para 2019 caíram de 2,48% para 2,01%. E para a produção industrial houve uma queda de 3% para 2,57%.
O cenário é mais desanimador do que um ano atrás. Na mesma semana de março de 2018, as instituições financeiras projetavam um crescimento de 2,83% para a economia e de 3,98% para a produção industrial.
Não bastasse as expectativas estarem em queda, o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) mostra um arrefecimento da economia. Em janeiro, no comparativo dessazonalizado com dezembro, houve uma queda de 0,41% no indicador.
O ritmo do crescimento das vendas no comércio também vem caindo mês a mês. A taxa anualizada em março de 2018 era de 3,8%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em janeiro, caiu para 2,2%.
Fenômeno parecido vive a indústria. Nos 12 meses encerrados em julho, a produção da indústria tinha avançado 3,4% em relação aos 12 meses anteriores. Em janeiro, esse crescimento minguou para 0,5%.
Apesar de os serviços virem em um ritmo mais forte de crescimento do que os demais setores - 3,1% nos 12 meses encerrados em janeiro, comparativamente a igual período do ano anterior -, o Itaú destacou nesta segunda, em publicação enviada a clientes, que a Pesquisa Mensal de Serviços do IBGE reforçou o panorama de um fraco crescimento no primeiro trimestre. A receita real caiu 0,3% em janeiro, comparativamente ao mês anterior.
As incertezas aumentaram
O Bradesco destaca, em relatório divulgado nesta segunda, que as incertezas em relação ao ritmo de recuperação aumentaram:
Os dados correntes, a continuidade da recessão argentina, a desaceleração global e a política fiscal restritiva são os principais vetores negativos que sugerem uma retomada mais lenta olhando à frente. Houve piora dos indicadores de confiança e os dados de mercado de trabalho perderam um pouco de tração, com o enfraquecimento da indústria limitando a continuidade da forte expansão do comércio que vínhamos observando.”
Segundo o chefe da Divisão Econômica da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Fabio Bentes, o atual patamar dos juros no Brasil é um fator que contribui para a demora no processo de retomada econômica.
“Além da necessidade de maior estímulo pela via do crédito, a melhora das condições de consumo tem esbarrado na lentidão da reativação do emprego.”
Marcelo Kfoury, coordenador do Centro Macro Brasil da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (EESP/FGV), aponta que no primeiro trimestre, deve haver algum crescimento, mas este deve ser pequeno o suficiente para forçar uma revisão para baixo nas projeções de crescimento do PIB. Segundo ele, é possível que essa expansão do PIB seja inferior a 2%. A última vez que o Brasil cresceu em um ritmo superior a isso foi em 2013.
Pressão para baixo na Selic
Esse cenário mais contido da economia pode favorecer, no médio prazo, uma nova redução na taxa básica de juro, a Selic, que atualmente está em 6,5% ao ano. As instituições financeiras ainda projetam que a taxa ficará neste patamar até o final do ano, mas já reviram para baixo a previsão para o ano que vem, de 8% para 7,75% ao ano.
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central deve avaliar melhor o cenário econômico na reunião desta terça e quarta, a primeira sob o comando do novo presidente do BC, Roberto Campos Neto.
"O Banco Central vai manter a taxa estável, mas deveria reduzir para 6%, pois o nível de atividade está baixo, o desemprego e a ociosidade apresentam taxas elevadas. Não há pressão inflacionária no horizonte, a evolução dos preços está comportada, portanto, uma redução de juros ajudaria, ainda que não seja suficiente, a retomar a atividade produtiva", afirma Nelson Marconi, coordenador executivo do Fórum de Economia da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (EAESP/FGV).