Pressionada pela crise na indústria de óleo e gás, agravada pela queda na cotação internacional do petróleo e pela Operação Lava Jato, a Petrobrás vê ameaçada a curva de produção que previa alcançar 4,2 milhões de barris de óleo por dia até 2020. Sem a produção, a companhia gera menos receitas e atrasa a recuperação de suas finanças.
Preocupada, a estatal direcionou as novas licitações de plataformas para o exterior e determinou prazos mais rígidos aos fornecedores. O caso mais emblemático é o de seis unidades de produção destinadas a campos prioritários, como Lula, Entorno de Iara e Búzios, no pré-sal da Bacia de Santos. Elas ainda aguardam o resultado de uma nova licitação após o abandono do contrato, em novembro, pelo estaleiro Iesa, citado nas investigações de corrupção. Somente na área de Lula, a estimativa era de produção de 1,4 milhão de barris por dia a partir de 2017, quando dez plataformas deveriam estar em funcionamento.
Desse total, entretanto, duas estão em obras e devem operar no próximo ano. Outras quatro, previstas para 2016 e 2017, integram o pacote suspenso, à espera do resultado da nova licitação. Com uma média de 40 meses para a entrega das unidades, os projetos já estão com cronograma defasado. Parte dos equipamentos e dos módulos está retido com o Iesa, o que pode adiar ainda mais a operação.
A empresa está em recuperação judicial e a Petrobrás tem processos para reaver os módulos. A construção das plataformas, contratada em 2012, exigiu investimento de US$ 720 milhões. Os valores atualizados não foram informados pela empresa. Além das unidades para operação em Lula, o contrato abarcaria plataformas para as áreas de Entorno de Iara e Búzios, referentes aos contratos de cessão onerosa.
Riscos. O caso é também um exemplo dos impactos da corrupção nos contratos da empresa, como citou a agência de classificação de risco Standard & Poors. Em comunicado sobre o rebaixamento da nota individual da estatal, a agência avaliou que os desvios “não apenas estrangularam o financiamento ao plano de investimentos da empresa, como também enfraqueceram seus principais fornecedores, e atrasaram a construção de plataformas de petróleo que poderiam elevar a produção”.
As multinacionais que compõem o consórcio de Libra, primeira área do pré-sal a ser leiloada sob regime de partilha, já preveem o adiamento da contratação de uma unidade, prevista para o final do ano, em quatro meses. O esforço agora, segundo fontes, é ajustar com rigidez o cronograma de produção.
Em nota, a Petrobrás informou que “não paralisou, não reduziu e nem pretende reduzir o ritmo de suas obras”. Segundo a empresa, entretanto, “o cronograma de seus programas e projetos também encontra-se sob análise”. Uma definição sobre os novos prazos para as plataformas e novos investimentos para manter a curva de produção só deve ocorrer com a revisão do Plano de Negócios, após a divulgação do balanço.
Ao todo, a estatal previa em seu plano de negócios de 2014 a 2018 mais de US$ 100 bilhões para contratação de 38 plataformas, 28 sondas de perfuração, 88 navios petroleiros e 146 embarcações de apoio. Também esses investimentos estão sob risco: as sondas dependem de um financiamento para a Sete Brasil, atingida pelas denúncias de corrupção. E metade das embarcações de apoio contratadas para operar já em 2015 ainda não teve obras iniciadas.
A incerteza sobre o plano de negócios prejudica os investimentos em todo o setor. O Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshore (Sinaval) alertou, em relatório distribuído na última semana, para as “incertezas” no ambiente de negócios.
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