O vazamento de dados de usuários do Facebook extrapola as discussões sobre a privacidade on-line e a gravidade da ocorrência em si. O caso ressalta um desafio que a rede social precisa encarar. O Facebook cresceu de maneira tão rápida tanto em número de usuários como em complexidade técnica que enfrenta dificuldades cada vez maiores para controlar tudo o que ocorre dentro de seu portal. Além dos cerca de 500 milhões de usuários, o site abriga hoje mais de 1 milhão de aplicativos desenvolvidos por terceiros.
A falha revelada na semana passada pelo Wall Street Journal ocorreu por causa de características técnicas há muito estabelecidas para os softwares de navegação. Esse padrão permite que os sites gravem o endereço da página anterior, ou seja, o local de origem do usuário um pedaço de informação conhecido como "referrer", ou "referência". O Facebook costumava incluir o ID de seus usuários nesses códigos. No ano passado, especialistas em tecnologia mostraram como essa prática causava o vazamento de dados pessoais para anunciantes. A empresa corrigiu o erro, mas aparentemente não tratou do problema em referências usadas pelos aplicativos.
"O Facebook não está vazando dados de forma intencional, até porque não se beneficiaria disso. Mas remodelar seu sistema não é algo simples de ser feito", explica Christopher Soghoian, defensor dos direitos à privacidade do Centro de Pesquisa Aplicada em Cibersegurança da Universidade de Indiana. Recentemente, o pesquisador apresentou uma queixa contra o Google à Federal Trade Commission, órgão do governo norte-americano responsável pelas questões de proteção do consumidor. Para Soghoian, havia vazamento de informações porque o serviço de buscas incluía nos códigos de referência as palavras digitadas pelos internautas.
O caso do Facebook recebe mais destaque porque a rede social ainda tenta se recuperar de uma série de polêmicas envolvendo a questão da privacidade. Parte da controvérsia tem origem em medidas da própria empresa, que obriga sutilmente seus usuários a expor dados de maneira cada vez mais pública.
Este ano, por exemplo, houve muita reclamação quando o Facebook alterou o modo como os integrantes da rede expressam suas preferências por bandas ou filmes na prática, a companhia tornou mais difícil manter essas informações de forma privada.
Outro exemplo veio em maio, quando, após várias queixas de internautas e ativistas, a empresa fez uma grande mudança nas suas configurações de privacidade. O executivo-chefe do Facebook, Mark Zuckerberg, pediu desculpas e admitiu que as tais configurações eram, muitas vezes, de difícil compreensão. Apesar disso, problemas relacionados ao sigilo continuam a assombrar a companhia. "Trata-se de mais uma forte evidência de que o Facebook precisa pensar a privacidade de maneira mais integrada não simplesmente desenvolvendo políticas de uso, mas incluindo a proteção de dados no seu projeto técnico", diz Deirdre Mulligan, especialista em privacidade e professora da Escola da Informação da Universidade da Califórnia em Berkeley.