Ouça este conteúdo
O interior deverá puxar o crescimento da economia brasileira em 2023, alavancado pelo bom desempenho do agronegócio e que deverá se refletir em outros setores.
A expectativa de uma supersafra de grãos dá impulso às economias do Centro-Oeste e do Sul do país, as que mais devem crescer neste ano, segundo projeções do Banco do Brasil. Dos cinco estados com maior projeção de alta do Produto Interno Bruto (PIB) em 2023, quatro são dessas regiões.
O último relatório da Companha Nacional de Abastecimento (Conab) estima uma colheita de quase 310 milhões de toneladas, cerca de 14% mais que no ciclo passado. “Com condições climáticas favoráveis, a safra agrícola deverá bater recorde e a pecuária deverá ter crescimento acima de 1% no ano”, projetam os economistas Vitor Vidal e Myriã Bast, do Bradesco.
Os impactos deverão ser sentidos principalmente no primeiro trimestre. O banco projeta um crescimento de 7% no PIB agropecuário.
Outras instituições preveem expansão ainda maior. A mediana das projeções de economistas consultados semanalmente pelo Banco Central aponta para uma alta de 7,55% no PIB do setor neste ano.
É justamente o agronegócio quem responde pela leve melhora, ocorrida nas últimas semanas, nas estimativas para o PIB total do país em 2023 – a previsão mediana agora é de alta de 0,89%, segundo o mais recente boletim Focus.
Para os dois outros grandes setores da economia as expectativas são bem mais modestas. O consenso do mercado aponta para uma alta de apenas 0,3% no PIB da indústria e de 0,85% nos serviços.
A projeção do BB para o PIB nacional é mais otimista que a média do mercado. O banco projeta uma alta de 1,2% neste ano.
À exceção do Sul, que segundo o BB deve repetir neste ano a alta de 1,7% no PIB estimada para 2022, todas as outras regiões tendem a sofrer uma desaceleração no crescimento econômico, por causa de desempenhos mais fracos da indústria e dos serviços. Em geral, é o agronegócio que evita uma freada mais forte.
Agronegócio vai alavancar a economia do Centro-Oeste
A região que deve ter o maior crescimento no Brasil, em 2023, segundo o BB, é o Centro-Oeste. O banco projeta expansão de 2% no PIB regional. Um dos impulsionadores é a safra, que, de acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), deve atingir 151,1 milhões de toneladas na região, 9,4% a mais do que no ciclo passado.
“Esse cenário otimista do agro deverá refletir positivamente no desempenho da indústria alimentícia, que possui maior relevância nos estados de Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul”, apontam os analistas do BB.
O Banco Central aponta em seu boletim regional que a estimativa de mais uma safra de grãos recorde deve manter o dinamismo da economia da região e amortecer os impactos da desaceleração de outros setores, projetando um desempenho acima da média nacional.
Um dos destaques no Centro-Oeste tende a ser a recuperação do Mato Grosso do Sul, cujo PIB agropecuário encolheu 0,4% no ano passado, motivado por questões climáticas. Neste ano, a expectativa é de que ele cresça 14,7%, segundo o BB. A safra de grãos do estado deve aumentar 17,8%, para 25,9 milhões de toneladas, apontam estimativas da Conab.
No Mato Grosso, a expectativa é de que a atividade industrial – que teve forte crescimento de 21,7% no ano passado, de acordo com o BB – fique estável em 2023. Mesmo assim, o estado deve ser um dos que mais deve crescer neste ano, com PIB avançando 3,2%, segundo o banco. O dinamismo vem de outros setores, como o de serviços, que reflete o bom desempenho do agronegócio.
No Sul, estiagem ameaça colheita no RS, mas PR vem com bons números
O Sul, que veio de um crescimento abaixo da média nacional em 2022, deve ter uma expansão na atividade econômica maior que a nacional em 2023, segundo avaliação do BB.
A projeção do BB é de um incremento de 1,7% no Sul, puxado pela recuperação do agronegócio, tanto no Paraná (alta esperada de 16,2%) como no Rio Grande do Sul (44,4%).
A expectativa da Conab é de que os gaúchos colham 33,2 milhões de toneladas, 24,7% a mais do que na safra passada. As perspectivas para o Paraná são de uma safra de 45,7 milhões de toneladas, 35,4% acima do ciclo anterior.
“A agricultura tende a ser um fator dinamizador, tendo em vista que a região deve ser beneficiada pelo aumento na safra agrícola, com desdobramentos sobre as demais atividades”, diz relatório do Banco Central.
