A crise da Petrobras espalha insegurança entre fornecedores diretos e indiretos da companhia no Paraná. A redução nos investimentos da estatal e as dificuldades financeiras de empreiteiras citadas na Operação Lava Jato começam a afetar a carteira de encomendas e o planejamento de empresas que atuam nesse setor.
A Gazeta do Povo ouviu nove empresas do Paraná que têm contratos com a Petrobras ou de alguma forma atuam em obras da empresa. Quatro disseram já enfrentar dificuldade ou terem notado queda no ritmo de negócios da estatal. Quatro afirmaram não ter sofrido impactos e uma preferiu não comentar, alegando que as informações são confidenciais.
A maioria dos entrevistados demonstrou apreensão em relação ao futuro dos negócios com a empresa, que nas últimas semanas anunciou a meta de arrecadar quase US$ 14 bilhões com a venda de ativos e que, em diferentes ocasiões, reconheceu que vai investir menos em 2015. Conforme estimativas extraoficiais, a Petrobras cortará pelo menos 25% do orçamento deste ano, de cerca de R$ 80 bilhões. Em 2014, segundo a organização Contas Abertas, a estatal investiu R$ 81,5 bilhões, 22% menos que em 2013.
À exceção de grandes multinacionais como a Aker Solutions e a Techint, a maioria das empresas paranaenses ligadas à cadeia de petróleo e gás é de médio ou pequeno porte, e não depende exclusivamente da Petrobras para sobreviver. Além disso, o parque de fornecedores do Paraná é relativamente pequeno, o que indica que as turbulências na estatal não terão impacto significativo sobre a economia estadual.
Outro lado
A respeito da inadimplência do consórcio pela UFN III, a Petrobras informou que é legalmente impedida de realizar pagamentos a fornecedores com os quais não têm vínculo contratual direto, mas que está negociando com a Sinopec “para fazer cumprir os débitos contraídos pelas empresas locais”. A estatal disse estar refazendo o cronograma da UFN III, cujas obras estão paradas desde dezembro.
Transtornos
No plano individual, no entanto, a crise da estatal já causa transtorno. A revendedora de materiais elétricos WK Distribuidora, de Curitiba, tem mais de R$ 1 milhão a receber dos consórcios construtores da Unidade de Fertilizantes Nitrogenados III (UFN III), em Mato Grosso do Sul, e da Refinaria Abreu e Lima (Rnest), em Pernambuco. O valor, pendente desde setembro, corresponde a cerca de 15% do faturamento anual da WK.
“Sempre vendemos de olhos fechados para a Petrobras ou as empreiteiras. E agora tivemos que buscar empréstimos para não quebrar”, diz Anderson Klug, diretor da WK. Segundo ele, as empreiteiras estariam com dificuldades para receber aditivos da Petrobras. No caso específico da UFN III, a estatal rescindiu contrato com o consórcio formado por Sinopec e Galvão Engenharia justamente porque ele não estava pagando fornecedores e trabalhadores.
Segundo a Araubras, empresa de Araucária que está prestando serviços de montagem e manutenção para a Transpetro e a refinaria de São José dos Campos (SP), a Petrobras está levando mais tempo para avaliar serviços prestados antes de pagar os responsáveis. E, segundo o proprietário, Paulo Onuki, a Petrobras também está lançando menos licitações. “É menos oportunidade de trabalho”, diz.
A curitibana RS Engenharia Elétrica, que produz e instala materiais para infraestrutura elétrica, relata que algumas atividades programadas pela Petrobras e suas fornecedoras têm sido adiadas. A empresa está atuando na Repar, em Araucária, e em um estaleiro em Rio Grande (RS). “Atividades previstas para este semestre foram postergadas ou estão em análise”, diz Paulo Rogério, da área comercial da RS.
A Praxair Surface, de Pinhais, ainda não sentiu o impacto da retração da Petrobras, mas sabe que ele não deve tardar. A empresa faz revestimento de superfícies para fornecedoras da estatal. “Sabemos que encomendas para 2015 agora vão ficar para 2016 ou 2017”, reconhece o gerente de vendas da empresa Nelson de Oliveira.
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