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A desaceleração da economia, acompanhada da alta da inflação e do desemprego promete complicar as negociações salariais de 2015. A expectativa dos patrões e trabalhadores é que o cenário adverso torne mais difíceis as campanhas salariais, que se intensificam no Paraná partir de maio. No ano passado, apesar do crescimento perto de zero da economia, o baixo desemprego ainda garantiu poder de barganha aos trabalhadores.

O presidente da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias do Estado do Paraná (Fetiep), Luiz Ary Gin, afirma que apesar da apreensão, o grupo deve buscar aumento real. “Dependendo do setor, o trabalhador vai ter que lutar mais para conseguir reposição este ano. E é aí que os problemas aparecem e podem pipocar várias greve”, diz.

Nos últimos 12 meses encerrados em fevereiro, o indicador usado nos reajustes salariais, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) ficou em 7,68%, pouco abaixo da inflação oficial, medida pelo IPCA, de 7,7% no mesmo período.

Nossa avaliação é realista. Este cenário de agora impacta diretamente nas negociações e é usado como argumento para
que as conversas
não avancem.

Elias Jordão presidente do Sindicato dos Bancários de Curitiba e Região

Domingos de Oliveira Davide, presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Construção Civil de Curitiba e Região Metropolitana (Sintracon), que tem 10 mil associados, também diz que a categoria vai atrás de ganhos reais. “A negociação deve ser um pouco mais difícil este ano por conta da crise, mas a nossa sempre é. Mesmo em épocas de vacas gordas. Por isso devemos buscar novamente o aumento real”, diz. Segundo o líder, no ano passado o aumento acima do INPC foi de menos de 1%.

Apesar de grande parte das categorias de peso, como metalúrgicos e bancários, tenham como data-base o segundo semestre, as discussões das campanhas salariais já começaram. “Nossa avaliação é realista. Este cenário de agora impacta diretamente nas negociações e é argumento para que as conversas não avancem”, afirma Elias Jordão, presidente do Sindicato dos Bancários de Curitiba e Região, que representa 18 mil trabalhadores

Os bancários no Paraná vêm há pelo menos uma década alcançando ganhos reais nas negociações. Em 2014, o índice foi de 2,2%. Historicamente, o sindicato reivindica aumento de salário da inflação mais 5%.

5,9%

foi a taxa de desemprego apurada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nas seis principais regiões metropolitanas do país em fevereiro deste ano. O índice é o mais alto desde junho de 2013, quando ficou em 6%. O resultado foi ainda o mais elevado para os meses de fevereiro desde 2011, quando a taxa de desocupação estava em 6,4%.

Menos emprego e renda

O aumento da taxa de desemprego para 5,9% em fevereiro, maior índice desde junho de 2013, e o recuo da massa de renda real habitual dos ocupados no país de 2,5% são os sinais vermelhos nas negociações. Além da previsão de encolhimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 1% para este ano, segundo o último Boletim Focus.

A produção industrial também vem caindo e alcançou em fevereiro a maior queda desde julho de 2009 com 9,1%, de acordo com a Pesquisa Industrial Mensal (PIM-PF), divulgada pelo IBGE. No acumulado em 12 meses, a queda é de 4,5%.

O presidente da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), Edson Campagnolo, afirma que o principal agravante para o setor é a inflação. “O índice real tem se demonstrado muito acima do que se divulga nos números oficiais. O achatamento salarial e a perda de poder de compra do trabalhador é um problema grave que vamos enfrentar. Teremos que ter muita sabedoria. O bom senso terá de prevalecer no diálogo”, diz.

Trajetória de ganhos deve continuar, diz pesquisador

Apesar dos sinais ruins, o coordenador de relações sindicais do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), José Silvestre Prado de Oliveira, afirma que não deve haver um completo retrocesso nos aumentos salariais dos trabalhadores. “O cenário não é adverso para todos os setores da economia. Por isso acreditamos que a trajetória de ganhos deve continuar”, diz.

O pesquisador afirma que 2015 tem um grau de incertezas muito grande. “Além da questão da dimensão econômica, com projeções que indicam crescimento negativo do PIB, nós temos um cenário de dimensão política também diferente com relação a 2009, ano de crise”, afirma.

Um bom exemplo das dúvidas citadas por Oliveira é o resultado das 16 unidades de negociações coletivas em todo o país no ano passado, feita pelo Dieese. A análise mostrou que o ganho dos trabalhadores no ano passado foi, em média, 1,39% acima do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC).

De acordo com o instituto, 91,5% dos acordos tiveram aumentos acima do INPC e apenas 2,4% abaixo do índice. Em 2013, essa relação foi menos favorável para os trabalhadores, de 86,2% e 6,3%, respectivamente. “Os resultados foram melhores no ano passado do que em 2013, mesmo quando os indicadores econômicos daquele ano eram mais favoráveis”, explica.

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