Detentor de participação acionária de 12,5% no capital da Aracruz, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) estava preparando sua saída do grupo controlador quando o processo de reestruturação foi atropelado pela crise financeira e pela perda bilionária da empresa em derivativos cambiais. Agora, o banco estuda formas de ajudar a reerguer a companhia sem a caracterização de uma operação de socorro.
"O BNDES não vai pagar prejuízo de ninguém, mas a Aracruz precisa continuar seus investimentos e é nessa linha que o banco vai atuar. A empresa é boa, tem Ebtida bom e boa geração de caixa", disse à Agência Estado uma fonte do banco. Uma das alternativas em estudos é a concessão de um empréstimo-ponte, tipo de financiamento no qual são liberados recursos no período de estruturação de uma operação de longo prazo. O empréstimo-ponte só é concedido pelo BNDES em casos muito específicos, sob critérios de análise do banco.
Outra alternativa em estudos é flexibilizar a parcela de participação do banco em financiamentos concedidos à empresa. O BNDES pode, por exemplo, ampliar a sua parcela no total de investimento dos usuais 70% para até 80%. Neste caso, a empresa é beneficiada com uma necessidade menor de contrapartida em cada projeto, com redução da parcela de caixa próprio.
Antes do estouro da crise financeira mundial, em setembro, o BNDES havia anunciado mudanças em quase todas as modalidades de linhas de crédito exatamente na direção inversa: com redução de sua participação. O objetivo era atender ao aumento da demanda das empresas nacionais, diante da possibilidade de insuficiência de recursos para atender a todos os projetos. Na época, o banco calculava em R$ 84 bilhões as liberações para este ano.
A situação atual da Aracruz e de outras companhias que perderam liquidez deve obrigar o banco a rever critérios. Mas, a análise será feita caso a caso, conforme já foi declarado pelo próprio presidente da instituição, Luciano Coutinho. De acordo com a fonte ouvida pela Agência Estado, o esforço do BNDES será na linha de manter, ao menos em parte, o programa de investimentos das empresas, não o de reduzir ou zerar prejuízos cambiais. "O mercado já puniu essas empresas, com desvalorização. Os acionistas da Aracruz foram punidos e o BNDES está no meio deles", ponderou.
Em outubro, a desvalorização das ações ordinárias da Aracruz já ultrapassa 50%. No ano, a queda é de 77,64%. Em setembro, dez dias antes do anúncio ao mercado, dia 25, sobre a superexposição em derivativos cambiais, a empresa havia tornado pública uma etapa de sua reestruturação acionária. A Arainvest Participações S.A. e Votorantim Industrial S.A., firmaram acordo para investimento conjunto na Companhia e na Votorantim Celulose e Papel (VCP). As duas companhias concordaram em aportar a totalidade de suas participações societárias numa holding para manter o exercício, em conjunto, do controle da VCP e da Aracruz
Foi o último fato relevante assinado pelo então diretor financeiro da Aracruz, Isac Zagury. O executivo foi afastado depois da estimativa de perda de US$ 2 bilhões em derivativos e foi substituído por Valdir Roque, da Votorantim que, neste meio tempo, suspendeu o processo de reestruturação na Aracruz. Suspenso também foi o projeto de expansão da unidade da fábrica de celulose em Guaíba, no Rio Grande do Sul, cujo investimento previsto era de US$ 2,6 bilhões.
Em questão de semanas a Aracruz passou de uma fase de preparação para entrada em um novo ciclo de crescimento para outra, de prejuízos e expectativas negativas. O resultado do terceiro trimestre - com prejuízo de R$ 1,642 bilhão, ante lucro líquido de R$ 260,9 milhões no mesmo período do ano passado - foi divulgado o dia 17 sem sequer a realização de teleconferência com executivos da empresa para análise do balanço.
"A saída do BNDES iria marcar um momento histórico para a Aracruz. Uma notícia boa para a empresa que seria comemorada pelo mercado. Infelizmente, houve o episódio financeiro e a Aracruz teve o maior viés de prejuízo dentre todas as empresas atingidas", diz a fonte do banco. Segundo ele, o caso Aracruz está sendo exaustivamente analisado. A única alternativa totalmente descartada é a assunção do prejuízo. "Não vai haver subsídio nem nada. Mas, a empresa existe. Sofre, mas continua a vida. Não podemos desistir da Aracruz que é uma bela empresa", diz.
O grupo controlador da Aracruz é formado pelos grupos Votorantim, Lorentzen e Safra, cada um com 28% de participação, além do BNDES, com 12,5%. A empresa obteve do banco dois grandes financiamentos nos últimos anos, no total de R$ 1,245 bilhão. O primeiro, de 2001, já foi todo desembolsado. O segundo, de 2006, no valor de R$ 595 milhões, ainda tem parcelas a liberar.
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