Mas as expectativas mais otimistas para o Rio Grande do Sul estão sob ameaça. A Conab aponta que a distribuição das chuvas no estado foi irregular e os volumes, inferiores a 150 mm em fevereiro. Além disso, altas temperaturas mantiveram baixos os níveis de água do solo, com culturas como soja e milho sofrendo restrição hídrica.
"A estiagem no Rio Grande do Sul vem causando prejuízos aos agricultores", diz Eduardo Três, gerente sênior de relacionamento da hEDGEpoint Global Markets.
Durante o verão, período crucial para o desenvolvimento da soja, o La Niña prejudicou as plantações. O clima quente e a ausência de chuvas fez com que os grãos semeados por volta de outubro e novembro de 2022 tivessem dificuldades para crescer e amadurecer até a época da colheita, que se estende de janeiro a abril. "Mesmo com chuvas no radar e já se manifestando em algumas regiões, ainda é difícil visualizar um bom cenário", diz Três.
A hEDGEpoint revisou para baixo as expectativas da safra gaúcha de soja de 22 milhões para 15 milhões de toneladas. E derrubou a estimativa da colheita de milho, de algo entre 5 e 6 milhões de toneladas, para somente 3 milhões. Segundo a Conab, na semana encerrada no dia 11, 59% da área plantada com milho já tinha sido colhida no RS. Da soja, nada tinha sido colhido.
Enquanto isso, os setores industrial e de serviços do Sul devem ser prejudicados pelo patamar elevado da taxa de juros. Segundo o BC, também se espera desaceleração no processo de retomada do mercado de trabalho da região, após um período de redução expressiva na taxa de desemprego e recomposição parcial dos rendimentos.
Benefícios sociais devem ajudar economia do Nordeste
Outra região que deve crescer acima da economia nacional é o Nordeste, cujo PIB deve avançar 1,6%, segundo o BB.
Uma série de fatores contribuem para esse cenário mais positivo, de acordo com o banco. Os benefícios sociais devem impulsionar o setor de serviços. O setor agrícola deve crescer com mais vigor no Rio Grande do Norte (24%), Piauí (7,8%) e Maranhão (5,0%). Além disso, a recuperação da indústria em Pernambuco e no Ceará devem puxar o PIB industrial.
“A manutenção do Bolsa Família em R$ 600 e o pagamento de um valor adicional de R$ 150 por criança com idade até seis anos a famílias em situação de vulnerabilidade social tendem a fomentar a economia no Nordeste, onde a participação desses benefícios em relação à massa total de salários é maior”, cita o BB em relatório.
Agronegócio e indústria extrativa sustentam economia do Norte
A economia do Norte do país deve crescer 1,5% neste ano, segundo o Banco do Brasil. Os principais motores do crescimento na região serão a forte expansão da produção agrícola no Tocantins, que deve levar a um crescimento de 14% no PIB rural no estado; a recuperação da indústria extrativa no Pará; e o avanço da tecnologia 5G, que favorece a indústria de eletroeletrônicos no Amazonas, limitando os efeitos da alta nos juros.
O setor de serviços também se beneficia da manutenção dos benefícios sociais que foram ampliados no segundo semestre de 2022.
O Banco Central, em seu boletim regional, destaca que a gradual recuperação da exportação de commodities minerais, aliada ao desempenho positivo da indústria de transformação, também podem contribuir para a continuidade do crescimento na região em 2023.
Sudeste deve ter crescimento mais tímido
A região que concentra 51,9% do PIB nacional é também a que deve ter o menor crescimento econômico neste ano. O BB prevê alta de apenas 0,7% para o Sudeste.
Segundo relatório do Banco Central, houve perda de ritmo em todos os setores do Sudeste no segundo semestre de 2022, indicando arrefecimento também no início de 2023.
Para São Paulo, a maior economia estadual, as projeções sinalizam para uma alta de 0,5% no PIB.
Em Minas Gerais, a esperada recuperação da pecuária leiteira e um crescimento na produção de café devem levar a uma expansão de 5,2% no PIB rural. No total, o PIB mineiro deve subir 1%, estima o BB.
No Rio de Janeiro, o PIB deve subir 1,2%, com a indústria se beneficiando do cenário mais favorável para o petróleo. Os impactos já foram sentidos no ano passado, com avanços na extrativa e na de transformação, nos segmentos de coque, derivados do petróleo e biocombustíveis.
O impulsionador da economia capixaba deve ser o setor de serviços, devido ao menor grau de comprometimento de renda das famílias do estado. Com a indústria e a agropecuária locais recuando, porém, o PIB do Espírito Santo tende a avançar somente 0,6%, estima o BB.