Os automóveis importados que aguardam liberação no Porto de Paranaguá ficam acomodados em locais improvisados, como nas proximidades da área de embarque de grãos; ainda será preciso encontrar espaço para pelo menos mais 2,5 mil veículos| Foto: Daniel Castellano/ Gazeta do Povo

Arrecadação

Restrição afeta caixa dos estados

Os estados que sediam portos usados para exportar e importar veículos da Argentina começam a pressionar o governo federal para agilizar a liberação das cargas. Além do transtorno provocado nos terminais, a medida causa estragos no caixa dos estados, que têm adiada a arrecadação do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Segundo uma fonte do governo do Paraná, o estado vem tentando pressionar o Ministério da Indústria, Comércio e Desenvolvimento (MDIC) sobre o assunto. A Associação Nacional dos Fabricantes de

Veículos Automotores (Anfavea), que representa as montadoras, também tem cobrado uma solução para a liberação das cargas.

A entidade, contudo, não se pronunciou sobre o assunto. (CR)

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Concessionárias ficarão sem alguns modelos

Segundo as montadoras, há possibilidade de que alguns veículos estejam em falta nas revendedoras a partir de agosto. Segundo Alain Tissier, vice-presidente da Renault do Brasil, já começa a faltar Clio, o carro mais barato da montadora. "Também é preciso lembrar que o motor que abastece a fábrica no país vizinho sai do Brasil. Se formos obrigados a diminuir a produção lá, também vamos reduzir aqui", afirma.

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Presidentes deixam solução para os técnicos

As presidentes do Brasil, Dilma Rousseff, e da Argentina, Cristina Kirchner, criaram, ontem, o Conselho Empresarial Brasil-Argentina, fórum que terá, entre os seus objetivos, resolver a questão das barreiras comerciais impostas pelos dois países desde o inicio do ano sem a interferência dos governos centrais. Os setores mais prejudicados foram o têxtil e de baterias, no caso do Brasil. Na Argen­tina, a maior prejudicada foi a indústria automobilística.

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Protecionismo custa US$ 1 bi a empresas

O protecionismo argentino já custou pelo menos US$ 1 bilhão às empresas prejudicadas pelas licenças não automáticas, segundo reportagem publicada pelo jornal O Estado de S.Paulo. As vendas dos setores afetados caíram 45% depois da adoção das licenças, de US$ 2,15 bilhão para US$ 1,18 bilhão, de acordo com a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

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Milhares de automóveis estão parados nos portos por causa do impasse das licenças não automáticas entre Brasil e Argentina. As medidas foram impostas pelos dois governos e atrasam a liberação de mercadorias no comércio entre os dois países. Estima-se que 25 mil carros estejam "presos" nos terminais portuários de Parana­guá, Santos (SP) e Vitória (ES).

Em Paranaguá há 13 mil veículos parados, o dobro da capacidade do porto – os dois pátios destinados para automóveis têm capacidade para 6,5 mil unidades. Segundo a superintendência da Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa), os veículos estão sendo acomodados em outros locais improvisados ao longo do cais, mas a situação é crítica. "Não há espaço para tantos veículos. Os carros estão aguardando em áreas que não são próprias para eles. A demora na solução do problema é preocupante", diz Aírton Vidal Maron, superintendente da Appa.

De acordo com Maron, a direção do porto terá de improvisar mais uma área para receber mais 2,5 mil veículos. "Somente um navio da Fiat, com 2 mil carros, deve chegar no próximo dia 8 a Paranaguá", afirma. Maron diz que a Fiat não costuma usar Paranaguá, mas a montadora está com problemas para achar espaço em outros terminais. A Fiat chegou a dar férias coletivas na Argentina por conta do elevado estoque de carros no país vizinho.

A Renault tem cerca de 5 mil veículos presos em Paranaguá e outros 1,5 mil a 2 mil veículos no porto de Vitória (ES), segundo Alain Tissier, vice-presidente da Renault do Brasil. "Paranaguá está lotado e Buenos Aires também. Chegamos a ter 8 mil carros bloqueados. Conseguimos liberar um pouco, mas a situação continua crítica", afirma. A medida afeta, por exemplo, as importações do Clio, carro de entrada da marca, e do sedã Fluence, ambos produzidos em Córdoba. "Regredi­mos 15 anos no comércio entre os dois países", critica.

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As restrições, embora prejudiquem principalmente os carros da Argentina, também atingem as importações do México. Estima-se que a Nissan tenha entre 2 mil e 3 mil carros presos nos portos para liberação. No porto de Santos, a Santos Brasil, que opera com um terminal privado de carros, está com o pátio com capacidade para 7,5 mil veículos cheio. A Deicmar, que também atua em Santos, tinha 1,8 mil veículos da Fiat no mês passado aguardando liberação. O porto de Vitória chegou a ter 8,5 mil veículos no seu pátio no mês passado.

Histórico

As restrições começaram em maio, quando o Brasil deixou de conceder licenças automáticas para a importação de automóveis, autopeças, pneus, produtos têxteis e de linha branca. A mudança foi uma resposta ao país vizinho, que em fevereiro passou a impor barreiras aos produtos brasileiros.

Na prática, a medida aumentou a burocracia para a importação desses produtos. Ao não conceder licença automática às mercadorias da Argentina, o governo brasileiro tornou mais lento o processo de importação. Em condições normais, o processo de nacionalização de carros e peças em solo brasileiro demora cerca de dez dias. Mas, com as licenças não automáticas, esse período pode chegar a 90 dias.

O comércio de veículos e autopeças é responsável por 50% das trocas entre os dois países, que no ano passado somaram US$ 33 bilhões.

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Aumento

As restrições ocorrem em meio ao crescimento do comércio de automóveis entre os dois países. A Argentina representa 90% da movimentação de veículos no Porto de Paranaguá. De janeiro a junho desse ano, o fluxo de automóveis aumentou 38%, para 95.203 mil carros. Em 2010 foram 190.040 mil veículos, 39% mais do que no ano anterior. Do total, 91.164 foram importados e 98.876, exportados.

O governos do Brasil e da Argentina chegaram a firmar um acordo de paz em junho, com a promessa de liberar gradualmente as licenças, mas até agora o fluxo normal não foi retomado. Procurado, o Terminal de Contêi­ner de Paranaguá (TCP) não retornou o pedido de entrevista até o fechamento desta edição.