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Vídeo | Reprodução RPC TV
Vídeo| Foto: Reprodução RPC TV

No mês das crianças, fabricantes de brinquedos apostam em produtos cada vez mais eletrônicos, enquanto marcas de eletroeletrônicos tentam atrair consumidores ainda mais jovens. No meio desta disputa, especialistas questionam como combinar brinquedos avançados e novas tecnologias com as idades mais adequadas, para que importantes etapas da fase de amadurecimento não sejam atropeladas pelos avanços da era da internet e das tecnologias portáteis.

Diante deste assédio sobre o público infantil, educadores e pedagogos são unânimes: os pais não podem tomar a atitude drástica de isolar a criança do acesso às tecnologias, mantendo-a fora do contexto real da vida. E defendem: o uso de tecnologias na infância é importante, desde que de forma moderada e acompanhado de perto pelos pais.

Jairo Werner, psiquiatria infantil e professor de Neuropsiquiatria Infantil/Desenvolvimento Infantil da Faculdade de Medicina da Universidade Federal Fluminense (UFF), no Rio, lembra que é preciso acompanhar cada momento da criança e entender, por exemplo, que na fase pré-escolar - entre os 3 e 5 anos - as crianças devem fazer experimentações, construir relações sociais e manipular objetos, de preferência coloridos e sem recursos eletrônicos.

- Nesta fase o ato de brincar é mais importante do que o objeto em si. Brincar é dramatizar, é deixar que a criança se coloque em diferentes papéis, apreendendo atitudes com jogos criativos, livros e atividades ao ar livre. As crianças definem muito de sua personalidade nesta fase. Por isso é importante não limitar isso tudo a um equipamento eletrônico - afirma o especialista.

Já a criança que entra na fase escolar - dos 6 aos 14 anos - passa a ter como foco o conhecimento. Segundo Werner, esta é a etapa da relação com os outros, não apenas pelo prazer da interação, mas pelo entendimento de regras sociais. Neste universo, defende ele, o jogo deve estar inserido, e pode até ser eletrônico, desde que promova a interação com os adultos ou com outras crianças.

- Os recursos tecnológicos por si só não representam ameaças. O que está em questão é o desafio que os pais tem de educar a criança para ter meios de auto controle, de uma forma nem autoritária nem liberal demais, mas firme e dialogada - defende o psiquiatra infantil.

O coordenador pedagógico e diretor do Colégio Módulo de São Paulo, Wagner Sanchez, lida diariamente com crianças em fase escolar, e com seus novos hábitos de carregar pen drives e MP3 players para a escola - a geração que cresceu imersa na era do computador tem hoje entre 12 e 16 anos. Na tentativa diária de equilibrar funções de pai e de educador na moderação do uso de tecnologias, Sanchez destaca que dos 4 aos 7 anos a criança desenvolve as capacidades psicomotoras e que o ideal é andar de bicicleta, jogar futebol ou praticar esporte ao ar livre. Se adotados, os brinquedos ou recursos tecnológicos devem promover a interação com outras crianças. Softwares educativos ou um computador portátil com recursos de cálculos, jogos e brinquedos específicos ajudam a desenvolver o raciocínio lógico-matemático.

- Mas, em contrapartida, a criança precisa fazer esporte e outras atividades. Os pais podem, por exemplo, ajudar no uso de jogos de caça-palavras, na solução das questões da 'tabuada' na escola ou adotar e acompanhar softwares que estimulam o aprendizado - lembra o pedagogo, que também acumula em sua formação especialidade em tecnologia.

Wagner Sanchez lembra que quando as crianças tinham uma boneca ou um carrinho que não possuíam nenhum recurso "extra", elas criavam em cima daquele brinquedo, o que estimula a imaginação. Atualmente, as bonecas e os pequenos robôs falam, se movem sozinhos e "entendem" o que a criança fala, representando importantes evoluções tecnológica. Mas, segundo ele, em alguns casos, quando mal dosados, estes recursos podem inibir a imaginação.

- Brinquedos avançados demais, se usados em exagero e como único recurso, podem comprometer. Já os tamagotchis e aliens que dependem da criança para sobreviver ajudam no senso de responsabilidade e, de certa forma, transmitem mensagens de aceitação ao que é diferente - descreve.

Moderação

Além de moderação na hora de adotar brinquedos ou recursos tecnológicos em casa para as crianças, os pais precisam se envolver nesta escolha, entender as tendências de mercado e as funcionalidades de cada um destes objetos de desejo dos pequenos, defende Irene Maluf, psicopedagoga e presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia. Segundo ela, como já aconteceu com a TV e o rádio, alguns pais podem, equivocadamente, ter a sensação de que o brinquedo "vai suprir todas as necessidades da criança" quando, na verdade, elas curtem o recurso tecnológico enquanto ele é novidade.

- São os adultos que vão ajudar a criança a debutar neste mundo da informação. O ideal é que ela conte com um adulto que interaja com ela, com o brinquedo e crie novas relações entre o concreto e a imaginação. Mas para isso o adulto precisa mergulhar nesta relação e entender este novo universo - descreve a especialista.

Irene lembra que a tecnologia, apesar de ser um instrumento muito rico, é apenas um meio que, segundo ela, se adotado de forma moderada, ajuda a estreitar mais a relação do adulto com a criança.

- Pouquíssimas famílias sentam para curtir um brinquedo com o filho. Mas estes recursos podem promover este entendimento entre jovens e adultos. Por isso que dizemos que informatizar a escola não é oferecer computador, mas capacitar adultos e professores para criar a partir destes instrumentos, ajudando as crianças a navegarem nesta nova realidade - acrescentou.

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